O Ministério Público pode abrir inquérito contra Dilma com base na delação de Ricardo Pessoa, e tudo em cima da teoria preferida dos procuradores da Lava Jato e da mídia, de que as doações legais da UTC à campanha de Dilma foram propina.
Detalhe: a UTC doou tanto para a oposição quanto para o PT, mas só para o PT, claro, é corrupção.
Essa poderia ser a razão que os golpistas queriam: o tal “crime de responsabilidade”.
Se não der certo, inventarão outro. O golpe não pode parecer golpe.
Assim como diziam as manchetes de abril de 64, a ideia é fazer parecer que “ressurge a democracia”.
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Delação de Pessoa pode levar a inquérito contra Dilma
Investigadores avaliam se há indício de crime contra ex-tesoureiro Edinho Silva
KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
A delação premiada do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, pode resultar em inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.
Motivo: a colaboração premiada de Pessoa derruba o argumento que foi utilizado pelo Ministério Público para não investigar a presidente quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, analisou as delações do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Quando Janot pediu ao STF no início de março a abertura de inquéritos em relação a políticos com foro privilegiado, ele sustentou que os fatos narrados sobre a presidente tinham ligação com o mandato anterior. Portanto, concluiu que não poderiam ser utilizados para sustentar uma investigação no atual mandato. Mas a delação premiada de Ricardo Pessoa invalida esse argumento.
Segundo Pessoa, ele doou R$ 7,5 milhões à campanha de 2014 de Dilma a pedido do então tesoureiro, o hoje ministro Edinho Silva. Segundo Pessoa, Edinho Silva teria pedido a doação alegando que a UTC tinha contratos com a Petrobras e deveria contribuir. Pessoa disse que se sentiu obrigado a dar para não atrapalhar seus negócios. Edinho Silva nega.
O Ministério Público está analisando a conduta de Edinho Silva, para avaliar se há indício de crime. Se houver, poderá solicitar a abertura de inquérito. Se não houver, ocorreá o pedido de arquivamento.
Em relação à presidente Dilma, haverá a mesma avaliação, pois o ato foi cometido na campanha à reeleição. Logo, tem ligação com o atual mandato. O Ministério Público estudará se há alguma evidência que justifique um inquérito ou não. Em tese, portanto, a delação premiada de Ricardo Pessoa pode levar à abertura de inquéritos contra a presidente e o seu tesoureiro de 2014.
Os investigadores também analisam trechos da delação de Pessoa que apontam entrega de recursos de caixa 2 para João Vaccari, ex-tesoureiro do PT preso em Curitiba. Apuram se houve alguma conexão desses recursos com a campanha do ano passado. A presidente Dilma nega ter recebido recursos de caixa 2 nas campanhas de 2014 e de 2010.
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O inquérito no STF sobre Renan Calheiros está num estágio mais atrasado do que o de Eduardo Cunha. Em relação ao presidente da Câmara, é dada como certa uma denúncia.
E ainda há uma avaliação se valeria a pena pedir o afastamento de Cunha da presidência da Câmara sob o argumento de que ele estaria interferindo nas investigações. Não é certo o pedido de afastamento. Essas decisões deverão ser tomadas em breve.
Já em relação ao presidente do Senado, a tendência é apresentar uma denúncia, mas ainda há mais procedimentos que precisariam ser feitos para uma decisão final. No que se refere a Renan, também não há cogitação de pedido de afastamento por interferência nas investigações.
No debate público, Eduardo Cunha bateu mais duramente no procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Renan retalia mais nos bastidores, cogitando, por exemplo, adiar a votação no Senado caso Janot seja indicado para um novo mandato pela presidente Dilma. Nessa hipótese, um interino assumiria a Procuradoria Geral da República.
Uma manobra desse tipo tenderia ao fracasso porque pegaria mal perante a opinião pública, deixaria claro o sentido de retaliação e transformaria Janot ao mesmo tempo num herói e numa vítima de políticos que não querem que a corrupção seja investigada. Janot tem agido com equilíbrio. Uma articulação assim seria vista como amadora para um político tão experiente com o Renan, mas o desespero nunca é um bom conselheiro.