Leiam o artigo abaixo, com o alerta de um dos líderes mais radicais da oposição, Raul Jungmann, do PPS.
Ele mostra o perigo que corremos. A única força realmente organizada que apoiaria o impeachment em bloco, sem constestação e, mais que isso, sustentaria um novo governo sem legitimidade democrática, seria a mídia.
Esse é o lado bom. A mídia vai se desmoralizar de vez. Talvez seja essa a armadilha que a história esteja criando para mudar de vez um sistema de comunicação herdado da ditadura e que não se adapta à realidade do nosso país.
Diferentemente de Collor, o impeachment agora terá os seguintes adversários, durante e, sobretudo, no day after:
1) O principal partido na Câmara, o PT, e que ainda é o partido com maior número de militantes orgânicos do país;
2) A UNE. Seria tolice subestimar a UNE, hoje muito mais organizada do que em qualquer outra época.
3) Todas as grandes centrais sindicais, ou ao menos, aquelas com atuação política mais experiente e orgânica. Só a Força Sindical, e mesmo assim, dividida, apoiaria um governo pós-impeachment.
4) A intelectualidade de esquerda, hegemônica em todas as universidades.
5) Os movimentos de ultra-esquerda, capilarizados nas universidades, que tem feito oposição ao PT, mas que seriam muito mais agressivos num governo pós-impeachment.
6) O PSOL, partido de oposição ao governo, mas que exerceria uma oposição muito mais orgânica num governo pós-impeachment.
7) A imprensa progressista.
8) A opinião pública progressista.
Todas essas forças, sob as atuais formas ou sob suas formas antigas, apoiaram o impeachment de Collor e deram sustentação ao governo montado em seguida.
Não será mais o caso.
Sem esses apoios, um governo pós-impeachment, para encontrar estabilidade, terá que apelar para a repressão, como fazem os governos tucanos em São Paulo e Paraná. O resultado, naturalmente, será desastroso.
Na verdade, um impeachment seria uma verdadeira vitória de Pirro para a oposição e a mídia. O seu custo seria tão alto, a mancha na história tão escura, que corresponderia a uma derrota.
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‘Impeachment não seria simples como o de Collor’
Por Tereza Cruvinel, em seu blog.
12 de Setembro de 2015
Os partidos de oposição começam a girar a engrenagem do impeachment esta semana, cobrando a definição das regras, mas entre eles há diferenças importantes sobre a condução do processo e suas consequências. O deputado Raul Jungmann, do PPS, embora ache que o impeachment vai se tornando uma tendência inexorável, vem advertindo seus pares sobre as peculiaridades do eventual afastamento de Dilma Rousseff, que a seu ver seria bem mais complexo que o de Collor em 1992.
– Venho dizendo que o impeachment de Dilma não seria igual ao de Collor porque precisamos ter isso claro e precisamos nos preparar para o que virá. Não será uma simples remoção do bode da sala, como todos nós gostaríamos que fosse. No caso de Dilma, haverá disputa de narrativa, e isso é importante na política. É claro que o PT dirá que foi golpe, que seu governo foi interrompido porque promoveu os pobres e reduziu a desigualdade. O governo Collor acabou e não se falou mais neles. Com o afastamento de Dilma, haverá “day after”, e haverá oposição ao governo que vier. Aponto tudo isso não para desencorajar o movimento mas para evitarmos erros. Não podemos ter “a pressa que a aniquila o verso”, como disse o poeta – diz Jungmann citando o verso de Edson Régis, poeta pernambucano que morreu no atentado ao aeroporto de Guararapes em 1966.
O impeachment vai se tornando inexorável, diz ele, porque a própria presidente continua fornecendo elementos para a insustentabilidade de seu governo, que só fazem aumentar a ânsia pela “remoção do bode”. Originário do PCB e da resistência à ditadura, Jugmann confessa: “Pessoalmente, a solução do impeachment me angustia, pois sou de uma geração que lutou para instituir e não para interromper os processos políticos. Mas ele vai se impondo como inevitável e terá de ser conduzido como muita precisão e habilidade para que o dia seguinte não seja ainda mais complicado.”
No “day after” de um eventual impeachment de Dilma ele aponta ainda (além da disputa de narrativa e da reação do PT e dos movimentos sociais aliados) o fato de a política nacional não contar hoje com líderes importantes e respeitados como os que atuaram no impeachment de Collor e negociaram o governo de transição de Itamar Franco, tais como Ulysses Guimarães, Fernando Henrique e Mario Covas.
Diferente também foi a conduta da sociedade civil, que estava unida a favor do impeachment de Collor em 1992, o que hoje não ocorre. O então presidente da OAB, Marcelo Lá venere, assinou o pedido de impeachment de Collor juntamente o presidente do ABI, Barbosa Lima Sobrinho. “Onde anda a OAB hoje?”, pergunta Jungmann. A UNE, que liderou os cara-pintadas daquela época, hoje é contra o impeachment. O sindicalismo estava unido. Hoje apenas a Força Sindical está com a oposição.
– Três palavras devem reger todos os nossos passos. Legalidade, Legitimidade e solução administrável – diz Jugmann.
Pergunto o que significa esta última, “solução administrável”. A resposta é dele:
– É o que vamos colocar no lugar. Será um governo do PMDB? Será um governo de coalizão? Quem participará dele e com quê programa? No caso de Collor, a solução administrável foi facilmente encontrada. Agora, será mais complicado construí-la.
Jugmann confirma que na terça-feira, conforme já divulgado, os líderes da oposição cobrarão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, esclarecimentos sobre o rito e as regras que regerão o assunto, pois já foram apresentados à Mesa 13 pedidos de abertura de processo de impeachment contra Dilma. Será um primeiro passo mas o roteiro já ficará definido. Em algum momento, haverá recurso ao plenário contra o arquivamento de uma das propostas. Possivelmente, a de Helio Bicudo. Para garantir a tramitação do pedido, a oposição precisará de maioria simples dos votos (metade mais um dos presentes, estando presentes metade mais um dos 513 deputados, ou 257). Depois, para aprovar a abertura do processo, as oposições é precisarão de 2/3 dos votos, ou 342, o que é muita coisa. Teoricamente o governo teria condições de barrá-lo, precisando para isso de apenas 171 votos. Mas em casos assim, depois de uma vitória da oposição na votação preliminar, a do recurso, a segunda costuma vir por gravidade. Ferido de morte, o governo não resiste.