Muito boa a entrevista da Conceição Lemes, do Viomundo, com Wadih Damous, deputado federal (PT-RJ), sobre a escalada do sectarismo político no país.
Eu separei um trecho da entrevista que me pareceu particularmente interessante.
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“Wadih Damous — Retrata, sim. Esses grupos de extrema direita, fascistas, estão sendo incentivados inclusive por partidos de uma oposição, com certa complacência da grande imprensa. Eles entraram livremente no Congresso, foram lá provocar e cercaram a deputada Maria do Rosário. Eles foram recebidos democraticamente, mas depois dessas atitudes antidemocráticas acabaram prontamente repudiados ali.
Aliás, esse episódio retrata as manifestações de uns tempos para cá em que grupos fascistas clamam por golpe de estado e intervenção militar. Estes acabam incentivando o que alguns integrantes do Revoltados OnLine fizeram na quinta-feira no Congresso.
Viomundo – Quando questionado, um Revoltado Online clamou por liberdade de expressão. Isso é liberdade de expressão?
Wadih Damous — Claro que não é. Nenhum jornalista profissional de qualquer órgão de imprensa se dirige às pessoas que dizem querer entrevistar da forma como eles se dirigiram. Eles estavam se comportando de forma intimidativa e provocativa. Eles não são vítimas do cerceamento à liberdade de imprensa. Eles foram repudiados porque não passam de agentes provocadores.
Viomundo – O senhor chega à Câmara dos Deputados num momento em que assistimos ao avanço da criminalização dos movimentos sociais e da própria política. Além disso, parte do judiciário age sistematicamente contra o PT e protege deslavadamente o PSDB.
Wadih Damous — Eu concordo plenamente com você. Isso é patente. Isso se vive no dia a dia. Veja as manifestações contra o ex-ministro Mantega em São Paulo [No Hospital Albert Einstein e em um restaurante]. A manifestação contra o ex-ministro Padilha [num restaurante].
São diversos os relatos de parlamentares e de filiados ao PT nas suas cidades, nos seus estados, que sofrem hostilidades abertas, chegando a agressões morais, muitas vezes quase às vias de fato. Então, nós estamos vivendo um momento muito difícil. E isso, sem dúvida, parte de um movimento orquestrado de criminalização da política em geral. E, em particular, do PT.
É como se quisessem dizer: a política é um ambiente de criminosos e que os maiores criminosos são os petistas.
Isso é muito perigoso para a democracia.
Primeiro, que isso não é verdade.
Segundo, revela intolerância. Mostra que não há disposição para o diálogo, para o amplo e livre debate de ideias e projetos, mas sim de eliminação de um inimigo. O nome disso é fascismo. Não há outro nome para designar esse tipo de comportamento.
Viomundo – E sobre a postura do Judiciário que age sistematicamente contra o PT e alivia descaradamente para o PSDB, o que o senhor tem a dizer? Por que o Judiciário age dessa forma?
Wadih Damous – De fato, isso está acontecendo e é muito perigoso. Eu tenho alguns amigos juízes – obviamente são juízes esclarecidos, de mente aberta –, que me contam que é impressionante a hostilidade ao PT nas diversas redes intranet.
Como fica fechado, não se tem acesso, não se tem como pegá-los. Mas esses juízes deveriam se dar por suspeitos em qualquer processo que envolvesse o PT ou militantes do PT. Isso a que você se refere é um sentimento ideológico não de todos os juízes, mas de importantes segmentos da Magistratura, inclusive no Supremo Tribunal Federal.
Isso é perigoso. Ao mesmo tempo, muito preocupante, porque o que um cidadão espera de um juiz é, antes de mais nada, honestidade e imparcialidade. O juiz parcial é o que pode haver de pior em termos de estado democrático de direito.
Viomundo – Como sair dessa situação, já que a sociedade civil não tem como interferir no Judiciário?
Wadih Damous — O momento está exigindo coragem e paciência.
Viomundo — O senhor já presidiu a OAB-RJ, a Comissão de Direitos Humanos da OAB nacional. Portanto, tem experiência legítima na área e competência comprovada. Esses ataques que os parlamentares do PT e do PSOL sofreram na quinta-feira e que assistimos diariamente contra os movimentos sociais, contra a política e contra o PT, o senhor já tinha visto antes? Esse quadro atual tem paralelo com que momento da história do Brasil?
Wadih Damous – Eu não presenciei nada igual. Os mais antigos dizem que é um quadro parecido ao que vitimou o Partido Comunista Brasileiro [o PCB, que ficou conhecido como Partidão] no final da década de 40 e na década de 50, época em que o PCB foi colocado na ilegalidade.
Agora, era um contexto internacional, de guerra fria. Tratava-se de uma luta ideológica que resvalou para a perseguição e a intolerância.
Mesmo personagens daquela época, militantes antigos do Partido Comunista Brasileiro, me contam que não viveram nada parecido com o que está acontecendo com o PT.”
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Entrevista completa no blog Viomundo.