A Petrobras é a maior vítima da Lava Jato

Por Tadeu Porto

Se aquelas letras BR na claquete verde e amarela falassem, certamente seria uma cena muito parecida com a do clássico Poderoso Chefão I, quando Don Vito Corleone descobre que seu querido Sonny (nosso né? Impossível não gostar dele) sofreu um tipo de revés.

Isso porque a empresa sofre muito com as consequências de uma investigação mal conduzida e explicada. Para já lançar mão da epígrafe: ela é a grande vítima da Lava Jato e os fatos que descobrimos a cada avanço da operação, por mais política e sórdida que seja, demonstram isso. 

Claro, muitos podem pensar que é uma tática já pensada para derrubar a empresa que tem muito sucesso na recuperação de um petróleo extraído de um lugar inédito (pré-sal para quem não sabe, infelizmente muita gente). Afinal, as escutas clandestinas da NSA são reais, os lobbies das demais petrolíferas também. Mas não quero tomar um rumo de “teoria da conspiração” nesse texto, por isso vou tentar apresentar outro viés.

Em primeiro lugar, a Petrobras recebe dinheiro da investigação, ela não devolve nada. A toda poderosa SBM, gigante em construção de plataformas, oriunda do desenvolvido e invejado velho mundo, irá devolver nada mais nada menos que um bilhão de reais a nossa petrolífera. Não só ela, também devolveram Barusco e Paulo Roberto Costa, funcionários de carreira da empresa (todos os empregados presos até agora são velhos quadros oriundos da companhia).

Se a Petrobras tivesse roubado alguém, estaria pagando e não recebendo dinheiro de volta. É praticamente impossível você lesar alguém e, num processo de justiça, ainda ser ressarcido. Isso é um fato dificílimo de negar, apesar do senso comum querer acreditar num mundo diferente, onde estatais roubam as pobres coitadas vítimas do mercado.

Em segundo lugar, por que a empresa foi vítima clara de um cartel que, pela lei, é um conluio praticado por concorrentes sem participação da contratante. Cada grande obra da nossa operadora do pré-sal foi estipulada de maneira distorcida, e não há provas (e acho muito difícil que encontrem no futuro) de que todas as gerências da empresa estavam envolvidas nas negociatas. Apenas alguns pouquíssimos funcionários – tendo em vista o tamanho da empresa – com um conjunto de mega executivos foram capazes dos malfeitos até agora desvendados.

Por último, e certamente não menos importante, não bastasse apanhar igual o Seiya de Pégaso em qualquer batalha do Cavaleiros do Zodíaco, a empresa ainda vê uma sanha entreguista, e extremamente oportunista, querer tirar dela a maior descoberta da história recente do mercado petrolífero. São os PLS 131 do José Serra (esse é entreguista de profissão mesmo) e o PL 6726 do deputado Mendonça Filho, do DEM, pra variar.

Quer dizer, a companhia é sabidamente lesada e como consequência perde a prerrogativa de usufruir de uma revolução que ela mesma ocasionou, deixando o caminho aberto para o mercado que, adivinhem, prejudicou-a.

O sentimento que eu tenho ao terminar de escrever esse texto é de que é extremamente surreal assistir a esse tipo de entrega, pautada num golpe sujo e rasteiro à soberania nacional.

Penso que eu deveria mesmo era ter escrito sobre a teoria da conspiração… Acho que eu encontraria algo mais lógico.

P.s: Um agradecimento especial ao professor Dr. Giorgio Romano, da UFABC, cujas palavras me inspiraram a escrever esse texto!

Tadeu Porto é diretor do Sindipetro-NF (Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense)

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