Como diz o ditado, nada é tão ruim que não possa piorar.
Antes de falar das coisas ruins, porém, mostremos a única notícia boa da pesquisa CNT/MDA: quase 80% dos brasileiros é contra doações de empresas para campanhas políticas.
Agora vamos às coisas ruins.
A pesquisa CNT oferece munição pesada para a oposição levar adiante o golpe, ou então asfixiar o governo de tal maneira que o paralise.
E com o governo paralisado, a economia sofre, e a imprensa continuará lançando todos os problemas na conta do PT e da esquerda em geral, botando lenha no avanço do fascismo social.
Neste link você vê a apresentação síntese da pesquisa.
Neste outro, você vê a pesquisa estratificada, por renda, região, idade, etc.
Nem é o caso mais de acenar com manipulação das pesquisas. Claro que há manipulação pesada, explícita. O momento da pesquisa, o tipo de pergunta, tudo é articulado em aliança com as campanhas negativas da grande mídia.
A troco de que, por exemplo, fazer uma pesquisa de intenção de voto agora?
Entretanto, o governo vai mal, isso ninguém pode negar.
Não me surpreende nem um pouco que a avaliação esteja tão ruim.
Eu mesmo, que apoio o governo, apoio a presidenta, estou aí na luta contra o golpe, se fosse entrevistado, e eu decidisse ser franco ao invés de dar uma resposta política, daria uma nota de regular a ruim ao governo Dilma.
O governo tem de investir na recuperação de popularidade junto a seus eleitores! Como é possível que Dilma possa ser tão negligente em relação à imagem construída em sua campanha! Qualquer marketeiro de fundo de quintal sabe que é preciso construir um mínimo de mística em torno da figura presidencial.
Dilma precisa reconquistar, com urgência, o apoio do núcleo duro de seu próprio eleitorado.
Por que o governo não constitui um conselho político de altíssimo nível, chamando os melhores profissionais do mundo?
Por que não monta um centro de respostas políticas, para rebater, em escala massiva, todas as denúncias e mentiras que a direita agora despeja, às toneladas, a cada minuto na internet?
Não é o futuro de Dilma que está em jogo, mas o Brasil e a América Latina, mais uma vez vulneráveis às conspirações golpistas financiadas por grupos da extrema direita americana.
A pesquisa mostra uma opinião pública irritada. A maioria escolhe a pior avaliação: péssimo.
O mais assustador é o silêncio. A presidenta dá uma entrevista à Folha, o ambiente melhora e ela some de novo. Dilma tinha que dar entrevistas todos os dias, para todos os tipos de mídias: grandes, médias, pequenas, rádios, jornais, revistas, tvs, sites, blogs, nacionais, estrangeiros. Entrevistas sérias, bobas, curtas, longas.
É isso ou dar adeus ao governo.
O golpe se aproxima. As peças todas se encaixam.
Por que houve o vazamento das denúncias contra Eduardo Cunha em depoimento do réu para Sergio Moro?
Não teria sido justamente para enfurecer Cunha e fazê-lo se voltar contra o governo, rompendo inclusive com os setores moderados do PMDB?
E agora, temos essa pesquisa CNT, dizendo que a maioria dos brasileiros é a favor do impeachment, que a aprovação do governo é ridícula, que Dilma e Lula tem implicação na corrupção da Petrobrás, que Aécio ganharia as eleições…
O governo, por sua vez, continua preso à armadilha mental que criou para si mesmo.
Não se mexe porque a popularidade está baixa, e a popularidade está baixa porque não se mexe.
Eu mesmo conheço vários petistas que olham esse tipo de pesquisa e, se já eram advogados da inação, ficam ainda mais rendidos. Sua única estratégia é enfiar mais fundo a cabeça num buraco. Infelizmente, parece que esse tipo de estratégia tem apoio hegemônico no PT e no governo.
Observe a tabela abaixo, ela mostra uma opinião pública moldada direitinho, bonitinho, para o golpe. As instituições mais confiáveis são, por ordem: igreja, forças armadas, judiciário, polícia, imprensa. Por último governo, congresso nacional e partidos políticos.
É o retrato de uma sociedade fascistizada! Se o povo já está assim agora, no início de uma crise econômica, imagine quando esta avançar?
A Alemanha dos anos 30 não devia ser muito diferente.
Tem solução?
Tem.
Para não me acusarem de fatalismo ou pessimismo, dou cinco ideias:
1) Interromper completamente qualquer fluxo de verbas para os grandes meios de comunicação, e despejar tudo na internet, através da criação de um sistema randômico público e estatal (uma espécie de adsense público). Para não prejudicar empregos de jornalistas, pode-se fazer algum tipo de projeto à parte para estimular formação de cooperativas.
2) Baratear o preço da internet em todo o país.
3) Implementar, em regime de urgência, um programa de banda larga pública no país.
4) Revolucionar a comunicação pública do governo, mas disso não aguento mais falar.
5) Montar um conselho político de altíssimo nível, com pessoas de prestígio na sociedade, e empoderar de fato esse conselho, que deveria ter um porta-voz, para falar diariamente com a imprensa, blogs e redes. Ligado ao conselho, um centro de respostas políticas, para combater as mentiras da mídia, imediatamente após estas serem divulgadas.