Em tempos sombrios, nada como um pouco de humor mórbido.
Reproduzo abaixo, dois textos curtos do professor Wanderley, que me parecem bem antenados com o “zeitgeist”.
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Vem pro ciclo você também
Por Wanderley Guilherme, em seu blog.
Com excelentes indicadores de desemprego (em alta), juros (idem) e atividade econômica (em baixa) a alegria dos algoritmos governamentais não poderia ser mais vibrante. Finalmente surgiram os sintomas de saudável recessão, prelúdio insofismável de futuro crescimento econômico com contas públicas em que a coluna do “deve” se apresentará igual à coluna do “haver”. Claro, o governo será um dos raros agentes econômicos em que tal coincidência ocorrerá, ao custo fixo de que a maioria da população se angustie no vermelho, com o “deve” muitas vezes superior ao “haver”. Não se sabe por quanto tempo há de durar o êxtase dos contabilistas. Há teorias sobre o ciclo econômico para todo gosto, além das clássicas de Clement Juglar, de Simon Kuznets e de Nikolai Kondratieff. O tópico, naturalmente, criou uma profissão, tanto mais bem remunerada quanto mais longo for o período de morbidez social. Mas é inevitável a retomada do dinamismo dos negócios, dos investimentos, da criação de emprego e de aumentos salariais em algum momento futuro. Os algoritmos ministeriais soltarão foguetes, como é costume pelo mundo a fora, anunciando que o renascimento resulta da política paralisante que patrocinaram. Balela. Os sinais de vida têm raiz na letargia reinante e ninguém sabe por que cargas d’água eles aparecem. Tudo o que se pode dizer, e em resumo era o que Juglar imaginava, é que há um despertar simplesmente porque havia letargia, esta sim encomendada pelos algoritmos. Granítico exemplo de um mal personalizado corrigido por um bem coletivo.
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É correta a tese de que a esquerda não é dona do governo; por igual, o governo não é dono da esquerda.
Sem confiança o empresariado não investe, sem investimento a economia não adquire dinâmica e sem dinamismo econômico o empresariado não assume riscos.
Não existe almoço grátis.
Três declarações que não levam a coisa alguma.