Análise Diária de Conjuntura Cafezinho, 01/09/2015
A pauta central desta semana não é mais uma ruptura política arriscada e violenta, mesmo que disfarçada por vias supostamente legais. A instabilidade política ainda assusta, porque atores importantes ainda não desistiram do golpe, mas agora outra questão consome a opinião pública, a mídia e os empresários: a crise econômica.
O governo Dilma decidiu, inteligentemente, dividir com o congresso a responsabilidade de encontrar soluções para a deterioração fiscal do setor público.
A jogada busca faturar o gol contra de Eduardo Cunha e sua turma, os quais, embriagados pelo apoio momentâneo que tinham da maioria na Câmara, cometeram erro político estratégico: em seu afã para impor derrotas ao governo através da aprovação de “pautas-bomba”, desagradou profundamente os agentes econômicos, empurrando-os para uma postura de apoio à legalidade democrática e à estabilidade política.
É hora, portanto, de baixar as armas e trabalharmos em prol de medidas eficazes para reativar a economia.
Não há soluções mágicas, naturalmente.
No Valor, artigo de Delfim Netto analisa os últimos dados econômicos divulgados recentemente e resume os desafios macroeconômicos que o país tem pela frente.
Netto observa, a confirmarem-se as previsão do mercado para 2015, que os cinco primeiros anos de governo Dilma devem terminar com um crescimento médio medíocre, de 1,2% ao ano.
O economista observa que o déficit fiscal em 2014 dobrou, de 3,1% em 2013 para 6,2% em 2014, e o superávit primário inverteu-se para um déficit primário de 0,6% do PIB. O resultado foi um aumento de 6% na relação da dívida bruta/PIB.
A dívida bruta deverá encerrar 2015 em 65,5% do PIB, devendo subir para 68,4% em 2016 e 68,8% em 2017.
Os índices ainda não são alarmantes, mas merecem ser vistos com extrema prudência pela classe política, para que esta não tome decisões que possam piorar esse quadro.
Por outro lado, o “mercado” parece ter visto com bons olhos tanto a transparência do Executivo, como a sua decisão de partilhar com o Congresso a responsabilidade de procurar soluções politicamente combinadas para o Orçamento de 2016.
Voltando ao artigo de Delfim, ele elogia a coragem da presidenta de enfrentar os custos políticos de um ajuste fiscal, mas a critica por não conseguir produzir a comunicação necessária para que este ajuste fosse melhor entendido pela população.
No meio do texto, Delfim dá uma estocada antigolpista na oposição:
“[Dilma] foi legitimamente eleita, gostem ou não seus opositores”.
Ao fim do artigo, Delfim alerta para uma situação fiscal “muito, muito, muito delicada!”, e que, portanto, “cada passo mal pensado e mal combinado que termina em mais uma frustração, pode ser, afinal, o precipício…”
O pito de Delfim se dá em virtude das trapalhadas políticas envolvendo uma possível recriação da CPMF.
Daí o título forte do artigo: “Assustador primitivismo político”.
Delfim parece simpático à recriação da CPMF, mas lembra o óbvio: “devemos estar abertos para todas as soluções possíveis e escrutinar todas elas, mas só tomar uma decisão quando existir um razoável grau de consenso dentro da base política do governo”.