Por Carlos Eduardo, editor assistente do Cafezinho
Vejam que ironia. A Folha, sempre à frente do golpe, reconheceu nesta quarta-feira (14) que o impeachment já começa a perder força.
Segundo a reportagem, com medo de perder o mandato, Eduardo Cunha já estaria prometendo ao governo arquivar todos os pedidos de impeachment, enterrando de uma vez por todas às tentativas golpistas da oposição. Em troca o PT não iria apoiar a cassação de seu mandato no conselho de ética da Câmara dos Deputados.
Agora essa história toda me deixa com muitas dúvidas. Vale à pena o PT ajudar Eduardo Cunha? Como ficará a imagem do partido? Até que ponto interessa esse pragmatismo do governo de deixar tudo como está, em nome da “governabilidade” do país? Tudo bem que o PT não é culpado pela eleição de Cunha, isso foi obra dos cariocas, mas daí apoiar sua manutenção na presidência da Câmara são outros quinhentos.
E o PT é um partido tão heterogêneo, que no fundo Cunha não tem garantia de nada. Dos 62 deputados petistas no Congresso, 32 já assinaram individualmente o pedido de cassação encaminhado pelo PSOL e Rede.
Abaixo trechos da matéria.
Cunha negocia com governo, e oposição vê impeachment perder força
Por Ranier Bragon, Marina Dias, Valdo Cruz e Débora Álvares, na Folha
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), iniciou nos últimos dias uma negociação com o Palácio do Planalto e com lideranças do governo na Câmara para tentar salvar seu mandato. Em troca, ele se comprometeria a não dar o pontapé inicial em um processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
As conversas de bastidor giram em torno de dois pontos, principalmente, segundo a Folha apurou.
O primeiro deles é a garantia pelo governo e pelo PT de que não irá prosperar, a ponto de chegar ao plenário da Câmara, o pedido de cassação de Cunha feito pelo PSOL e pela Rede, que começará a tramitar na semana que vem no Conselho de Ética da Casa.
O conselho tem 21 integrantes, sendo 9 do bloco comandado pelo PMDB de Cunha. Somados os 7 do bloco liderado pelo PT, chegaria-se a uma ampla maioria, com 16, mais do que suficiente para barrar a investigação contra o presidente da Câmara.
Cunha tem apelado a aliados e ao governo no sentido de que não seja aprovada a cassação no colegiado. Se isso acontecer, o parecer vai ao plenário da Câmara, em votação aberta, o que deixa a situação fora de controle na visão do parlamentar. Para que haja a cassação, é preciso do apoio de pelo menos 257 dos 512 colegas de Cunha.
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Oposição
Integrantes da oposição dizem que a tentativa de acordo está claramente em curso. Nesta quarta-feira (14), alguns já demonstram descrença de que Cunha vá autorizar a tramitação de um pedido de impeachment contra a petista.
Na visão deles, o presidente da Câmara tem chance bem maior de salvar o mandato em acordo com o governo do que em acordo com a oposição, com quem estava bem mais alinhado nos últimos meses.
A esperança manifestada por alguns é a de que o PT não entregue o que Cunha estaria exigindo. Nesta terça, por exemplo, líderes petistas conseguiram evitar o apoio institucional da bancada do partido ao pedido de cassação de Cunha, mas mesmo assim 32 dos 62 deputados petistas assinaram individualmente o pedido do PSOL e da Rede.