Análise Diária de Conjuntura – 24/09/2015
A reforma ministerial, cujo anúncio oficial foi adiado para semana que vem, trouxe uma novidade que, talvez, pode ser boa para os militantes pela democratização da mídia, esse tema do qual o governo foge igual diabo foge da cruz.
Digo talvez porque é preciso esperar iniciativas concretas antes de qualquer comemoração. No atual momento, já seria uma grande vitória se houvesse no governo ao menos um quadro com mínimo de preparo intelectual para enfrentar o tema com a inteligência que ele merece.
A novidade é a nomeação de um brizolista, o deputado federal André Figueiredo (PDT-CE), líder da bancada de seu partido na Câmara, para o ministério das Comunicações.
Segundo o JB, “Figueiredo comanda o PDT do Ceará, que vem sendo recordista de votos nas eleições, tem postura irrepreensível na liderança do partido na Câmara, ainda segundo seus pares, e foi fundamental para a ida do grupo de Ciro Gomes para a legenda.”
Dilma viaja hoje para Nova York, onde fará o discurso de abertura na Organização das Nações Unidas (ONU).
Esse discurso, em virtude da crise política doméstica, ganha uma dimensão especial. Era hora de fazer um grande discurso, daqueles históricos, reunindo originalidade, poesia e coragem.
É o tipo de coisa que não custa nada. O Brasil tem milhares de escritores desempregados. O governo federal bem que podia empregar alguns para escrever os discursos de Dilma. Custaria bem mais barato do que distribuir ministérios para os deputados da base.
No Painel da Folha, anuncia-se que o PMDB vai lançar mais um de seus comerciais políticos destrambelhados, fazendo um jogo duplo: um braço estendido para o golpismo coxinha (Cunha), outro prometendo garantir a estabilidade (Leonardo Picciani).
Temer fica no meio, mas rodeado de simbolismos sinistros sobre “unificação do país”.
Uma lástima.
Assistir Eduardo Cunha dizendo que “chegou a hora da verdade, chegou a hora de escolher o Brasil que queremos” dá vontade de rir de nervoso.
Curioso ainda é a observação que a jornalista da Folha antepõe ao nome de Eduardo.
“E coube a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, rompido com o governo Dilma (…)”
Ora, e quando Cunha não foi rompido com o governo Dilma? O tal “rompimento”, todos sabem, foi apenas uma jogada de marketing para desviar os holofotes de seu envolvimento com a corrupção na Petrobrás.
Aliás, os jornais trazem ainda mais notícias relacionado Cunha a esquemas de corrupção. Politicamente, Cunha ainda está muito fragilizado, e a recondução de Rodrigo Janot para o cargo de Procurador Geral da República, o mantém com uma espada de Dâmocles sobre sua cabeça que o tem feito baixar bastante a bola.
O clima na Câmara continua bastante pesado. E o dia foi quente e ainda deve fornecer bastante material interessante. Silvio Costa (PSC-PE), vice-líder do governo na Câmara, chamou de bandidos os deputados que pedem o impeachment da presidenta. Não sei se o destempero de Costa ajuda ou atrapalha, mas é um alívio saber que, ao menos, a base social de Dilma tenha na casa uma voz que expresse o que ela sente.
O PT e o PCdoB, por sua vez, iniciaram uma luta regimental para frear e adiar ao máximo a votação pelo impeachment. A foto da notícia da Agência Câmara é uma foto do deputado Wadih Damous (PT-RJ), que se tornou uma espécie de liderança virtual do partido na Câmara, sobretudo no campo do embate político mais duro.
Há uma infinidade de recursos disponíveis ao governo para barrar a iniciativa da oposição, a qual só poderá ter esperanças de sucesso se o presidente da casa, Eduardo Cunha, pôr todo o seu talento como prestigitador regimental em prática. E isso acabará fazendo com que o golpe tenha cara de golpe, o que dificultará a vida da mídia, que é a líder secreta de todo esse processo.
Leonardo Meirelles, um dos principais laranjas de Alberto Youssef, prestou depoimento hoje na CPI da Petrobrás, e confundiu o meio de campo.
Meirelles é uma figura incômoda para a mídia e para as conspirações judiciais, porque em sua delação ou depoimento declarou que Yousseff lavava dinheiro para o PSDB, chegando a praticamente nomear o senador Álvador Dias.
Alguns deputados também estranharam o fato do juiz Sergio Moro recusar uma acareação entre Meirelles e Yousseff. Ambos tem versões contraditórias entre si, o que prejudica a operação Lava Jato, cuja narrativa se baseia essencialmente em delações premiadas.
Entrei no site da Polícia Federal e pensei uma coisa. Já que o ministro da Justiça não tem pulso para botar ordem na casa e mostrar quem manda, pelo menos poderia investir num site que reunisse, em infográficos: estatísticas sobre as operações policiais da instituição, número de delegados e policiais, investimentos feitos em equipamentos, etc, para podermos acompanhar mais de perto a evolução da Polícia Federal nos últimos anos.
Os deputados aprovaram medida que protege a saúde dos estados e municípios da limitação de transferência de recursos.
É uma medida que tira poder do governo federal, e é boa por causa disso. Protege a saúde pública local da tesoura do Joaquim Levy.
A briga entre Câmara e Executivo tem seu lado bom: aumentou a independência, inclusive financeira, do Legislativo, e agora caminha para elevar a autonomia de estados e municípios.
O golpômetro caiu dois pontos hoje, apesar das notícias ruins da economia. A crise, paradoxalmente, ao mesmo tempo que corrói a popularidade da presidenta, ajuda a pôr juízo na cabeça de alguns deputados. O momento não é de aventuras e de criação de novos focos de instabilidade política.
O IBGE divulgou hoje que o desemprego subiu 0,1 ponto em agosto, para 7,6%. Diante do terrorismo econômico, da crise política, da truculência do Banco Central, é um aumento insignificante, prova de resistência da economia brasileira. E a renda real aumentou um pouquinho (0,5%) no mês, embora ainda 3,5% abaixo do ano anterior.
E não tem porque tirar a presidente pelo lado do “mercado”, já que Dilma está fazendo exatamente tudo que o mercado exige dela: pôs Levy, um homem do mundo financeiro, para reger a economia, deu autonomia para o Banco Central elevar os juros; e, no campo da corrupção, continua apostando todas as suas fichas na autonomia das instituições, ao preço altíssimo de oferecer seu próprio partido como carne de sacrifício às conspirações midiático-judiciais.
O PT, ao menos, teve uma boa notícia esses dias, embora a sua repercussão seja mais uma prova da cafonice colonizada da sociedade brasileira. O Wall Street Journal chamou Haddad, prefeito de São Paulo de “visionário” em políticas urbanas.
A tendência, porém, é que o golpômetro oscile para alto e para baixo, de maneira bastante volátil, até meados do ano que vem, ou quiçá até o fim do governo. Amanhã, sexta-feira, poderá subir um pouco, a partir dos escândalos habituais de fim de semana. Mas poderia ser neutralizado por um bom discurso de Dilma na ONU.
Pode cair ao longo da próxima semana, em virtude da reforma ministerial, que ocupa a pauta política com notícias positivas. E deve enfrentar o seu grande pico em outubro, após a votação das contas do governo pelo TCU, fato que a mídia, os golpistas de rua e da Câmara, ampliarão ao máximo para usar como principal investida em prol do impeachment.
Em tese, porém, o TCU não derruba presidente; caso contrário, dois terços dos prefeitos e governadores brasileiros cairiam na sequência. Mas golpe é golpe e tudo pode acontecer.
Um outro flanco dos golpistas é o julgamento das contas de campanha pelo TSE, um golpe liderado por Gilmar Mendes, que agora parece contar com apoio de Toffoli, uma figura misteriosa – quanto mais é chamado de “petista” por coxinhas enfurecidos, mais ataca a Dilma e se alia ao golpe .
Por falar em coxinhas, quero comentar brevemente a agressão de uma dúzia de psicóticos a uma das mais queridas lideranças sociais do país, João Pedro Stédile. Assistir um bando de retardados gritando: “MST, vai pra Cuba com o Petê”, tem um componente hilário que, a meu ver, enfraquece a direita brasileira.
Eu entrei na página do Revoltados On Line e vi que eles estava eufóricos com aquela manifestação de indigência mental contra o Stédile.
No post anterior, o mesmo Revoltados On Line faz propaganda de candidata radical do partido republicano, que associa Obama a comunistas e terroristas islâmicos, fornecendo mais uma prova das relações políticas cada vez mais evidentes entre a extrema direita americana e os colonizados do Brasil.
Os colonizados daqui, naturalmente, são um caso muito mais doentio, porque a extrema-direita americana sempre trabalhou abertamente para detonar qualquer esforço brasileiro para construir uma infra-estrutura industrial e social mínima.