Parece que subestimamos um pouco a nossa presidenta.
Em novembro do ano passado, mencionei uma jogada política astuta dela, ao “deixar rolar” a Lava Jato. Num post intitulado “O xeque-mate de Dilma em seus adversários“, eu fazia a seguinte especulação: que a investigação na Petrobrás iria deixar um rastro destruidor, mas que o setor renasceria renovado, e a presidenta levaria os louros de ter sido a primeira governante a realmente liderar uma verdadeira luta contra a corrupção. Dilma teria lutado à sua maneira, de maneira republicana, democrática, como convêm a um estadista (a quem não compete o papel de juiz ou polícia), não intervindo, em silêncio, dando autonomia inclusive a setores explicitamente hostis ao governo.
Era uma jogada arriscada, mas astuta.
Não foi um xeque-mate, porém. O jogo ainda estava longe de terminar.
Do final do ano até hoje, a mídia conseguiu diversas vitórias: elegeu Cunha, conseguiu impor a narrativa de que a corrupção na Petrobrás “nasceu” com o PT, e continuou vazando delações de maneira seletiva.
Por fim, Sergio Moro mergulhou na piscina barbosiana, recebeu o prêmio Faz Diferença, da Globo, e assumiu orgulhosamente o papel de juiz político, mais interessado em holofotes do que em justiça.
A prisão de Vaccari & família selou a sua imagem de carrasco implacável.
Então eu – e a torcida de todos os times, à esquerda e à direita – passamos a criticar duramente a presidenta Dilma.
A conspiração parecia ter saído do controle. O PSDB, com apoio explícito da mídia, passou a falar diariamente em impeachment. Todos os dias, os jornais catavam no baú algum pretexto para derrubar a presidenta. A palavra golpe se tornou companheira nossa de cada dia.
A direita botou milhões de coxinhas psicóticos na rua, pedindo intervenção militar.
E os procuradores se mostraram determinados a destruir as empreiteiras, para produzir, deliberadamente, recessão e desemprego, criando uma atmosfera propícia ao impeachment.
Dilma, mais uma vez, parecia entregar várias peças importantes, e não demonstrava nenhuma reação.
Até que ela… jogou.
E novamente aplica um xeque em seus adversários. Não arriscarei afirmar que se trata de um xeque-mate. Agora está claro que esse jogo só vai terminar em meados do ano que vem, ou então ao final de 2018.
Depois de apanhar calada como nunca dantes na história desse país, a presidenta Dilma finalmente parece ter encaçapado lindamente uma bola!
O acordo que o governo está celebrando com a China deu um prodigioso drible da vaca na conspiração midiático-judicial.
Uma conspiração que pretendia derrubá-la através de uma estratégia incrivelmente suja e canalha: asfixiando um dos setores mais importantes da economia, o de construção civil, e criando um clima de terrorismo econômico e caos político.
A semana passada, conforme analisei no post anterior, terminou mal para os paneleiros, e boa para o resto da população.
Quero martelar na cabeça do leitor dois fatos importantes: o lucro de R$ 5 bilhões da Petrobrás e o anúncio da China de investir R$ 160 bilhões no Brasil.
Hoje a presidenta encontrou o primeiro-ministro chinês, que confirmou a intenção da China de fazer os investimentos em infra-estrutura. Com destaque para… trens.
Na entrevista com Dilma da qual participei, minha pergunta foi justamente sobre isso: por que o governo não promovia a criação de uma indústria ferroviária no país, a única maneira de nos livrarmos da dependência da indústria automobilística, que é tão importante, mas que não pode, naturalmente, ter o monopólio sobre a política industrial?
A China está cruzando seu país com trens-bala e trens de transporte. Num primeiro momento, ela vai construir ferrovias para nos ajudar a escoarmos nossa produção. Num segundo, a fazer trens-bala ligando todas as grandes capitais do país.
Sobre esse tema, sugiro uma notícia publicada na BBC, que me chegou via o blog DCM.
Diante das notícias da China, a conspiração midiático-judicial ganhou uma aparência incrivelmente ridícula.
Óbvio que é importante lutar pela recuperação do dinheiro desviado da Petrobrás.
Mas não é isso que os procuradores, com apoio de setores do judiciário, estão fazendo.
O Moro já conseguiu e conseguirá recuperar alguns milhões, mas não adiantará nada se o fizer à custa da falência do setor naval, por exemplo.
Não adianta recuperar alguns ovos, e matar as galinhas.
Ontem, li que os procuradores conseguiram bloquear, nos últimos dias, cerca de R$ 1 bilhão das empreiteiras.
Pareceu-me que os procuradores estão realmente dispostos a sacrificar, no altar da Globo, nossas maiores indústrias de construção civil.
Acontece que, se as empresas quebrarem, aí que não pagarão mais nada ao Estado.
Finito.
Com a entrada da China, esse terrorismo, contudo, se torna patético e, ironicamente, antipatriótico.
A China se tornou a vacina contra o golpe. Se os procuradores levarem adiante sua estratégia insana de destruir importantes empresas nacionais, nós as substituiremos por chinesas.
Quem vai pagar o pato não serão os operários, que continuarão brasileiros, e sim um punhado de paneleiros executivos dos escalões médios das grandes empresas – e admito que terei dificuldade em sentir compaixão.
As denúncias contra os deputados, por sua vez, já aceitas pelo judiciário (um judiciário sempre pusilânime quando entram os holofotes da mídia), revelaram-se, mais uma vez, inconsistentes. Não que os deputados sejam santos, mas os procuradores não encontraram nada de concreto contra eles, e mais uma vez irão colher as provas após as denúncias, após prendê-los, invertendo pela enésima vez o princípio da presunção da inocência.
Pior, a força-tarefa da Lava Jato os acusou de crimes que não tem absolutamente nada a ver… com a Lava Jato. Um deputado do PP foi denunciado por incorporar uma doméstica como sua assessora, e um deputado petista por supostamente influenciar a Caixa a anunciar na agência de publicidade de seu irmão. Tudo ainda sem prova nenhuma, e sem nada a ver com o “petrolão”.
Com o último cartucho da Lava Jato já detonado com as delações confusas de Ricardo Pessoa, presidente da UTC, só falta resolver isso: não deixar que os procuradores, frustrados, destruam Paris.
Ou seja, é preciso impedir que os procuradores, desesperados com o fracasso de seu golpe contra o voto de 54 milhões de eleitores, detonem alguma bomba atômica sobre a indústria brasileira de construção civil, em especial os setores que trabalham com a Petrobrás.
O golpe político já está morto. Mas eles ainda podem (aliás, já estão fazendo) promover estragos de curto prazo na economia. Se conseguirmos evitar isso, através de acordos de leniência, que permitam às empreiteiras voltarem a trabalhar, pagar impostos, gerar empregos, e quitarem suas multas no devido tempo, a vitória do Brasil contra o terrorismo midiático será completa.