Na minha situação, como vocês sabem, não posso esperar agrado nenhum da mídia.
Por isso me perdoem um pouco de cabotinismo de vez em quando; é algo necessário para me defender dos ataques dos adversários, que crescem na proporção exata em que o blog amplia sua audiência.
Apesar do estilo às vezes carbonário, sou um sujeito pacato e moderado
Não tenho partido – embora eu seja transparente, como convêm a um blogueiro, em relação às minhas simpatias políticas.
Acredito na importância da meritocracia e no estímulo ao empreendedorismo; e na liberdade como faísca criativa que nasce no indivíduo e incendeia – transformando – o mundo.
Entretanto, diante do radicalismo conservador da nossa mídia e de seu exército de zumbis, sinto-me um subversivo, um jacobino, um revolucionário.
Seria porque eu defendo um Estado forte e democrático, que proteja os mais pobres, os fracos e oprimidos?
Defendo um sistema penal humanista, infenso tanto aos anseios de brutalidade do “senso comum” quanto às pressões da mídia.
Defendo um sistema judiciário que proteja o pobre, porque ele é excessivamente vulnerável às violências e perseguições do Estado; e também o rico, contra as conspirações políticas de outros ricos.
Essa é uma virtude da qual me orgulho. Sempre que assisto os aparelhos repressores do Estado se juntarem à mídia e ao populacho para linchar moralmente um cidadão, eu me posiciono, por princípio, ao lado do cidadão.
Acho que uma imprensa que se diz livre e defensora da liberdade deveria estar sempre ao lado do indivíduo, para ser um contrapeso democrático ao poder descomunal do Estado quando este se põe a perseguir alguém.
Devemos fazê-lo mesmo se a pessoa for culpada. Se desconfiarmos que ela pode ser inocente, ou menos culpada do que diz a mídia, então é um imperativo moral!
Aqui é o contrário. A imprensa se posiciona sempre, covarde, ao lado do Estado. E ainda se diz liberal!
Postou-se ao lado dos generais golpistas, em 1964, e agora se alinha aos juízes justiceiros – quer dizer, isso se não é antes ela que estimula os justiceiros, dando-lhe até prêmios.
Uma imprensa democrática deveria defendê-lo mesmo que sobre esse indivíduo recaiam inúmeras suspeitas, ou sobretudo neste caso, porque seria fácil demais, e oportunista, defender apenas santos.
Tenho horror a essa visão policialesca da política. Não quero ver nenhum adversário político ser preso antes de ser devidamente julgado, num processo limpo, sem pressões de mídia.
Na política, meu objetivo e meu prazer é obter vitórias nas urnas, não nas barras de tribunais, não em julgamentos intoxicados pelas paixões partidárias.
A prova da indigência mental de nossos “liberais” fica patente na complacência com que assistem a estes processos de linchamento midiático, onde pessoas são presas apenas para se criar um circo político.
Um verdadeiro liberal prezaria, acima de tudo, os direitos constitucionais do indivíduo, o direito à dignidade e à presunção da inocência.
Defendo, sobretudo, uma mídia plural, que reflita a diversidade de opiniões no país.
Não quero fechar nenhum jornal, nenhum canal de TV. Quero apenas mais pluralidade.
A concentração da mídia brasileira, acredito eu, é uma das principais doenças que corróem a nossa democracia.
Pensar assim é outra razão para eu ser considerado “radical” no mundinho mofado da imprensa corporativa.
Pessoas como eu, na atual conjuntura política do Brasil, são hostilizadas ostensivamente pela mídia.
Em geral, sua arma mais poderosa é fingir que não existimos.
Por isso eu sempre fico um pouco surpreso quando alguma instituição me chama para participar de um seminário, dar uma palestra.
São eventos que provam que eu existo, e que não sou um leproso político. Que as pessoas estão lendo O Cafezinho e formando opiniões.
Tem sim alguma coisa mudando substancialmente nas camadas mais profundas da sociedade brasileira.
No ano passado, fui convidado como palestrante em dois seminários na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Um foi organizado pela faculdade de direito, sobre segurança pública, onde havia uma mesa sobre mídia.
Outro foi no curso de Ciências Políticas, numa mesa também sobre mídia.
Este ano, participei de um seminário na PUC Minas, onde fui tratado com um carinho especial pelos professores e diretores da faculdade de comunicação. É um curso de tradição progressista e, por isso, admira os blogueiros pelo sopro de diversidade que trouxeram ao debate político no país.
E no último dia 24 de maio, fui o palestrante principal do II Fórum dos Jornalistas do Sul Fluminense, organizado pelas duas únicas faculdades – privadas – de Barra Mansa. As fotos no alto do post são deste evento. Sugiro dar uma olhada também na Carta de Barra Mansa, onde os participantes do fórum expuseram os princípios gerais da Associação de Jornalistas do Sul Fluminense, que eles acabaram de criar.
Por pouco não participei de um workshop de 4 horas, ministrado por mim, seguido de uma longa palestra de duas horas, num evento em Assis, interior de São Paulo, organizado por alunas de psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Segunda e terça-feira agora estarei em Macaé, convidado pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense. O Cafezinho tentará exibir os debates aqui no blog, ao vivo.
Não participarei apenas cobrindo, mas conversando com os petroleiros.
Essa é a diferença de um jornalista para um blogueiro. O blogueiro não é um robô a serviço de uma corporação. Ele é um cidadão que participa do processo político. Ele não está fora do mundo, olhando as coisas de cima, fingindo imparcialidade. Ele está dentro do mundo, olhando e sendo olhado, olhando e discutindo o olhar. Olhando a si mesmo e se autocriticando permanentemente.
Os trabalhadores do setor de petróleo estão, naturalmente, amargurados com o mau caratismo sem limite da nossa imprensa, tentando manipular a todo custo os importantes processos de depuração que, finalmente, acontecem no setor. Pior, estão usando esse processo para fechar empresas, produzir uma crise e forçar retrocessos que, naturalmente, beneficiarão apenas meia dúzia!
Enfim, enquanto os cães tentam morder meus pés, eu continuo correndo bem à frente deles, e o Cafezinho se torna cada dia mais forte, com visitação diária chegando perto dos 100 mil pageviews/dia. Se eu tivesse uma estrutura um pouquinho melhor, ou seja, se tivesse uma equipe de um ou dois funcionários, poderia facilmente triplicar essa audiência. Mas chegaremos lá em seu devido tempo!
Desculpem-me mais uma vez pelo cabotinismo. Eu precisava deixar registrado essas minhas modestas vitórias. Não sou santo: não resisto ao prazer de causar um pouco de inveja em meus adversários.
Obrigado a todos pela honra de sua visita!