Vamos para as últimas novidades do boletim do golpe.
O TCU adiou para agosto a decisão final sobre “pedaladas”. O que é vendido pelo site Contas Abertas, hoje incorporado fisicamente ao portal da Veja, como uma manobra de Dilma para ganhar tempo, eu vejo como uma estratégia do TCU, presidido por Augusto Nardes, para prolongar o desgaste do governo e encaixar a decisão do TCU no roteiro do golpe. Tudo precisa acontecer em agosto, período em que todos os ataques estão se concentrando, incluindo aí a decisão do TSE.
Augusto Nardes “telefona” frequentemente para o blogueiro da Veja Felipe Moura Brasil, militante histérico pelo impeachment.
Veja que isenção deste juiz!
Nardes ligou para Moura em meados de junho, para “explicar” sua decisão de adiar por 30 dias o julgamento das pedaladas, e ontem ligou novamente para falar sobre outro assunto referente ao mesmo julgamento.
Um juiz não poderia falar sobre um julgamento fora dos autos, mas isso já se tornou uma rotina no Brasil, visto que o debate político se trasferiu, em grande parte, para o terreno judicial, onde não podemos falar nada, visto que somos “civis”.
Há tempos, desde que iniciamos essa sinistra era de conspirações midiático-judiciais, a imprensa busca referendar o entendimento, implicitamente fascista, de que moral e justiça são a mesma coisa.
Com isso, a imprensa tenta conferir à burocracia judicial um poder que, na doutrina democrática, deveria pertencer hegemonicamente ao voto.
Hitler, num de seus discursos, fala que “O estado total não tolerará nenhuma distinção entre Direito e Moral”.
Ora, é exatamente isso o que a nossa mídia tenta fazer, ao criminalizar a política e conferir uma aura mística às decisões judiciais.
Como em todos os momentos de ascensão do fascismo, todavia, a esquerda também contribui com seus erros.
Sobre os erros do governo, não preciso me estender muito. Estão evidentes. Dilma não fala, e não fala mesmo quando dá entrevistas, visto que jamais politiza, jamais toca em nenhuma polêmica realmente importante.
As referências ao conceito de golpe já estão sendo devidamente neutralizadas pela mídia – assim como fizeram em 64, quando a imprensa bombardeou a opinião pública com infinitas referências à “volta da democracia”.
Quanto mais o golpe de Estado de 64 ganhava ares de ruptura com a ordem democrática, quanto mais a imprensa publicava editoriais com títulos pomposos falando em avanço das forças democráticas.
O PT, por sua vez, também não faz nada para deter o avanço do fascismo.
Como estratégia de comunicação, o congresso do partido, realizado recentemente, decidiu imprimir e distribuir um jornalzinho de quatro páginas Brasil a fora…
Suas decisões sobre impostos de grandes fortunas soam como medidas desesperadas, feitas apenas para atender a uma militância perplexa e, sobretudo, dar um pouco de oxigênio às alas esquerdas do partido, que, em momento de crise, se tornam mais barulhentas.
Mas não são levadas à sério pela sociedade. Ao contrário, exalam a triste aparência de último esgar de um derrotado. Se o partido perdeu o controle sobre qualquer decisão no congresso, não conseguindo sequer deter medidas profundamente retrógradas, como a mudança da maioridade penal para menores de 18 anos, como espera impor qualquer avanço progressista nas leis brasileiras?
O apagão político do PT e do governo, que parecem ter esquecido completamente não apenas como fazer política, mas até o que seja política, se conjuga com a profissionalização rápida da direita, que agora, finalmente, faz a colheita do que vem plantando há anos na sociedade: o conservadorismo, a ignorância, o ódio, a despolitização.
O PT teve até mesmo o seu “último baile na Ilha Fiscal”, que foi o pomposo aniversário de 30 anos do partido em fevereiro. Com várias de suas lideranças presas e condenadas por conspirações midiático-judiciais notoriamente injustas, a legenda fez uma festa luxuosa, alienada, completamente alheia às nuvens de fim de mundo e golpe que já então cobriam o partido e o governo.
Se o Planalto não tem capacidade sequer para dar um banho de loja em seu blog, mudar as cores, inovar, oferecer entrevistas exclusivas com a presidenta, como pretende enfrentar um dos maiores monstros midiáticos do planeta?
As revistas semanais preparam o recrudescimento dos ataques de praxe de final de semana. A Istoé já deu o tom:
Repare numa das acusações: “pressões indevidas no Judiciário”.
Como até agora não tinha ouvido falar disso, me parece óbvio que a acusação integra o roteiro do golpe, que é emparedar o Supremo Tribunal Federal (STF).
Antes mesmo de qualquer decisão do STF, o governo é acusado de fazer pressão indevida. Com isso, criminaliza-se, antecipadamente, qualquer contato republicano entre o Executivo e o STF.
Segundo a filosofia que parece imperar hoje, o STF tem de dialogar apenas com a grande mídia. Só. Ministros do STF podem telefonar para Merval Pereira, não para algum ministro ou presidenta da república.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, anunciou que fará um pronunciamento em rede de televisão, no dia 17 de julho.
Outra jogada genial dos golpistas.
Enquanto Dilma se recusa, voluntariamente, a usar o tempo de TV que a Constituição lhe garante, preferindo dar entrevista à Globo às três horas da manhã, ou falar à Folha de São Paulo, Eduardo Cunha faz o oposto.
Eu acho importante que Dilma dê entrevistas a Jô Soares e à Folha, mas porque não o faz também, e sobretudo, para os veículos diferentes?
Não se trata de “pregar para convertidos”. Uma entrevista da presidenta ajuda a empoderar um veículo de comunicação, e repercute em toda a parte.
Além disso, ao dar entrevista a um jornal como Brasil de Fato, por exemplo, Dilma estaria fazendo uma coisa diferente. E o diferente é uma notícia em si.
O Brasil de Fato faria perguntas diferentes, e ajudaria o governo a retomar uma pauta positiva.
Aparecendo na TV, Cunha acalmará os empresários e o capital em relação ao risco de desordem civil em caso de impeachment. Esse é o objetivo.
É como se ele dissesse, aos empresários e ao povo: “Não se preocupem. Eu garantirei a ordem pública”.
Enquanto isso, a Lava Jato faz um balão de ensaio: tenta criminalizar as doações legais, oficiais, para alguns dos poucos senadores que poderiam assumir a linha de frente na luta política para evitar o impeachment: Lindberg Farias e Humberto Costa, do PT, e Valdir Raupp, do PMDB. Se a tese vencer, poderá ser aplicada à campanha de Dilma Rousseff.
Há saída?
Sim.
Em primeiro lugar, não ter medo.
Se houver golpe, haverá resistência.
Em se tratando de luta política, a classe trabalhadora tem uma experiência atávica de séculos, ou mesmo milênios de luta. Toda a energia que andava adormecida, irá aflorar, e a mídia e as elites, achando que estão disparando uma bala de prata nas organizações trabalhistas, na verdade estarão tirando-as desta inevitável letargia que acomete toda organização que se burocratiza e se acomoda.
Sem querer parecer fatalista, mas infelizmente já o sendo, a guerra limpará o próprio governo e as altas instâncias partidárias, de boa parte de seus medíocres, covardes e incompetentes.
Por exemplo, já houve um avanço. A direita marcou uma manifestação para o dia 16 de agosto. A esquerda agora foi inteligente e marcou a sua manifestação para depois, o dia 20 de agosto, e não antes, como estupidamente fez em março.
Agora falta o governo e o PT criarem um conselho de inteligência política e gestão de crise. Já ficou claro que o ministério de Dilma não tem competência política. Uma renovação ministerial, com a nomeação de personalidades com prestígio social, seria uma excelente ideia. A inauguração de uma nova e ousada estratégia de comunicação, uma necessidade.
Enfim, todas as pesquisas, em 2014, falavam do desejo de mudança do brasileiro. A campanha da presidenta foi toda centrada na ideia de mudança para melhor.
Por que não promoveram mudanças? Por que não mudou ministros, diretores de estatais, oxigenando a máquina pública?
O mesmo Eduardo Cunha que hoje é um dos líderes do impeachment, nomeou inúmeros diretores de importantes estatais federais no Rio de Janeiro.
Não é hora de virar o jogo?
O governo precisa criar agenda política positiva, e isso não significa repetir essas ridículas reuniões inúteis entre membros do governo e lideranças sociais, e sim ações concretas, ousadas, inclusive macro-econômicas.
As medidas do ajuste fiscal se revelaram uma tenebrosa estupidez política, em vários aspectos. A questão do seguro-desemprego, que precisava mesmo ser tocada, foi feita sem diálogo, sem esclarecimento, sem estratégia.
Parece que o governo tentou, deliberadamente, se auto-sabotar e destruir a sua própria imagem. E ainda comprometeu o prestígio de sua própria bancada parlamentar nessa estratégia suicida!
Ora, que fizesse o ajuste fiscal de maneira inteligente, ajustando preços de maneira paulatina e organizada, explicando em detalhes, através de vídeos-reportagens, que era preciso mudar algumas coisas. E que o ajuste fiscal fosse feito paralelamente a uma grande agenda positiva, para não deprimir o cenário econômico. Dilma tinha de vir à TV para anunciar a agenda positiva, não o ajuste fiscal, que deveria ser implementado sem barulho, discretamente, e não ser tratado como principal bandeira do governo!
Na verdade, o governo deveria ter feito mudanças profundas em sua comunicação desde as jornadas de junho de 2013, que nada mais foram do que a explosão de uma profunda falta de sintonia entre governo e sociedade. Naquele momento, o governo deveria ter despertado de sua letargia e passado a investir pesado numa comunicação mais moderna, mais jovem, mais interativa, além de priorizar, na publicidade institucional, as mídias alternativas, e não a mídia tradicional.
O governo fez o contrário. A partir de junho de 2013, as verbas federais para Globo e similares registram um forte crescimento, ao mesmo tempo que declinam os repasses aos veículos alternativos.
A presidente e os ministros, a partir daqueles episódios, deveriam estreitar laços com esse mundo novo da comunicação, dando entrevistas ao Brasil de Fato, ao invés de fazê-lo à TV Veja…
O Brasil de Fato tem muito mais leitores, muito mais capilaridade, do que a TV Veja, então porque o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao invés de dar entrevista ao Brasil de Fato, coisa que nunca fez, prefere dar entrevistas à TV Veja?
Ou seja, após milhões de pessoas saírem às ruas vociferando contra as mídias tradicionais, o governo resolve prestigiar… as mídias tradicionais.
A classe média, por sua vez, não pode jamais ser tratada como um capital político perdido.
A classe média é fundamental para o governo, até porque ela representa hoje a maioria da população. O que se deve impedir, através do incentivo a um debate político de alto nível, com estímulo à pluralidade, é que as novas classes médias incorporem os preconceitos e rancores da classe média tradicional, o que é justamente o que vem acontecendo.
A ascensão do fascismo se deu através da exploração e manipulação das frustrações e irritações do povo e da pequena burguesia.
É muito parecido com o que está acontecendo hoje.
O momento difícil da economia, por sua vez, também ajuda a criar movimentos de ódio, por razões óbvias. Ao ver que a sua situação econômica pessoal se deteriorou, o cidadão tende a culpar o governo, ainda mais num país onde o sistema de comunicação é integralmente dominado pelo grande capital, e onde a presidenta abdica dos raros minutos a que tem direito, algumas vezes por ano, em tv aberta, de se comunicar com o povo.
Para piorar, o governo vem perdendo o controle sobre seus burocratas, os quais imprimem mudanças estúpidas, que afetam a vida de milhões de assalariados. Um leitor, que é eleitor e apoiador de Dilma, alerta que houve mudança no calendário do pagamento do PIS/Paseb. Antes, os pagamentos eram concentrados num ano só. Com a mudança, os pagamentos deste ano serão estendidos até 2016.
Ele me deu esse link para verificar o que ocorreu.
Alguém pode verificar se essa informação procede?
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No ano passado, houve a efeméride de 50 anos do golpe, e o governo não organizou nada grandioso para homenagear os que lutaram contra a ditadura. Perdeu uma chance gloriosa de denunciar o papel da imprensa na preparação do golpe e criação de um clima antigoverno, e, com isso, reduzir um pouco o poder de influência da mídia.
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Em relação à corrupção, o governo reage de maneira completamente destrambelhada, sem o mínimo de inteligência política.
Por que não compila e organiza os números de combate à corrupção em seu governo, e não os compara com os anos anteriores, mas de uma maneira humilde, explicando ao povo que o partido do governo, PT, também cometeu erros, tanto de corrupção quanto de omissão?
A Lava Jato tem de ser tratada com muito mais assertividade. O governo e o PT deveriam pedir desculpas por não ter montado sistemas de vigilância mais apurados e explicar, com transparência e honestidade, que medidas estão tomando para evitar novos desvios.
Por que não faz isso e ao mesmo tempo explica ao povo a importância, numa democracia, de um processo penal justo, sem sensacionalismo midiático?
Por que o Ministro da Justiça não oferece à sociedade uma campanha de esclarecimento, ao invés de nos deixar, a todos, à mercê dos ataques da mídia?
Vou repetir uma ideia já ventilada por Lula e que eu mencionei no post anterior: PT, PCdoB e outros partidos da base, tem dezenas de milhares de vereadores, deputados estaduais, prefeituras, secretarias, núcleos sindicais e movimentos sociais, em todo o país. Por que não se procura fazer uma estratégia de comunicação integrada, para fazer frente ao massacre diários dos grandes meios de comunicação?
Esta semana, estive em Brasília, e um assessor da liderança do PT na Câmara me disse, desolado, que o PT não tem sequer uma lista de emails de seus vereadores!
Agora que o partido se encontra numa de suas mais perigosas encruzilhadas históricas, não seria hora de adotar medidas inteligentes de comunicação?
No entanto, quem são os responsáveis pela comunicação do partido?
Antes era o tal André Vargas, um picareta, que aparentemente usou sua influência para conseguir publicidade da Caixa para agência de publicidade de seu irmão.
Será que não caiu a ficha, dentro do PT, que a comunicação é a área mais estratégica do partido, sobretudo porque o principal partido de oposição é a mídia?
Será que os dirigentes dos partidos governistas não entenderam que não adianta apenas investir no site do partido, ou distribuir jornalzinho com a logo do partido, sobretudo se a imagem deste partido está queimada na sociedade?
Quem vai ler o site do PT?
É preciso criar estratégias supra-partidárias de comunicação. Os partidos têm de se abrir para a sociedade, para a academia, para os centros de pesquisa, para os estudantes.
Por que a TV Brasil não abriu seus espaços, de maneira aberta e contundente, para que os jovens e estudantes fizessem campanha contra a maioridade penal?
Não é republicano? A TV Brasil tem de dar o mesmo espaço para Feliciano e Bolsonaro e para os estudantes?
Não. Tanto que vários próceres da esquerda tem espaço por lá.
Por que a TV Brasil não produz material exclusivo para a internet? Por que o governo não cria o seu próprio Netflix?
Por que o governo não tenta resgatar parte da classe média tradicional através de algumas coisas simples, como prêmios de literatura? Isso é o tipo de coisa que a grande mídia, brasileira e mundial, é forçada a repercutir.
Enfim, a esquerda, em tese, ainda tem a caneta em mãos. Ainda tem a presidência da república. Ainda tem dezenas de deputados federais, vários senadores, milhares de prefeitos, vereadores, deputados estaduais, dirigentes sindicais, estudantis.
A esquerda brasileira ainda tem força, sem contar que venceu as eleições de 2014.
Mas está desgovernada, sem um centro, sem liderança política.
Lula é uma expectativa, mas qual o poder de Lula? Que medidas de governo ele pode tomar? Ele pode demitir algum ministro?
Liderança política, é bom lembrar, se constrói aos poucos, através de uma relação de confiança.
Enquanto o ministro da Justiça continuar dando entrevista à TV Veja, e somente à TV Veja, desprezando até mesmo a TV Brasil, sem usar internet, sem participar do debate político, como esperar confiança dos movimentos sociais e da esquerda?
Estarei delirando, ou o ministro espera conquistar – num momento como esse – a confiança da direita?
A esquerda, por sua vez, espera sinais e ações concretas do governo para que possa defendê-lo.
Enquanto isso, a direita avança.
A cada dia de silêncio e inação do governo e do PT, a direita cresce e avança.
E se prepara para assestar os seus golpes mais fortes, mais perigosos, mais fatais, no mês de agosto.