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Uma análise sombria e divertida de Wanderley Guilherme

Em tempos sombrios, nada como um pouco de humor mórbido. Reproduzo abaixo, dois textos curtos do professor Wanderley, que me parecem bem antenados com o “zeitgeist”.   *** Vem pro ciclo você também Por Wanderley Guilherme, em seu blog. Com excelentes indicadores de desemprego (em alta), juros (idem) e atividade econômica (em baixa) a alegria […]

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Em tempos sombrios, nada como um pouco de humor mórbido.

Reproduzo abaixo, dois textos curtos do professor Wanderley, que me parecem bem antenados com o “zeitgeist”.  

***

Vem pro ciclo você também

Por Wanderley Guilherme, em seu blog.

Com excelentes indicadores de desemprego (em alta), juros (idem) e atividade econômica (em baixa) a alegria dos algoritmos governamentais não poderia ser mais vibrante. Finalmente surgiram os sintomas de saudável recessão, prelúdio insofismável de futuro crescimento econômico com contas públicas em que a coluna do “deve” se apresentará igual à coluna do “haver”. Claro, o governo será um dos raros agentes econômicos em que tal coincidência ocorrerá, ao custo fixo de que a maioria da população se angustie no vermelho, com o “deve” muitas vezes superior ao “haver”. Não se sabe por quanto tempo há de durar o êxtase dos contabilistas. Há teorias sobre o ciclo econômico para todo gosto, além das clássicas de Clement Juglar, de Simon Kuznets e de Nikolai Kondratieff. O tópico, naturalmente, criou uma profissão, tanto mais bem remunerada quanto mais longo for o período de morbidez social. Mas é inevitável a retomada do dinamismo dos negócios, dos investimentos, da criação de emprego e de aumentos salariais em algum momento futuro. Os algoritmos ministeriais soltarão foguetes, como é costume pelo mundo a fora, anunciando que o renascimento resulta da política paralisante que patrocinaram. Balela. Os sinais de vida têm raiz na letargia reinante e ninguém sabe por que cargas d’água eles aparecem. Tudo o que se pode dizer, e em resumo era o que Juglar imaginava, é que há um despertar simplesmente porque havia letargia, esta sim encomendada pelos algoritmos. Granítico exemplo de um mal personalizado corrigido por um bem coletivo.

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Últimas palavras

É correta a tese de que a esquerda não é dona do governo; por igual, o governo não é dono da esquerda.

Sem confiança o empresariado não investe, sem investimento a economia não adquire dinâmica e sem dinamismo econômico o empresariado não assume riscos.

Não existe almoço grátis.

Três declarações que não levam a coisa alguma.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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