O viés partidário e golpista da Lava Jato

O artigo de Luis Nassif reforça uma denúncia que está à vista de todos.

Zaffaroni, um dos maiores juristas da América Latina, chamou a Lava Jato de “golpe de Estado“.

O Cafezinho entrevistou, há algumas semanas, o jovem advogado Wallace Martins, que falou a mesma coisa: a Lava Jato consolida, no sistema penal brasileiro, a seletividade política. Investiga-se e condena-se, mas somente quando se constrói uma narrativa política e midiática que detona um lado.

O objetivo é destruir o campo político que reduziu as desigualdades, aumentou os salários, implementou grandes programas sociais, ousou dar dignidade e esperança à maioria do povo.

Como prêmio a tudo isso, a direita brasileira, dessa vez amparada pelos estamentos judiciais, como outrora o foi pelos estamentos militares, quer promover uma vingança política.

O povo não pode ser feliz. Não pode ter orgulho.

Não pode enfrentar o patrão, pedir demissão e mudar de emprego.

A história retratada pelo filme “Que horas ela volta?” não pode se repetir na realidade.

O povo tem de ser enjaulado, humilhado, demitido.

O povo tem de sofrer a crise, pagar pela crise, porque ousou votar em Lula, maior liderança popular da nossa história.

A liderança do povo, Lula, tem de ser retratado como prisioneiro, um boneco gigante, e a humilhação simbólica deve ser escoltada pelo poder armado da polícia.

***

A Lava Jato tem lado

Por Luis Nassif, em seu blog.

Há um grande mérito na Lava Jato e uma grande interrogação.

O mérito foi o de ter, pela primeira vez, investigado uma das fontes centrais históricas do poder político brasileiro: as grandes empreiteiras de obras públicas.

A dúvida é o filtro político que impôs às investigações.

Para tentar entender:

1. A Lava Jato pretendia manter sob suas asas todos os inquéritos resultantes das delações negociadas até agora.

2. Há personagens centrais na Lava Jato: do lado dos beneficiários, gerentes e diretores da Petrobras e operadores do PT e do PMDB. Do lado dos pagadores, as empreiteiras.

3. A Lava Jato derivou para o setor elétrico, apurando os desvios da Eletronuclear.

4. Ora, o que Petrobras e Eletrobras têm em comum, para permitir à Lava Jato avançar sobre o setor elétrico? As mesmas empreiteiras.

O ponto em comum que unifica tudo, portanto, são as empreiteiras, seu modo de operar, seus subornos e financiamentos de campanha.

Sendo assim, qual a razão da Lava Jato ter deixado de fora governos tucanos?

A maior contribuição da UTC foi para a campanha de Aécio Neves. A grande obra da UTC em Minas foi o Centro Administrativo. Em São Paulo, as mesmas empreiteiras participaram de obras do Rodoanel e das parcerias para administrar as estradas paulistas.

No entanto, nenhum dos bravos delegados e procuradores, o imbatível juiz Sergio Moro tiveram a curiosidade de perguntar aos delatores sobre o financiamento à campanha de Aécio e para políticos paulistas.

Não há álibi técnico ou jurídico que possa justificar a desatenção do grupo em relação aos malfeitos dos réus com governos tucanos.

Na fase das investigações, especialmente ao colher os depoimentos dos réus e delatores, todos os temas relacionados às suspeitas de suborno por parte das empreiteiras são relevantes. Se surgirem indícios de cometimento de crimes em outras esferas, encaminha-se a denúncia para o STF (Supremo Tribunal Federal) (se for de réu com prerrogativa de foro) que decidirá se cabe um novo inquérito ou se a investigação será no bojo do mesmo.

Se a intenção é passar o país a limpo, tendo ao seu dispor pessoas dispostas a delatar, qual a razão da Lava Jato não ter aberto o leque para todos os partidos? A desculpa de não perder o foco não bate. Se não surgir outra Lava Jato, os segredos dos doleiros e delatores morrerão com eles, debaixo do nariz da tropa de 360 procuradores e técnicos que o MPF colocou à disposição.

Por tudo isso, pelo fato do Procurador Geral da República Rodrigo Janot ter poupado Aécio Neves das denúncias do doleiro Alberto Yousseff sobre Furnas, de jamais ter tirado da gaveta o inquérito sobre a conta no paraíso fiscal de Liechtenstein, pelo fato de procuradores e delegados jamais terem se preocupado com a questão óbvia de investigar outros partidos políticos, não há a menor dúvida de que a Lava Jato tem lado. O mesmo lado de Gilmar Mendes.

Os bravos procuradores sequer se preocupam em justificar essa seletividade, como se o assunto não existisse.

Mas há um cadáver no meio da sala de jantar. E não haverá como escondê-lo para sempre.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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