Queridos leitores e estimadas leitoras, amanhã haverá, aqui no Rio, uma série de eventos do Ministério da Cultura, para marcar o lançamento da Política Nacional de Artes. Tudo será transmitido ao vivo pelo site da pasta.
A página do evento é esta. Ao final do post, reproduzo texto sobre o tema.
A iniciativa marca uma das principais mudanças dessa gestão Juca em comparação à anterior, no governo Lula. Num debate do qual participei, o ministro admitiu que, em sua primeira gestão, não deu a atenção devida à cultura enquanto arte; o ministério tinha uma visão bastante fechada da cultura como fenômeno sociológico, e não propriamente artístico.
Dessa vez, Juca quer dar mais atenção à arte, e essa foi uma das razões de ter convidado Francisco Bosco para dirigir a Funarte.
A blogosfera, e me refiro a mim mesmo, também precisa fazer uma autocrítica. Conseguimos criar uma brecha importante no debate político.
No campo da cultura, porém, onde a ditadura da mídia se faz presente como talvez em nenhum outro setor da nossa economia, os blogs ainda não fizeram diferença.
Existe uma contradição latente: a produção cultural nunca se aconteceu tão distante e de maneira tão independente da mídia; e, no entanto, a mídia velha continua exercendo uma hegemonia não-saudável no setor.
As manifestações culturais independentes encontram dificuldade para estabelecer uma narrativa influente no debate público.
O Brasil não discute mais cinema, não discute mais literatura, não discute artes plásticas. Nem música.
Neste sentido, acho que retrocedemos. A mídia só pensa em política, em derrubar governos. Seus cadernos culturais se tornaram raquíticos e inúteis.
As revistas culturais faliram quase todas, ou estão à beira de, por absoluta falta de leitores.
O Cafezinho sempre quis criar uma seção cultural. De vez em quando eu faço planos sobre isso. Outro dia mesmo, fiz uma longa entrevista presencial com Paulo Sergio Almeida, o Paulinho, criador do Filme B, uma empresa espetacular, especializada em análise do mercado brasileiro de cinema. Mas ainda não consegui publicar.
Na entrevista falamos dos problemas do cinema brasileiro. A Ancine, apesar de gerida pelo simpático Manoel Rangel, é odiada por gregos e troianos. Há problemas graves na política federal para o audiovisual, e eu gostaria de veicular as críticas construtivas do setor.
É incrível, por exemplo, a magnitude dos investimentos do Estado chinês no mundo do cinema. Os chineses estão comprando parte de Holliwood, porque entenderam a importância do cinema na produção de capital simbólico, e a importância do capital simbólico nas disputas geopolíticas pelo poder mundial.
Falta o Brasil entender também. O mercado brasileiro está desorganizado. A grande mídia, naturalmente, atrapalha profundamente as livres iniciativas do setor.
É impressionante como os recursos da cultura giram, giram, giram e acabam sempre em mãos da Globo, por exemplo.
Em relação à literatura, que é minha grande paixão, também gostaria de colaborar de alguma maneira. Tudo que sei, tudo que sou, eu devo à literatura, à Dostoiésvki, Machado, Lima Barreto, Kafka, Rimbaud, Guimarães Rosa, etc. E acho que um dos problemas da política foi ter esquecido a sua origem: a poesia. Sem poesia, a política não tem graça, nem inteligência, nem carisma, e daí se corrompe rapidamente.
O Brasil vive um momento árido para sua literatura, porque os escritores têm poucos espaços de crítica. A mídia tradicional tem tratado a literatura brasileira contemporânea com incrível indiferença.
Além disso, houve uma mudança profunda na relação do jovem com a leitura. Se os brasileiros já liam pouco, com a febre das redes sociais, agora não lêem mais nada mesmo. Quer dizer, não lêem livros, mas lêem o que gostam na internet. Então é preciso ter uma política específica, para recuperar o hábito de leitura de livros, e integrá-lo, de alguma maneira, à rotina do jovem nas redes sociais. Nisso os blogs políticos, que têm uma audiência muito expressiva, podem ajudar. Deve-se apostar em mais interação entre autor e leitores. Talvez esse seja o caminho.
Enfim, quem estiver no Rio amanhã, apareça ao menos no Circo Voador, à noite, para o show do Emicida. O ingresso é um quilo de comida. Quem não estiver, acompanhe pela internet.
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Construção do PNA terá quatro eixos de participação popular
Por Camila Campanerut, no site do Ministério da Cultura.
08.06.2015 – 17:50
Quatro eixos de ações concentram as contribuições para a elaboração da Política Nacional das Artes, cujo lançamento oficial ocorrerá nesta terça-feira, dia 9, com a realização de um seminário ao longo do dia.
O Seminário de Lançamento do processo de elaboração da Política Nacional das Artes, com programação das 9h às 18h30, ocorrerá na sede da Funarte, no Rio de Janeiro. O evento irá intercalar apresentações artísticas com debates sobre os planos setoriais das seguintes áreas: artes visuais, circo, dança, literatura, música e teatro. Para encerrar as atividades, haverá um show do rapper Emicida, às 21h, no Circo Voador.
A Política Nacional das Artes será um conjunto de políticas públicas atualizadas, fundamentadas e duradouras para as artes. As discussões de ações para cada um das linguagens partirão dos estudos e documentos levantados nos últimos 10 anos pelos Colegiados Setoriais, grupos formados por técnicos do MinC e representantes da sociedade civil.
Um dos eixos de ação será a “Caravana das Artes”. Essa caravana, formada por um grupo de consultores, articuladores e integrantes do MinC e da Funarte, percorrerá as 27 unidades da federação a partir do segundo semestre deste ano, ouvindo os setores ligados às artes visuais, circo, dança, literatura, música e teatro, em rodas de conversa.
Outro eixo se desenvolverá por meio da parceria com a Fundação Casa de Rui Barbosa, onde serão realizados seminários sobre temas específicos relacionados às políticas das artes como “Artes e Educação”, “Economia das Artes”, “Marcos legais da cultura”, entre outros.
O terceiro será uma série de encontros setoriais cujo recorte é a linguagem artística, para que se debata problemas e sugestões específicas. Ja foram realizados dois: Encontro com o Teatro e Encontro com o Circo.
O quarto eixo é digital. Será aberta uma plataforma digital para receber colaborações de qualquer cidadão interessado em participar, gerando mais mobilização e garantindo um caráter amplamente democrático ao processo.
As propostas recebidas por todos os eixos serão sistematizadas e consolidadas pelo grupo de consultores, articuladores e pelo comitê executivo de forma que a Política Nacional das Artes esteja concluída no começo de 2016.
A Política Nacional das Artes orientará também a reestruturação da Funarte (Fundação Nacional das Artes) no sentido de torná-la capaz de atender às suas atribuições de desenvolver de políticas públicas de fomento às artes visuais, circo, dança, literatura, música e teatro.