“All things must change to something new, to something strange”, dizia Longfellow. Creio que é hora do Cafezinho inovar um pouco também.
A partir de hoje, diariamente, de segunda a sexta, o Cafezinho publica uma Análise de Conjuntura. O formato será enxuto, objetivo, de apenas uma lauda, em torno três a quatro mil caracteres.
Dou por encerrado meu período sabático, longe da imprensa corporativa (que aliás nunca segui totalmente), porque a Análise deve incluir, naturalmente, um monitoramento básico da grande mídia.
A Análise deve ser publicada no blog às 10:00 da manhã. Tenho ainda outras novidades e esclarecimentos a fazer, mas deixo isso para depois. Agora vamos ao trabalho.
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Cafezinho: Análise de Conjuntura, Terça-Feira 25/08/2015.
A entrevista de Dilma e o jihadismo de Gilmar Mendes
A terça vem farta de notícias, para todos os gostos. Para o gosto do governo, temos mais um editorial anti-impeachment na grande mídia, na Folha: sob sugestivo título, Sem bananas, o texto afirma que uma “deposição assentada em razões banais traria instabilidade interna e mancharia a imagem do país aos olhos da comunidade internacional –o Brasil em tese superou sua fase de república das bananas.”
Ainda pelo lado do governo, temos uma entrevista da presidenta aos três principais jornais do país: Globo, Folha e Estadão, em que Dilma aprofunda a estratégia do governo desde que ganhou as eleições: fazer o jogo do adversário.
O corte de até 10 ministérios, porém, é uma jogada inteligente do governo, não tanto pela redução de custos, que talvez não seja significativa, e sim pelo símbolo e pela racionalização política.
A presidente também chancelou as investigações da Lava Jato, na linha do “não vai restar pedra sobre pedra”. Após “lamentar profundamente” o envolvimento de membros de seu partido no esquema, Dilma observou que “ninguém pode interromper o processo em curso no Judiciário e nos órgãos de investigação (Polícia Federal e Ministério Público)”, mesmo que “as investigações afetem a cadeia da indústria de óleo e gás e da construção civil.”
A postura republicana da presidenta neste sentido tem lhe assegurado respeito da comunidade internacional, como atestou o recente editorial do New York Times, cujos elogios à Dilma se deram justamente pela constatação de que Dilma não interferiu jamais nas investigações.
Do lado da oposição, temos uma decisão ultra-radical do ministro Gilmar Mendes, de mandar quebrar o sigilo bancário do Partido dos Trabalhadores. A reportagem da Conjur dá como quase certa a sua aprovação pelo corregedor-geral do TSE, João Otávio de Noronha, considerado “antipetista”; em seguida, o texto diz que a medida poderia provocar a impugnação (!) de todos os petistas no país, presidente, prefeitos, governadores e parlamentares.
Evidentemente, tal medida corresponderia a um golpe contra a democracia muito pior inclusive do que o impeachment de Dilma, provocando terrível instabilidade institucional, pois não haveria sentido em quebrar o sigilo de apenas um só partido. A mesma jurisprudência serviria para quebrar o sigilo de todos os partidos. Se o PMDB e PP, por exemplo, tem bem mais envolvidos na Lava Jato do que o PT, qual o sentido em também não lhes quebrar o sigilo? E o sigilo do PSDB, que recebeu tantos recursos quanto o PT das mesmas empresas?
O impeachment de Dilma, apesar da contrariedade crescente de setores chave da economia, temerosos de suas consequências, ainda fermenta na cabeça de algumas lideranças da oposição. O noticiário de hoje fala que a nova estratégia para o impeachment não mais passaria por Eduardo Cunha, mas a iniciativa não parece muito convincente.
A capa do portal Estadão durante a primeira parte da manhã desta terça-feira é um caso emblemático de manipulação da notícia.
Quando se entra na matéria, vê-se logo que não é bem assim. Em primeiro lugar, coisa que o título não deixa claro, trata-se de apenas um item.
A BR tinha uma estimativa inicial de R$ 100 mil para “ampliação do terminal de Duque de Caixas”. Pelo valor, extremamente baixo para obra de tal porte, é bastante provável que, neste caso, houve antes um erro para baixo por parte dos avalistas da Petrobrás – ou alguma outra confusão similar. A UTC cobrou R$ 895 mil pelo item. Esse tipo de texto deixa transparecer ao leitor que a empreiteira embolsou a totalidade do valor, quando é óbvio que a maior parte dos gastos se dá com material, mão-de-obra, tecnologia. Há desvios em toda parte, ninguém é bobo de dizer que não, mas é preciso ver os fatos com mais racionalidade, coisa que esse tipo de narrativa não oferece.
A matéria em seguida informa que o valor total das obras na refinaria foi apenas 12,6% superior ao estimado inicialmente pela BR, uma variação perfeitamente dentro da média normal para esse tipo de empreendimento.
No cenário econômico, as nuvens se dissiparam um pouco nesta terça. As bolsas asiáticas apresentaram nova queda acentuada, mas a decisão do governo chinês de intervir no mercado, baixando juros e injetando algumas dezenas de bilhões de dólares em sua economia, trouxe alívio aos operadores. As bolsas europeias abriram em alta, o que deve contaminar positivamente Nova Iorque e São Paulo.
A Reuters estampa na capa do site uma análise com um título otimista: A calma após a tempestade.