Lava Jato compromete produção brasileira de energia nuclear

Prisão de Othon pela Lava Jato compromete produção de energia nuclear, diz Pinguelli

“As preocupações com corrupção levam ao atraso de Angra 3 e causam ainda mais custos”, disse Luiz Pinguelli Rosa

Por Jeb Blount para o Blog GGN

A prisão do antigo chefe de serviço público de energia nuclear do Brasil por acusações de corrupção poderia interromper um plano para reviver as ambições nucleares brasileiras cujas raízes remontam a seu programa atômico da década de 1980.

Othon Luiz Pinheiro da Silva, um almirante aposentado, foi preso na terça-feira passada, no âmbito da Operação Lava, Jato por supostamente receber 4,5 milhões de reais (1,35 milhões dólares) em subornos de empresas de engenharia que trabalham na usina de Angra 3.

Enquanto a Constituição brasileira garante o uso pacífico da energia atômica, Pinheiro, de 76 anos, foi durante três décadas um jogador central em planos para concluir Angra 3, construir oito reatores adicionais e até mesmo uma frota de submarinos nucleares.

“A prisão é uma tragédia para a indústria”, disse Luiz Pinguelli Rosa, um físico nuclear brasileiro que chefiou a Eletrobras entre 2003-2005.

“A indústria já estava em crise, mas agora as preocupações com corrupção levam ao atraso de Angra 3 e causam ainda mais custos.”

Pinheiro, um engenheiro atômico, foi encarregado pela ditadura militar no Brasil, na década de 1980, a encontrar uma maneira de construir um reator nuclear pequeno o suficiente para um submarino e construir os meios para processar urânio enriquecido o suficiente para alimentá-lo.

Seu trabalho levou a um secreto, mas sancionado pela ONU, programa de enriquecimento de urânio fora do Rio de Janeiro. A fábrica, que reprocessa combustível de Angra 1 e 2, faz a mesma coisa que instalações militares e civis controversas do Irã.

Em 1990, cinco anos após o fim do regime militar, o Brasil renunciou publicamente seus planos de fabricação de bombas com a implosão de túneis na Amazônia, que tinham sido cavados para testar dispositivos termonucleares.

Na década passada, Pinheiro assumiu a Eletronuclear, a unidade de energia nuclear de controle da estatal Eletrobras, utilitário que vem tentando completar o reator de 3100 km (60 milhas) a oeste de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

Mas com a economia encolhendo, medos ambientais crescendo, a raiva pública sobre a corrupção, e atrasos e custos em projetos do governo, a prisão de Pinheiro poderia levar a um retrocesso dos planos nucleares do Brasil.

Escândalo

Tal como acontece com o escândalo de corrupção que açoita a Petrobras, as alegações de corrupção investigadas pela Lava Jato estão causando uma desaceleração na Eletronuclear.

Areva SA, uma construtora de reator nuclear controlada pelo governo francês, foi contratada pela Eletronuclear para montar as peças de Angra 3 que se têm usado no armazenamento desde a década de 1980, mas tem lutado para obter financiamento para o projeto.

Desde a retomada da construção em 2010, o orçamento de Angra 3 quase dobrou para 14 bilhões de reais (4,2 bilhões de dólares) e a data de conclusão foi adiada várias vezes.

“A meta de entregar em 2019 vai ser muito difícil de bater. E as outras plantas, quem sabe? ” disse Claudio Salles, presidente do Instituto Acende, um grupo de pesquisa de energia do Brasil, situado em São Paulo. “Estas plantas levam entre 10 a 15 anos para construir e conforme o tempo passa, elas tornam-se menos cada vez menos viáveis. ”

O mesmo se aplica ao programa de submarino nuclear, disse Pinguelli.

Pinheiro liderou o programa de submarinos na década de 1980, após os militares brasileiros serem surpreendidos com a facilidade com que um único submarino nuclear britânico ajudou a vencer a Argentina na guerra 1982, em função das Ilhas Malvinas.

A polícia brasileira está investigando agora um estaleiro que será construído com ajuda francesa perto do Rio de Janeiro, de acordo com relatos da mídia. No local será feito o submarino de ataque com um reator nuclear brasileiro, e um casco e sistemas de armas projetadas com ajuda francesa, até 2023.

O Ministério de Energia disse, este ano, que Angra 3 será a última usina nuclear construída pelo governo, que planeja ter empreiteiros privados investindo em plantas futuras e para arrendá-las à Eletronuclear.

“O potencial hidrelétrico está se esgotando, e energia eólica, solar e de biomassa não vão atender às nossas necessidades”, disse Nival de de Castro, economista de energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “A menos que nós queiramos usar combustíveis fósseis, teremos de usar a nuclear.”

O Brasil depende fortemente de energia hidrelétrica, mas barragens já foram construídas em muitos de seus maiores rios e uma seca recente levantou dúvidas sobre a fonte de energia.

Mas a Eletrobras e Eletronuclear têm um monopólio constitucional sobre todos os projetos de energia nuclear no Brasil. Quaisquer mudanças para reduzir o controle estatal de projetos de petróleo e outras fontes de energia provavelmente vão encontrar resistência dura.

Ildo Sauer, um físico nuclear que trabalhava sob a gestão Pinheiro no final de 1980, diz que o programa nuclear do Brasil é muito caro e tem sido cooptado pelos políticos e grandes empresas de construção e engenharia.

“O problema são os lobistas que vêem a nuclear como uma oportunidade de construir mega-projetos caros, com pouca atenção para o custo”, disse Sauer, ex-chefe de gás natural da Petrobras. “Não é mais sobre a ciência ou a energia. É sobre política e dinheiro, que trazem a corrupção.”

Liana Carvalho:
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