Por Theófilo Rodrigues
Algumas semanas atrás uma interessante matéria do jornal O Globo trouxe dados sobre a recente queda nas filiações de jovens entre 16 e 24 anos nos partidos políticos brasileiros.
A partir de uma comparação entre os números de filiação dos eleitores entre 2009 e 2015 das cinco maiores legendas – PMDB, PT, PP, PSDB e PDT – o jornal concluiu que os jovens reduziram seu interesse pelos partidos.
Não sei se por hobby, por ofício ou apenas vício fui em busca de mais informações sobre o assunto diretamente na fonte: o TSE.
E qual foi minha surpresa? Quando reunidos, sistematizados e observados percebemos que aqueles montantes de números revelam muito mais do que trouxe a matéria.
Podemos dizer, por exemplo, que dos 17 partidos que foram listados, os que em 2014 possuíam a menor proporção de filiados jovens em suas fileiras eram aqueles que se encontravam à direita do espectro político: PTB (1,6%), PMDB (1,6%), PP (1,6%) e DEM (1,4%). Por outro lado, o partido que possuía a maior proporção de jovens de 16 a 24 anos filiados era o PSOL – esquerda do espectro político – com 11,5%.
No que diz respeito à redução do número de jovens filiados nos partidos políticos de 2009 para 2015 a matéria poderia ter mencionado um fato interessante: o PSOL foi o único que ampliou efetivamente o número de eleitores entre 16 e 24 anos em suas fileiras durante o período.
Mesmo sob a forte influência da criminalização da política praticada por alguns setores do jornalismo brasileiro e do mau exemplo oferecido por certos políticos patrimonialistas que confundem o público com o privado, os jovens continuam buscando partidos políticos para se filiarem.
O que os dados parecem indicar é que talvez esses jovens estejam preferindo outros partidos em vez dos tradicionais que ocupam o poder. O Podemos na Espanha, o Syriza na Grécia ou os comunistas no Japão parecem evidenciar isso.
Até onde a vista alcança não haverá democracia sem partidos. A tarefa cidadã do momento consiste, portanto, em construí-los de forma significativa entre o sonho e a responsabilidade. Ou, como diria Gramsci, na linha tênue entre “o pessimismo da razão e o otimismo da vontade”.
Theófilo Rodrigues é cientista político.