A direita na esquerda em eventos públicos
Por Afonso Borges para MondoLivro – Boletim literário na Rádio CBN
A direita na esquerda.
Ontem, no lançamento do livro de Frei Betto, no MM Gerdau, uns 20 jovens se infiltraram no público.
Tudo bem, se não fossem adeptos de um grupo influenciado por idéias reacionárias, de direita.
Gente violenta, que pensa com a cabeça de 50 anos atrás.
São jovens que carregam livros de outra geração, como o Manifesto Comunista, achando que isso ainda existe.
Como o Sempre Um Papo transcorreu de forma calma, com Frei Betto relembrando os tempos de Belo Horizonte, da cadeia, das pessoas que o influenciaram, como Dom Helder Câmara, do seu encontro com o Papa, os planos dos próximos livros, não houve oportunidade para que eles se manifestassem.
Ao final, ficaram na fila. A intenção era jogar um livro sobre comunismo no autor, como forma de (aspas) manifestação. Não conseguiram porque os amigos do Betto perceberam e agiram, o protegendo.
São jovens que agem intimidando, são jovens que utilizam a provocação como arma, são jovens que não dialogam, não são simpáticos à democracia.
Já enfrentei muita coisa nestes quase 30 anos de debates públicos.
Comecei em 1986, com o próprio Frei Betto, lançando o livro de contos “A Vida Subversiva de Raul Parelo”, com agentes do DOPS na platéia.
Eles me acompanharam durante muitos anos, ainda, no processo de redemocratização.
Me lembro muitíssimo do João Moreira Salles, no lançamento do documentário “Notícias de Uma Guerra Particular”, apontando, do palco, os policiais presentes no auditório lotado.
E fico pasmo, aparvalhado, com a presença destes equivocados jovens, na platéia dos eventos pelo Brasil, pedindo a volta dos militares, pedindo golpe.
Frei Betto diz, ameno, que são pessoas que desconhecem o que é uma ditadura militar.
São pessoas que prejudicam a democracia.
E logo Frei Betto que, apesar de ter sido um dos fundadores do PT, saiu do Governo no primeiro ano de mandato do presidente Lula.
Logo Frei Betto, que escreveu “A Mosca Azul”, onde relata as surpresas – péssimas – que viu do lado de lá.
Mas vamos em frente.
Hoje, em Sete Lagoas, Leonardo Boff lança livros e conversa com o público.
É uma nova batalha que estas pessoas que dedicaram uma vida em prol do retorno da democracia brasileira, estão enfrentando.
Que eles tenham força para vencer mais esta guerra, a guerra terrível da ignorância.