A derrota da proposta de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, na votação da reforma política, realizada nesta terça-feira, muda a química em Brasília.
O distritão perdeu.
O financiamento privado das campanhas eleitorais por empresas perdeu.
O Distritão iria aumentar a presença, na Câmara, de celebridades da TV, jogadores de futebol, famosos em geral, em detrimento de lideranças com base popular.
Não entendi porque o PCdoB votou em favor do Distritão. Obviamente foi um erro político crasso. Os comunistas perderam duplamente: escolheram o lado errado e ainda foram derrotados.
A derrota da emenda que incluiria o financiamento privado por empresas na Constituição tem ainda um efeito colateral magnífico: desmoraliza completamente o ministro Gilmar Mendes, que há mais de um ano pediu vistas numa votação do STF que o proibiria. A mídia tem blindado Gilmar com todas as forças, porque lhe interessa manter o status quo, em que o dinheiro domina a política.
A derrota de Cunha mostra ainda que uma parcela dos deputados tem opinião própria. E enterra, de vez, qualquer papo sobre impeachment.
Se não consegue aprovar nem o Distritão, que teve o apoio maciço do PMDB, da oposição e até mesmo de algumas legendas da base do governo, como esperaria fazer tramitar uma votação pelo impeachment?
A essa derrota dupla, do distritão e do financiamento empresarial, temos que somar a aprovação de Luiz Fachin para o STF, o “plano Marshall” da China, e a aprovação do pacotão de maldades do ajuste fiscal.
Houve, sem muito alarde, uma reviravolta em Brasília.
Tudo isso com a Globo fazendo campanha aberta para a oposição “desestabilizar” o governo. E a Folha de São Paulo defendendo impeachment em editorial.
E a imprensa corporativa batendo tambor 24 horas por dia com a Lava Jato, transformada numa lamentável e tristonha conspiração midiático-judicial.
Por falar em Lava Jato, saiu a sentença de Nestor Cerveró. Como era de se esperar, Sergio Moro o condenou sumariamente.
Meus amigos advogados estão perplexos com as incoerências da sentença. Em primeiro lugar, a rapidez com que foi escrita. O juiz determina a sentença após ouvir pela última vez os réus. Hoje em dia, o juiz escreve na hora, durante o julgamento. Por isso, em geral, ele pede tempo para publicá-la.
Moro escreveu cento e tantas páginas em alguns minutos. Ou seja, a sentença já estava escrita antes.
Outro amigo advogado fala que Moro contraria a própria jurisprudência que cita. Moro menciona a jurisprudência do Supremo Tribunal espanhol sobre o acusado estar em posso de bens que não teria condições de adquirir. E daí condena Cerveró por comprar um apartamento de 1,5 milhão de reais.
Ora, Cerveró tinha renda mensal de 150 mil reais! Era um altíssimo funcionário da Petrobrás há décadas.
Podia comprar meia dúzia apartamentos de 1,5 milhão de reais, apenas com dinheiro de seu salário, se quisesse.
O Moro é especialista nessa tese: não há provas, mas a literatura me permite condená-lo…
Para o senso comum, fez-se a justiça. Para a Globo basta isso.
Na verdade, todavia, provavelmente testemunhamos mais um capítulo dessa interminável novela global de agressões judiciais, em nome do mais rasteiro jogo político.
A sentença do Cerveró está aqui. Os leitores podem consultar e fazer qualquer crítica, caso eu tenha falado alguma besteira.
*
Ontem eu estive em Barra Mansa, sul fluminense, como palestrante num seminário de jornalismo organizado pelas duas faculdades de jornalismo da cidade, que é a maior da região, com 178 mil habitantes.
Ao final do evento, jornalistas, estudantes e professores criaram uma associação de jornalismo do sul fluminense. A carta de fundação é forte e progressista, com denúncias contra a concentração dos meios de comunicação.
Essa é a razão do desespero da mídia, e explica porque ela tentou emplacar Aécio na presidência: ela está perdendo a batalha de ideias aqui na planície.
Os professores de jornalismo não tem mais coragem de apontar os grandes meios de comunicação como modelos a serem seguidos.
A crise da mídia é, sobretudo, uma crise ética.
Esse foi o tom da minha palestra. Os jornalistas não podem mais aceitar serem peças baratas, descartáveis, de uma engrenagem de manipulação, que visa apenas perpetuar iniquidades e injustiças.
josé safrany
27/05/2015 - 20h59
Menos mal que rejeitaram os monstrengos da direitona venal e fascista, encabeçada pelos demo-tucanos e assemelhados! Agora é preciso pressionar para que respeitem ainda mais o povo e acabem com as bandalheiras de vencimentos e ajudas milionárias, projetos megalomaníacos e corruptos de shopping no Congresso e quetais.
Precisam é aprovar um projeto determinando, por fim, conforme reza a Constituição Federal de 1988 (obrigatório!) da AUDITORIA DA DÍVIDA PÚBLICA, que já consome cerca de 50% de todo o orçamento federal (mais de 70%, com certeza é FRAUDE, conforme aconteceu no Equador, que tem o mesmo perfil da nossa, conforme descobriu a nossa brilhante auditora, reconhecida internacionalmente como das melhores no assunto, Dra. Maria Lúcia Fatorelli. Vamos lá, já!!!
Paulo
27/05/2015 - 20h21
Vejo a tática do PCdoB como leilgitima, já que tinham a perspectiva de uma derrota maior.
http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2015/05/27/pcdob-justifica-em-nota-acordo-pelo-distritao/
Paulo
27/05/2015 - 20h17
http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2015/05/27/pcdob-justifica-em-nota-acordo-pelo-distritao/
Pafúncio Brasileiro
27/05/2015 - 18h38
Está claro que havia, atrás da cortina, uma dobradinha Cunha-Gilmar, neste caso de votação pela continuidade de dinheiro de empresas em campanhas políticas. Será que o stf não vai fazer nada naquele julgamento “chicaneado” pelo Gilmar ?
Ivan Anderson T. Ilitch
27/05/2015 - 16h31
A bola agora está com o STF. Ricardo Lewandowski deve fazer valer o regimento interno e colocar em votação os pedidos de vista.
Julio
27/05/2015 - 12h58
Fala Miguel,
Sempre bom ler seus textos!
Só uma observação : o PC do B fez acordo pelo distritão para em troca da expectativa da extinção de pequenos partidos. E deu exemplo de coerência. Todo mundo votou junto.
Claro que foi uma opção equivocada, pelo retrocesso representado pelo distritão. Mas é valioso perceber que falam e cumprem. Por trás do ero crasso, está uma atitude exemplar e ética : quando falam está falado.
É sem dúvida nenhuma o parceiro mais confiável do governo.
Há que se pensar no contexto em que se debate “frentes de esquerda” o quanto o PC do B tem sido importante nesses 12 anos.
Abs,
Julio
Miguel do Rosário
27/05/2015 - 13h51
Entendi
Vani Moura Guarani Kaiowá
27/05/2015 - 15h22
Os pessimistas tomaram …
Fabio
27/05/2015 - 11h21
E o fim da reeleição para o Poder Legislativo, porque não está em nenhuma proposta da reforma politica, alguém sabe?
Mario Sergio
27/05/2015 - 14h12
Ainda há deputados em Brasilia.
Katia Galvão
27/05/2015 - 13h39
Muito bom estar viva para ler isso……….
Luiz Pereira Rosa
27/05/2015 - 12h41
Agora o Gilmar Mendes pode liberar o pedido de vistas….kkkkk
Josely Brasil
27/05/2015 - 12h38
Boa!
Vitor
27/05/2015 - 09h36
A questão do apartamento do Cerveró não é estar em nome de uma offshore no Uruguai?
Miguel do Rosário
27/05/2015 - 10h16
Se for isso, pior ainda. Os Marinho tinham bilhões, em vários offshores, usaram o dinheiro para sonegar, e nunca foram presos ou condenados.
Vitor
27/05/2015 - 10h38
Ah, mas deveriam… Eu sinceramente não conheço o caso do Cerveró, mas se alguém mora de favor em um apartamento que vale milhões e está em nome de uma offshore que ninguém conhece o dono, algo não cheira bem…
Miguel
27/05/2015 - 13h50
Milhões não, 1,5 milhão e ninguém pode ser preso ou condenado porque “não cheira bem”
manoel
27/05/2015 - 14h12
Concordo
Vitor
27/05/2015 - 16h58
Que seja R$ 1,5 milhão (apesar de achar o valor estranho para o tipo de apartamento em Ipanema).
A questão é que uma hora o AP não era dele, depois era, depois ninguém sabe de quem é… Essa história é muito mal contada. E não acho que ele tenha que ser preso por isso, mas acho que é preciso investigar muito a fundo, pois não parece coisa boa.
Depois da investigação, e se ele for culpado, deve prender, não antes disso.
Eu não concordo com essa condenação do Moro, mas realmente acho que ele tem culpa no cartório…
Miguel do Rosário
27/05/2015 - 17h08
Ok, você “acha” que ele tem culpa no cartório. Pode até ser. Nunca disse que ele é santo. Minha crítica é que se fôssemos prender cidadãos porque achamos que eles tem culpa no cartório, teríamos que prender metade da população brasileira.
Vitor
27/05/2015 - 18h46
Nisso eu concordo plenamente!
JOÃO BATISTA
27/05/2015 - 09h25
Também ontem, uma derrota para o presidente do senado, Renan Calheiros, na votação da MP 664.
Cunha e Renan não estão num bom momento… Parece que o castelo começa a ruir…
Romperam com o PT e a esquerda, têm o desprezo do PSDB e da direita e um inquérito nas costas.
Derrotados e investigados. Em breve, indiciados!
Regina Ribeiro
27/05/2015 - 12h22
Ricardo Araujo Souza
Telma Prado
27/05/2015 - 11h51
Toma!
Telma Prado
27/05/2015 - 11h51
Toma!
Iracema Lima
27/05/2015 - 11h48
#ChupaCUnha!
Iracema Lima
27/05/2015 - 11h48
#ChupaCUnha!
Marcelo Santos
27/05/2015 - 11h47
Alexandre Garcia disse agora de manhã que o pt tirou o direito do líder comunitário se eleger…pqp. Jornalistas capangas..cumplices..vendido
Jose Horacio Phipps
27/05/2015 - 10h37
risos.. palhaçada.. O PSDB liberou bancada..
Entao fica combinado: qualquer resultado que der, podem tocar o pau no governo e
PT..
Isso explica a “lógica Alexandre Carcínica”…
Guilherme Kroger
27/05/2015 - 08h46
Ameaçado, PCdoB deve apoiar distritão de Cunha:
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/05/26/interna_politica,651665/ameacado-pcdob-deve-apoiar-distritao-de-cunha.shtml
Arthur Caria
27/05/2015 - 11h38
Tomou no Cunha
Arthur Caria
27/05/2015 - 11h38
Tomou no Cunha
Marcelo Volcato
27/05/2015 - 11h35
Depois dessa bordoada ele perdeu o “nha” do sobrenome.
Alexandre Peres
27/05/2015 - 11h28
Outra reviravolta, Marin da CBF preso na Suíça!