Por Carlos Eduardo, editor assistente do Cafezinho
Há alguns meses atrás, assistindo ao Real Time with Bill Maher, na HBO, vi a entrevista de um jovem escritor chamado Charles C.W. Cooke, que lançou neste ano seu primeiro livro — O Manifesto Conservantista: Libertários, Conservadores e a Luta pelo Futuro da Direita (tradução livre para The Conservatarian Manifesto: Libertarians, Conservatives, and the Fight for the Right’s Future).
Formado em história e ciência política pela Universidade de Oxford, Cooke é um típico liberal conservador. Grande defensor da 2a emenda à constituição norte-americana — aquela que protege o direito do povo de manter e portar armas — ele acredita que o Estado não deve interferir nos direitos individuais do cidadão e compartilha dos ideais republicanos.
No entanto, por ser relativamente novo, seu discurso é muito voltado para os jovens que votam no Partido Republicano e tem entre 18 e 29 anos, por este motivo suas entrevistas e participações nos debates políticos sobre a corrida presidencial americana vem chamando minha atenção.
Mesmo sendo republicano, ele foge completamente ao estereótipo que se criou em torno dos republicanos: do homem branco ultraconservador, racista, preconceituoso com os imigrantes hispânicos e contra todo e qualquer avanço social, como o casamento homossexual, o direito das mulheres ao aborto e a legalização da maconha.
Pelo contrário.
Cooke é um liberal conservador, no sentido econômico do termo, mas muitas de suas posições pessoais poderiam perfeitamente serem descritas como libertárias — por exemplo, quando ele diz ser a favor do casamento homossexual e da legalização da maconha, pois isto implicaria em escolhas individuais, no qual o Estado não deve se intrometer.
No “Manifesto Conservantista”, Cooke explica que o futuro do Partido Republicano está na união dos liberais conservadores com a nova juventude libertária. O termo “conservantista”, inclusive, surgiu em 2006 durante a administração Bush e era utilizada por republicanos que não concordavam com o rumo do partido, por isso não queriam ser associados aos conservadores, como explica o autor .
Discípulo do pensamento liberal do economista Milton Friedman, Cooke acredita que os republicanos devem restabelecer-se como o “partido da liberdade”. Para ele não há outra saída: ou o Partido Republicano começa a dialogar com os jovens e mostrar tolerância com os movimentos sociais, ou será taxado pela nova geração como o partido dos brancos e ricos.
Além do Real Time with Bill Maher, também costumo assistir outros programas do gênero, que mistura humor e política, a TV americana é repleta deles. The Daily Show with Trevor Noah, The Nightly Show with Larry Wilmore, Last Week Tonight with John Oliver, The Late Show with Stephen Colbert e Rachel Maddow Show são alguns, e todos vêm levantando a mesma questão nas últimas semanas.
Com Donald Trump liderando as primárias republicanas, qual será o futuro do partido republicano?
A charge escolhida para ilustrar esse post representa bem esse sentimento. Para muitos analistas, a vitória de Trump como candidato republicano à presidência dos Estados Unidos arruinaria completamente a imagem do partido, já bastante desgastada, principalmente depois da tentativa insana de boicotar o Obamacare – nome que foi dado ao programa do presidente Barack Obama de criar um plano de saúde de baixo custo, financiado pelo Estado, para fornecer saúde pública àqueles que antes não podiam pagar por um plano particular.
O Partido Republicano passaria a ser conhecido como o “Partido de Trump”, o homem que insulta imigrantes, negros, mulheres e qualquer um que cruzar seu caminho.
O Futuro do PSDB
Observando esse debate nos EUA é possível fazer uma associação com a atual situação do PSDB, que, convenhamos, não é lá muito diferente.
Desde a eleição de Lula, o PSDB se posicionou contra todos os programas sociais do PT, e em particular o Bolsa Família, que os tucanos colocaram a alcunha de Bolsa Esmola. Logo eles que tem “social-democracia” no nome da legenda, mas que na prática nunca implementaram um governo social-democrata.
Ao longo dos últimos doze anos, o PSDB fez uma oposição arrogante e muitas vezes preconceituosa, principalmente contra os nordestinos. Tudo isso culminou para que o PSDB fosse rotulado como o partido das elites e da classe média branca do eixo Jardins/Leblon.
A liderança de Aécio Neves no partido só fez piorar as coisas. Se antes o PSDB já era tido como reacionário e entreguista, agora também tem a fama de golpista. Resultado: hoje a única agenda dos tucanos é o impeachment e o anti-petismo irracional.
Portanto, qual será o futuro do PSDB depois que todo esse movimento pelo impeachment da presidente Dilma acabar? Se a mídia brasileira não fosse tão alinhada com os tucanos, certamente seus jornalistas estariam fazendo a mesma pergunta.
Não há outra saída para o PSDB: ou aceita o jogo democrático e inicia uma oposição responsável, ou será taxado para sempre de partido golpista, que desrespeita a decisão soberana do povo e não aceita a derrota nas urnas. A sorte dos tucanos é que no Brasil a grande mídia é tão reacionária, entreguista e golpista quanto eles.
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Abaixo segue um pequeno trecho da participação de Charles C. W. Cooke no programa de Bill Maher.