Por Carlos Eduardo, editor assistente do Cafezinho
A reforma ministerial da presidenta Dilma Rousseff avançou nesta quarta-feira (30), com a confirmação de que Aloizio Mercadante será substituído por Jacques Wagner na Casa Civil.
Entre os apoiadores do governo Dilma a notícia foi bem aceita. Mercadante tem fama de desagregador e dizem que muitos dos conflitos entre o Planalto e a Câmara eram causados por sua falta de tato na articulação política.
O que segue em aberto são os ministérios destinados ao PMDB, que sairá da reforma mais fortalecido do que nunca. O anúncio oficial será divulgado nesta quinta-feira (1) e com isso Dilma espera conquistar definitivamente a maioria no Congresso, garantir a governabilidade e espantar de vez o fantasma do impeachment.
O problema é que Eduardo Cunha e oposição não dão sinais de que irão sossegar enquanto não destruírem por completo o governo, mesmo que para isso seja necessário jogar o país em uma crise profunda.
Como alerta o jornalista e cientista político Matheus Pichonelli, em sua coluna no portal Yahoo!, “o rearranjo ministerial é a compra, sem qualquer garantia, da governabilidade a um mandato que não começou”.
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A reforma ministerial e a venda (sem garantia) da governabilidade
Por Matheus Pichonelli, no Yahoo! Notícias
Em oito anos de governo Lula, Aloizio Mercadante, um dos principais quadros do PT no período, jamais foi nomeado ministro. O agora ex-braço-direito de Dilma Rousseff tinha uma explicação para o desencontro: entre 2003 e 2010, a incumbência dada a ele pelo ex-presidente era trabalhar, estrategicamente, na liderança do governo no Senado.
Na versão acredita quem quiser, mas a ascensão controversa de Mercadante no governo Dilma dá a noção das diferenças de propostas da presidenta e de seu antecessor. Duas vezes derrotado na disputa pelo governo paulista, o ex-senador chegou à Esplanada como ministro da Ciência e Tecnologia e, pouco depois, da Educação.
Professor licenciado de Economia da PUC-SP e da Unicamp, Mercadante foi alçado a gerente do governo em janeiro de 2014, quando Gleisi Hoffman, então titular da Casa Civil, foi cuidar da campanha (fracassada) ao governo do Paraná.
A dobradinha Dilma-Mercadante alimentou, a partir de então, relatos diários sobre conflitos entre aliados dentro do governo e fora dele. A imagem da suposta (e noticiada) má vontade da dupla em relação ao PMDB, que se articulava para tomar o controle do Congresso antes de avançar sobre o governo, foi flagrada em fevereiro deste ano pelo fotógrafo Sergio Lima, da Folhapress, quando Mercadante estendeu, em aparente contragosto, a mão em cumprimento a Eduardo Cunha, que acabava de se eleger presidente da Câmara.
Cunha jamais engoliu o esforço do governo em barrar a sua ascensão, que se solidificava à revelia das suspeitas de seu envolvimento na Lava Jato (até agora, nada menos do que cinco investigados citaram as suas digitais nos crimes apurados).
Quando a relação azedou de vez, o vice Michel Temer tentou atuar como bombeiro ao assumir para si a articulação política, mas Mercadante seguiu, sempre segundo o noticiário, como o contraponto da distensão. Em quase dois anos, o ex-senador já não tinha apoio de qualquer ala peemedebista, e passou a ser fritado por colegas do próprio PT. Agora entende-se por que Lula, aparentemente pouco simpático ao ex-senador, jamais o nomeou ministro.
Em pouco tempo, a antipatia da base aliada com a dupla Dilma-Mercadante virou aversão e a aversão, um gatilho para introjetar, entre as fileiras de deputados inimigos e apoiadores pero no mucho, a tese de impeachment. Dissolvida, a base parlamentar deixava de servir como barreira de segurança da presidenta à medida que a crise econômica avançava, Dilma se contrariava, sua popularidade definhava e os grupos oposicionistas se organizavam e tomavam as ruas.
O enfraquecimento de Dilma era a hora certa para o PMDB aumentar o pedido de resgate e remover do caminho um dos últimos obstáculos de suas pretensões. A aposta do Planalto agora é que Jaques Wagner, substituto de Mercadante na Casa Civil, sirva como aparador dos pontos de tensão. Um deles começa a ser desmontado: em troca do cessar-fogo, a ala peemedebista da Câmara está prestes a levar o Ministério da Saúde, cujo antigo titular, Arthur Chioro, acaba de ser demitido por telefone. Em seu lugar deve assumir um novato cuja principal credencial é ser amigo de Eduardo Cunha, a quem Mercadante (que deve voltar para a Educação) dera as mãos a contragosto. (leia mais aqui)
O rearranjo ministerial, agora costurado por Lula, é a compra, sem qualquer garantia, da governabilidade a um mandato que não começou.