Por Lia Bianchini, repórter especial do Cafezinho
Em 2007, o jornal britânico The Guardian indicava uma ministra brasileira como uma das 50 pessoas que poderiam ajudar a salvar o mundo. Sete anos depois, ela, então ex-ministra, estava em sua segunda candidatura à presidência da República, discursando sobre salvar o Brasil.
Com 22,1 milhões de votos sob a legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB), nas eleições de 2014, Marina Silva reapareceu no cenário político brasileiro como uma alternativa ao embate polarizado “PT x PSDB” e à “velha política fisiologista”.
Em um cenário de crise política e crise de representatividade dos partidos tradicionais brasileiros, seu discurso ganhou força. Empenhada no movimento “nova política” desde 2011, Marina Silva conseguiu, finalmente, em setembro de 2015, o registro para seu partido Rede Sustentabilidade, com o total de 498 mil assinaturas.
Ao mesmo tempo em que ganha adeptos, porém, o “partido sem partido” de Marina Silva desperta dúvidas. Quais são as bandeiras da Rede? Quais são as propostas para a política brasileira? Que nova política é essa? O que é a Rede?
Quem começa tentando explicar a necessidade de surgimento do partido é um de seus entusiastas, o vereador Jefferson Moura, apontado por Marina Silva como um dos nomes fortes da Rede no Rio de Janeiro para as eleições municipais de 2016. “No ano de 2011, foi iniciado o movimento chamado “nova política”, em que diversos atores políticos e sujeitos políticos iniciaram um diálogo sobre a necessidade de rediscutir a ferramenta “partido” no Brasil e o instrumento partidário, além de dialogar um pouco sobre os rumos e as perspectivas de desenvolvimento do país”, explicou Moura.
Em recente entrevista ao programa web “Fluxo”, Marina Silva explicou que a Rede pretende reconfigurar a política de modo a atender à demanda que surge das novas formas de ativismo. “A Rede nasce da perspectiva de dar uma contribuição para esse novo ativismo, que eu chamo de ativismo autoral. A gente vem de uma tradição do ativismo dirigido pelo partido, pelo sindicato, pelas lideranças carismáticas, aonde todo enfoque era dado ao coletivo, mas todos os louros eram atribuídos às estruturas e aos indivíduos. No ativismo autoral, o enfoque é dado no coletivo e as estruturas têm que servir de suporte para a ação do coletivo”, disse.
Ainda segundo Marina, o partido busca criar mecanismos que superem a volatilidade do ativismo político atual. “A dificuldade é que no ativismo autoral você tem uma ação muito pulverizada em termos de projeto. Você corre o risco da fragmentação, do hedonismo, de não pensar em projeto coletivo. Então, nós queremos criar o que eu chamo de uma superfície de sustentação. Entender quais são as novas redes desse ativismo autoral que estão se configurando e precisam ganhar força no sentido de ter uma ação coletiva, interesse público, criar novos processos, novas estruturas em cima de uma visão que ajude a atualizar a política. Esse é o nosso esforço”, destacou.
Em sua bancada no Congresso, a Rede conta com nomes conhecidos do eleitorado brasileiro, como o deputado ex-petista Alessandro Molon, atual líder do partido na Câmara dos Deputados, e o Senador Randolfe Rodrigues, antigamente filiado ao PSOL. O partido recebeu também, recentemente, as filiações dos deputados Aliel Machado e João Derly (ambos ex-filiados ao PC do B). A Rede conta, agora, com cinco deputados e um senador no Congresso, além de 12 vereadores distribuídos por cidades brasileiras.
Em sua carta justificando a saída do Partido dos Trabalhadores, Molon dizia ser contrário aos caminhos que o partido vem tomando e ter tentado, em vão, muda-los. O deputado escreveu, ainda, que iniciaria na Rede uma nova caminhada entusiasmada e otimista, apostando no Brasil.
A exemplo de Molon, os novos filiados da Rede têm se caracterizado por advirem de partidos considerados ideologicamente de esquerda. No entanto, é consenso na Rede que tal termo não pode ser aplicado ao partido. “A gente está rediscutindo o que é campo ideológico no Brasil, hoje. E discutir esse cenário é delicado. A Rede tem uma concepção de ter posição política, no entanto, sem o compromisso com esse rótulo. Até porque, no Brasil, hoje, não dá para dizer o que é esquerda e o que é direita”, afirmou o vereador Jefferson Moura.
Ainda de acordo com Jefferson Moura, entre os ideais dessa “nova política”, a Rede defende, principalmente, o desenvolvimento sustentável e o respeito ao meio ambiente, além de reafirmar pautas de incentivo às políticas sociais e à afirmação dos direitos humanos. Nas bases programáticas do partido já estão pautas como o financiamento público de campanha, o teto para doações e o limite de mandatos parlamentares.
Nos dias 27, 28 e 29 de novembro deste ano, a Rede fará um encontro nacional para discutir os programas e as estratégias a serem traçados para as eleições municipais de 2016. Por enquanto, não existem nomes fechados para concorrer a prefeituras pelo partido. “Não estamos fazendo um esforço quantitativo. Não vamos subornar a nossa estratégia de criação da Rede a lançar candidatos indiscriminadamente, já pensando em fazer base para 2018. Existe a intenção de incidir naquilo que for programaticamente compatível. A Rede não pode ser apenas um projeto eleitoral”, destacou Marina Silva.
Quando o assunto é candidatura às eleições presidenciais de 2018, Marina Silva se esquiva. “A pergunta que eu me faço é como eu dou a maior contribuição para todas essas ideias com as quais eu estou envolvida. Eu não tenho como objetivo de vida ser presidente do Brasil. Eu tenho como objetivo que o Brasil seja um lugar bom para se viver”.
Ao que tudo indica, a população brasileira só conseguirá entender, de fato, a que veio a Rede quando suas teorias começarem a ser postas em prática, talvez nas próximas eleições. Até lá, tudo que existe são partes de um quebra-cabeça.