Análise Diária de Conjuntura 12/09/2015
Não era tão difícil prever o que viria, tampouco prever o que vêm por aí.
Matéria da Época desta semana, associando Pasadena à campanha de Lula, é mais uma porrada no ex-presidente e no PT. A artilharia é maciça, e tudo vem meticulosamente planejado.
As delações de Nestor Cerveró e Fernando Baiano prometem deixar a noite mais escura, confirmando as previsões de que as coisas devem piorar um tanto antes de começarem a melhorar.
Como de praxe, as delações são vazadas imediatamente para os mesmos órgãos de imprensa. As delações vem forjadas no nascedouro, com perguntas direcionadas dos procuradores, junto a réus torturados por um terrorismo penal visto apenas em regimes totalitários.
O terrorismo penal é a perspectiva de um julgamento sumário, sem ponderação de provas, culpando o réu não por eventuais crimes que realmente cometeu, mas jogando-lhe o peso de ser um dos responsáveis por toda uma conspiração (no caso, ser aliado ao PT). As conspirações acusam os réus de… conspiração.
A delação é deturpada em seguida na própria transcrição. Depois disso, os procuradores vazam o conteúdo, de maneira seletiva, à imprensa de oposição, que termina de ajeitar a história conforme a sua narrativa.
Trechos da reportagem deixam escapar os métodos e o estado de espírito que os procuradores cultivam nos réus:
“Do jeito que Cerveró está desesperado, ele entrega até a própria mulher”, diz um agente da Polícia Federal em Curitiba que tem contato com Cerveró.
(…) Condenado a 17 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, preso há dez meses, Cerveró tenta a delação desde julho. É uma negociação difícil e lenta. Envolve os procuradores da força-tarefa em Curitiba e da equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Como Cerveró pode entregar políticos com foro no Supremo Tribunal Federal, caso de Delcídio, Renan e Jader, as duas frentes de investigação – Curitiba e Brasília – precisam se convencer da conveniência da delação do ex-diretor. Há hesitação em ambas. Apesar dos relatos agora revelados por ÉPOCA, os procuradores esperam – exigem – mais de Cerveró. “Ele (Cerveró) continua oferecendo muito pouco perto da gravidade dos crimes que cometeu”, diz um dos investigadores de Curitiba. “A delação de Cerveró, para valer a pena, precisa de tempo. Ele ainda promete menos do que sabe”, afirma um procurador da equipe de Janot.
Como sempre, nada de provas, essa coisa que parece ficar num passado cada vez mais distante do jornalismo brasileiro.
É uma reportagem com muitas descrições e arranjos literários. A matéria se inicia assim: “À mesa de um restaurante decorado com lustres de cristal, obras de arte contemporânea e castiçais dourados, na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro (…) ”
Tudo é baseado na delação. E delação, como se sabe, só vale contra o PT. A delação contra Aécio Neves não teve nenhum “restaurante decorado com lustres de cristal, obras de arte contemporânea e castiçais dourados”.
A matéria omite, por exemplo, que Pasadena foi o ativo que mais deu lucro à Petrobrás em 2014. Em todo o texto, repete-se o bordão de tratar a refinaria como “sucata” enferrujada.
Esse é o erro político do próprio governo, da própria Dilma, mais um dentre tantos, que não fez a batalha de comunicação sobre a importância estratégica de uma refinaria nos Estados Unidos.
As obras de recuperação de Pasadena transformaram uma refinaria que, sob os antigos proprietários, sofria todo tipo de acusação ambiental e trabalhista, numa instalação moderna, com procedimentos social e ambientalmente corretos.
A delação de Cerveró ajuda a destrinchar o que vem por aí, quiçá explicando o misterioso slogan do PMDB em sua última propaganda de TV, afirmando que o partido “não tem medo da verdade que virá”.
A “verdade que virá” talvez fosse a delação de Marcelo Odebrecht (que não vai acontecer, segundo o próprio), que tem duas escolhas: botar o PSDB na roda, desmanchando a crise política e neutralizando o jogo, ou entrar no jogo dos procuradores e desferir mais um golpe contra Lula. Caso os procuradores ameacem destruir a construtora no mundo inteiro, como já estão fazendo, Marcelo pode ser coagido a fazer o que eles querem, embora até o momento a Odebrecht tenha tentado reagir com um pouco mais de galhardia aos arbítrios da República do Paraná.
Só que é preciso ressaltar uma coisa. A imprensa de oposição trata de intrigar o PMDB com o PT não é de hoje. Nos últimos tempos, as intrigas se intensificaram.
O PMDB tem muitos governistas lutando pela estabilidade, mas o partido também está sob a lâmina da justiça, e as regras do jogo são claras: para ter apoio da mídia é preciso se posicionar contra o PT. Os setores autoritários do Estado não tem feito muito mistério sobre suas preferências partidárias, nem de suas alianças com a mídia.
A relação do PT com a mídia, por sua vez, é de pânico. De um lado, um vitimismo atroz. De outro, uma total subserviência – os ministros de Dilma, em especial do PT, só querem dar entrevistas aos mesmos órgãos de imprensa que lhes fustigam dia e noite. A última de Dilma foi dar uma entrevista fechada para assinantes para o jornal Valor.
A maneira pusilânime como o governo reagiu ao editorial da Globo que, fingidamente, se posicionou contra o impeachment, é mais uma prova dessa relação doentia de ódio e medo entre o PT e os Marinho.
O perigo é o seguinte: a oposição doméstica já farejou a fragilidade e o medo do governo; e agora os abutres internacionais também parecem ter captado o cheiro: qual a segurança que temos de que esses rebaixamentos de nota pelas agências de risco não são previamente combinados com operadores de mercado, que faturam bilhões com isso? Não por outra razão, todas as potências econômicas investem em sistemas de informação que sirvam aos interesses do país, o que não é o caso do Brasil.
Eu entrei no site da Standard & Poor’s. É uma piada aquilo. Em fevereiro deste os donos da agência concordaram, em acordo extra-judicial com o governo americano, em pagar multa de mais de R$ 5,4 bilhões para não serem presos. Eles são acusados de fraudarem descaradamente as suas análises de risco.
A petroleira venezuelana, PDVEZA, por exemplo, há anos tem as notas mais baixas (CCC), e isso apesar da Venezuela possuir as maiores reservas de petróleo do mundo. E quem quebrou em 2008 não foi a PDVEZA e sim a Lehman Brothers, que tinha nota AAA+.
O golpômetro cresceu um ponto hoje. A previsão é de crescer mais um ou dois pontos, ao longo das próximas duas semanas, com o avanço das conspirações da Lava Jato e a maneira túrgida, catatônica, com que o PT e o governo reagem aos golpes.