Os jornalões amanheceram prudentes.
A capa da Folha de hoje joga água na fervura.
O Globo diz que a movimentação nas redes tem sido bem menor do que o esperado.
Só o fato dos jornalões darem esse tipo de notícia, num cenário midiático geralmente de oposição histérica e manipulação sistemática da informação, já mostra uma mudança de rumos. Ao menos temporariamente.
Todo o sistema oligárquico pareceu recuar fortemente nos últimos dias, após análise de último minuto das trágicas consequências de um golpe de Estado para a democracia brasileira.
Boletim de alguma consultoria séria, provavelmente estrangeira, deve ter circulado nos altos escalões do poder econômico: bancos, indústrias e mídia, com previsões catastróficas de um golpe para a imagem do Brasil lá fora e para a economia aqui dentro.
Protestos, greves, revolta, cenário de guerra civil.
O presidente da CUT, ao falar que pegaríamos em armas e iríamos todos às ruas defender a democracia, usou uma metáfora.
Mas também falou uma verdade literal.
Derrubar o poder do voto, depois de uma campanha tão difícil em 2014, seria uma profunda ofensa para milhões de brasileiros que se deram ao trabalho de fazer campanha e votar.
Seria humilhante para os 54 milhões de eleitores de Dilma Rousseff.
E a humilhação é um péssimo conselheiro.
54 milhões de humilhados, então, seria um barril com 54 milhões de toneladas de pólvora.
Agora é importante que a sociedade civil organizada, os setores do governo, e todo o campo progressista e popular não se deixe iludir com esse recuo das oligarquias.
Evidentemente, trata-se de estratégia.
Fizeram um cálculo e constataram que um golpe machucaria seus bolsos. Então vão tentar usurpar o poder de outra maneira.
O governo tem de entender que a melhor defesa é o ataque. E que esse recuo das oligarquias é a sua oportunidade de reagir.
Seria uma colossal estupidez voltar a enfiar a cabeça num buraco.
É hora das grandes agendas positivas, e voltadas sobretudo para o campo progressista e popular.
Inaugurar casas populares é legal, mas isso pode ficar por conta de ministros. A presidenta precisa tomar as rédeas das grandes narrativas políticas e ideológicas.
Com verve e inteligência, com discursos bem escritos, com uma assessoria de comunicação eficaz, a presidenta poderia recuperar sua liderança política e ajudar o governo na sempre dificílima missão de gerenciar expectativas, ou seja, de fazer a mediação entre as utopias e as realizações possíveis.
Todos continuam reclamando muito da falta de horizontes. O governo corta verbas de bolsas estudantis, por exemplo, mas não sinaliza quando haverá recomposição. Com isso, deixa seus defensores nos sindicatos rendidos, sem discurso.
A sociedade precisa de algo a que se agarrar para não sucumbir às tempestades de más notícias da mídia brasileira.
O governo pode ter vencido, temporariamente, o golpe, mas o apagão político e comunicacional ainda não foi superado.
As dificuldades orais de Dilma precisam ser superadas através do uso da palavra escrita e do vídeo.
Por que Dilma não assina artigos e os divulga via redes sociais? Por que não faz discursos diários para veicular em seu blog?
A imagem da presidenta discursando num palanque não pode ser a única imagem na cabeça dos cidadãos.
Por que não organiza conversas públicas, com empresários, sindicalistas, jornalistas, ativistas, parlamentares, para veicular na internet?
É importante que Dilma se exponha em eventos públicos, mas se ela é tímida e tem dificuldade para discursar em palanques, porque não faz eventos mais fechados, mais organizados, voltados para a internet?
Por que o governo federal não lança aplicativos voltados especialmente para as atividades, escritos, discursos e entrevistas da presidenta?
O problema do governo está extremamente concentrado na figura de Dilma Rousseff. Isso tem um lado ruim, que é jogar peso demais numa pessoa, mas também possui um lado bom.
O lado bom é que bastaria melhorar a imagem de Dilma, e melhoraríamos a imagem do governo.
Para isso, basta pôr de lado os convencionalismos, os formalismos, os discursos cerimoniais, a agenda burocrática, e se concentrar exclusivamente numa agenda política e comunicacional feita com os mais modernos recursos da tecnologia moderna.
E não é só tecnologia, claro. Dilma precisa recuperar parte da mística do “coração valente”, e evidentemente não vai conseguir isso desfilando ao lado de Katia Abreu.