Mujica enterra mentira da Globo

Como diz o ditado: “mentira tem perna curta”…

Saiu no Estadão.

‘Lula jamais falou em mensalão nas conversas comigo’

RODRIGO CAVALHEIRO, CORRESPONDENTE

09/05/2015, 03h00

Buenos Aires – O ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica disse nesta sexta-feira, 8, ao Estado nunca ter conversado sobre mensalão com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “ou com qualquer brasileiro”. “Ele me falou das pressões e das chantagens”, relatou Mujica. “Mas nada de dinheiro ou de corrupção.”

Estado – Um capítulo de “Una Oveja Negra al Poder” menciona o mensalão e uma frase que o sr. atribui a Lula: “Essa era a única forma de governar o Brasil”. A que ele se referia?

Lula jamais falou em mensalão nas conversas comigo. Uma vez me disse que, por ter uma minoria parlamentar, o chantageavam. Se os jornalistas escreveram isso, é por conta deles. Aliás, nunca falei com nenhum presidente ou com qualquer brasileiro sobre mensalão. E olha que já falei com muitos brasileiros.

Estado – Na mesma página 211 há outra frase atribuída pelo sr. a Lula: “Neste mundo tive que lidar com coisas imorais, chantagens”.

Isso sim. Ele me falou das pressões e das chantagens, pedidos ou exigências de governos e políticos locais para dar os votos que o governo precisava, em certa medida. Mas nada de dinheiro ou de corrupção.

Estado – Falava de troca de favores?

Sim, isso mesmo. De troca de favores, de empregos nos Estados, de obras públicas.

Estado – Lula lhe disse se cedeu a essas pressões?

Disse que elas lhe custaram muitíssimas dores de cabeças.

Estado – O sr. falou recentemente que a corrupção em países grandes como o Brasil é inevitável. É?

É um problema que tem o mundo inteiro hoje, tem a ver com outras doenças, pressões que fazem empresários.

Estado – O sr. sofreu pressões assim?

Por sorte somos um país pequeno. Mas também tivemos de lidar com isso. No meu país, houve uma campanha para não termos maioria parlamentar, para que o governo não tivesse tanto poder. Sempre brigamos para ter a maioria. Do contrário, os governos ficam trancados.

Estado – Qual a última vez que o sr. esteve com Lula e Dilma?

Fui acompanhar Lula e Dilma para defendê-los quando estavam sendo atacados. Vejo Lula como um capitão político da América. Tenho 80 anos e me atreveria a dizer que é o maior presidente que o Brasil já teve.

Estado – A oposição alega que, dado o grau de corrupção detectado na Petrobrás, Dilma e Lula ou sabiam o que ocorria ou eram incompetentes. O que o sr. acha?

Sei que é difícil responder a isso. Neste mundo se vê cara, mas não se vê coração. É difícil saber em quem se está confiando. A experiência de ter sido presidente me diz que as coisas não são tão simples.

Estado – Como vê o movimento que pede o impeachment de Dilma?

Ela está enfrentando meios muito poderosos. Mas pelo passado de Dilma, a essa altura da vida, ela não tem o perfil de uma pessoa corruptível.

Estado – Esse movimento pode ter êxito?

O Brasil parece ter meios de multiplicar a pressão sobre os governos. Há uma técnica, teorizada inclusive, que está sendo aplicada no País. É uma tática para atingir um governo civil sem usar a violência.

Estado – Há um golpe sem armas em curso no Brasil?

É um golpe sem armas, sem usar a violência. Se aproveitam de falhas do caráter humano para poder derrubar um governo que acaba de ser reeleito.

Estado – O escândalo Petrobrás mudou algo sobre sua visão de Dilma, que o sr. considera uma “ótima técnica”, e de Lula, a quem qualificou de “petiço bárbaro”?

Com toda a força do meu coração, mando minha solidariedade a Dilma. Tomei Lula como modelo, um progressista que nunca procurou a tensão. Agora vemos no País uma tensão que não é benéfica para o Brasil.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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