Análise Diária de Conjuntura – 15/09/2015
No mesmo dia em que se esperava um avanço maior da onda golpista, nota-se um forte refluxo da mesma.
O governo, enfim, reagiu.
1) Lançou um pacotão que consegue resolver em boa parte os problemas de déficit fiscal previsto para 2016. Cortando um pouco aqui, elevando um pouquinho os tributos ali, pedindo para os servidores aguentarem um pouco a barra, pronto, eis-nos preparados para enfrentar a crise.
2) 19 governadores se reuniram no planalto e deram declarações bastante fortes em apoio à permanência da presidenta.
3) O vice-presidente Michel Temer também deu entrevista com declarações bastante enfáticas em defesa do mandato da presidenta.
4) O próprio Eduardo Cunha, cuja crista se quebrou nas vigas da Justiça, tirou o corpo fora de um golpe que ele já sabe que não tem como dar certo. Na coluna do Ilimar Franco de hoje, há notinha em que Cunha deixa bem claro que não está com a oposição nessa aventura.
5) A presidenta mesma deu mostras de que está empenhada em frear qualquer tentativa de golpear o seu mandato conquistado nas urnas. Sua declaração de que “fará de tudo para impedir processos não democráticos” impactou bem na mídia, inclusive nos jornais de oposição, como O Globo:
6) O apoio mais importante que recebeu, contudo, foi o documento assinado por lideranças partidárias no Congresso e presidentes de todos os partidos da base aliada, declarando que apoiam a presidenta e defenderão a sua permanência no cargo até o fim de seu mandato. Até mesmo Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, e aliado de Cunha, deu declarações fortes em apoio à presidenta:
Trecho de post publicado no 247:
Líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) disse que a presidenta está “100% forte no cargo” e criticou movimentos da oposição que, desde o início do segundo mandato, vêm buscando fundamentos para abertura de um processo de impedimento do governo. Há cinco dias, quatro partidos de oposição lançaram um manifesto virtual a favor da saída de Dilma. “Tenho a percepção de que eleição se disputa até as 17h do dia do pleito, após isso tem que se respeitar o resultado das urnas, pode se fazer oposição e críticas, mas tem que respeitar o mandato.”
7) O presidente do Senado, Renan Calheiros, ficou animado com a demonstração de iniciativa do governo, que desanuvia um pouco o clima de golpe no congresso. O apoio de Renan vale alguns pontinhos no golpômetro.
8) As delações viraram um samba do criolo doido, jogando sujeita para tudo quanto é lado, inclusive na oposição, o que neutraliza um pouco o lado golpista das conspirações midiatico-judiciais.
9) Fora da política, a economia trouxe uma boa notícia para o governo e o país. O preço dos alugueis caíram fortemente, no mês e no acumulado de 12 meses, o que deve puxar para baixo a inflação nos próximos meses.
O maior desafio da presidenta será dissolver as insatisfações de sua própria base, sobretudo nas centrais e nos movimentos sociais, por causa do anúncio de cortes de despesas. A esquerda, porém, mesmo reclamando, respira aliviada com o declínio do golpômetro.
A instabilidade política, naturalmente, continua. Nenhuma crise evapora-se de um dia para outro. Dilma conseguiu melhorar sua articulação política junto às lideranças partidárias e governadores. Falta agora fazer um trabalho similar junto à sociedade civil. E não adianta fazer do mesmo, tipo reunião com Leonardo Boff. Tem que fazer diferente. Nem creio que reuniões tenham serventia neste momento. A hora é de anunciar ações de governo que interessem à população, sair da pauta negativa.
Tem de oferecer algum avanço político a seu próprio eleitorado, aos movimentos sociais, aos servidores, às centrais, para compensar o recuo econômico.
É hora das grandes negociações, republicanas, sobre planos de carreira para os servidores, por exemplo.
Mesmo com todos os cortes, o governo tem uma quantidade enorme de instrumentos à sua disposição. Tem a política interna e internacional para manobrar. A melhora na articulação abre mais uma brecha para a presidenta avançar. Se repetir os erros que tem cometido sistematicamente desde que começou sua nova gestão, de usar cada melhora na atmosfera política para recuar, para voltar à pasmaceira, a crise voltará mais forte.
O meio de campo do governo conseguiu tirar a bola da zona de perigo, falta passá-la para os atacantes e ir em direção ao gol.