Por Lia Bianchini, repórter especial do Cafezinho
O cenário político da cidade do Rio de Janeiro poderia representar, perfeitamente, uma cena do seriado norte-americano The Walking Dead: em um ambiente inóspito, cercado por mortos-vivos, os poucos grupos de pessoas que lutam pela sobrevivência, quando se encontram, ao invés de lutarem unidos contra os verdadeiros inimigos, brigam entre si.
Ainda que temeroso, é nesse cenário que serão feitas as eleições municipais de 2016. Os mortos-vivos que já assombram o território e despontam como possíveis candidatos à prefeitura têm as siglas de PMDB e PRB, com os nomes de Pedro Paulo e Marcelo Crivella, respectivamente. O PSB também parece reavivar-se, apostando em Romário.
Lutando para não serem dilacerados, os partidos de esquerda da cidade ainda não têm estratégias exatamente definidas de combate. Surgem possibilidades como uma frente única de esquerda, candidaturas próprias pulverizadas e a velha aliança com o inimigo.
Quem explica melhor esse cenário e tenta traçar o caminho das pedras, aqui, são militantes das juventudes do PCdoB, PT e PSOL.
“Creio que seja o momento em que os partidos de esquerda devem recolocar-se enquanto polos de fato de esquerda, com menores arcos de aliança. A aprovação altíssima do atual prefeito coloca Pedro Paulo como favorito disparado, ainda mais com toda a verba que arrecadará em meio a uma disputa de cidade olímpica e que só cresce. Diante desse cenário, o mais viável é construir uma candidatura própria para a majoritária, com outros nomes da esquerda e outros partidos de esquerda”, afirma Leonardo Guimarães, da União da Juventude Socialista (UJS).
Para Morena Perez, militante da Juventude do PT, a unidade de esquerda parece despontar como principal opção, porém, seu partido deve ficar dividido. “Acredito que a maior parte dos partidos de esquerda irá apoiar a candidatura do Freixo, buscando unidade. Mas o PT deve se dividir, tendo correntes que apoiam a unidade de esquerda e algumas apoiando a centro-direita” diz.
Contrário a ambas as avaliações, o militante do Juntos Theo Louzada é mais categórico e diz ver um único caminho possível. “O PSOL hoje em dia se mostra como a única opção estruturada à esquerda para as próximas eleições municipais. 2012 foi um claro exemplo de como a figura de Freixo conseguiu unir uma enorme quantidade de interessados – especialmente jovens – que puderam impulsionar sua campanha. Agora, em 2016, é importante que possamos repetir e expandir essa atuação, afinal, depende do PSOL e daqueles que acreditam em sua política formar uma nova opção para o Rio de Janeiro”, afirma o militante.
Apesar de Marcelo Freixo ser o único nome que já desponta como uma possibilidade para a esquerda, não é consenso entre os militantes dos demais partidos que a sua candidatura seja a única possibilidade viável.
Leonardo Guimarães destaca alguns fatores que podem enfraquecer a campanha do Psolista: “A política de não-aliança que o Freixo tem com o resto da esquerda o isola nos votos da classe média intelectualizada da zona sul. O acirramento da influência do poder econômico nas eleições deve tornar a vida do PSOL ainda mais dura nas próximas eleições, principalmente se a contrarreforma política for aprovada no Congresso, tirando o tempo de televisão e debates do partido. Sem televisão, Freixo está fadado aos 20%.”
Militante da Kizomba, do PT, Eduardo Morrot tem uma visão um pouco diferente: “Acredito que o Freixo é o único candidato viável para ganhar as eleições, mas não o único possível. Existem outras candidaturas da esquerda que podem não ganhar, mas são viáveis do ponto de vista de expor um ideário e conseguir uma adesão mínima, como Alessandro Molon (PT) e Jandira Feghali (PCdoB)”.
Sobre a frente única de esquerda, há divergências, o que demonstra que esse dificilmente será o caminho escolhido pelos partidos para as eleições de 2016.
Theo Louzada já descarta uma aliança entre PSOL e PT. “Aliar-se ao PT seria um enorme erro para o PSOL. A política petista já está há muito desacreditada, especialmente em terreno carioca, onde a aliança com o PMDB e a composição com o atual governo explicitou sua degeneração. O PSOL precisa ser capaz de formular sua candidatura sem essas alianças, se não terá muito a perder em sua campanha e em seu possível governo”, avalia.
Para os militantes do PT, uma aliança com PSOL seria possível, mas pouco provável. “Acredito que certas correntes do PT devem buscar unidade, apesar de outras, mais radicais, não aceitarem o diálogo”, diz Morena Perez. Para Eduardo Morrot, há uma incompatibilidade entre os partidos, o que dificultaria uma aliança. “Dada a conjuntura do Rio, acho difícil uma aliança. O PSOL carioca é da ala mais sectária do PSOL nacional, o PT municipal é muito subalterno ao governo Paes”, analisa.
O militante da UJS também não enxerga muitas possibilidades de aliança entre PCdoB, PT e PSOL. “Apesar do interesse de muitos setores do PT e PCdoB, boa parte da juventude do PSOL que hoje tem papel protagonista no partido no Rio se coloca contra, então acredito que tal coligação seja improvável. O PSOL ainda quer crescer no Legislativo, já que o êxito no majoritário poderia desacreditar muito a militância que nunca viu o PSOL à frente de um governo. O PCdoB também não toparia sair junto com um partido de oposição ao Governo Federal, que daria pouca visibilidade para a legenda comunista, sem chances reais de vitória”, afirma Leonardo Guimarães.
O último cenário possível, o de uma aliança entre PT, PCdoB e PMDB, é o que menos agrada os militantes das juventudes dos partidos envolvidos. Mas, nem por isso, pode-se descartá-la.
“Há grande possibilidade de que essa aliança aconteça, mas as discussões ainda estão sendo feitas. Avalio essa tática como equivocada, pois a aliança de PT e PCdoB ao PMDB nas últimas eleições em pouco disputou os rumos do governo, enfrentou o modelo de cidade negócio e ainda levou a grandes derrotas eleitorais nas proporcionais”, diz o militante da UJS.
Segundo o militante da Kizomba, a aliança com o PMDB é incompatível com a ideologia do PT, porém, há grandes chances de acontecer. “Avalio negativamente essa aliança, pois ajudaria a manter a hegemonia do PMDB no Rio de Janeiro e colocaria ambos os partidos em um governo que não tem nada a ver com suas ideologias. Mas as possibilidades de acontecer são grandes, tendo em vista a importância do Rio de Janeiro para o PMDB, a necessidade de manutenção de uma base no Congresso por parte do Governo e o provável apoio deles [PMDB] ao Haddad em São Paulo. Nessa conjuntura, o Rio vira moeda de troca”, avalia Eduardo Morrot.
Morena Perez tem uma avaliação mais incisiva sobre o assunto. “A aliança com o PMDB é uma vergonha, aliar-se com essa centro-direita não dá mais. Mas o PT deve rachar e algumas correntes devem, sim, apoiar o PMDB”, afirma a militante da JPT.
Nitidamente, os caminhos que trilharão os partidos de esquerda do Rio nas eleições municipais de 2016 ainda estão obscuros. No entanto, uma coisa é certa: um passo em falso e os zumbis conservadores devorarão a esquerda carioca viva.