Globo transforma elogio de Mujica em delação premiada


 

Trechos do novo livro sobre Mujica, escrito por dois jornalistas uruguaios, que o Globo tenta converter em factóide político contra Lula:

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“Lula teve que enfrentar um dos maiores escândalos da História recente do Brasil: o mensalão, uma mensalidade paga a alguns parlamentares para que aprovassem os projetos mais importantes do Poder Executivo. Compra de votos, um dos mecanismos mais velhos da política. Até José Dirceu, um dos principais assessores de Lula, acabou sendo processado pelo caso.

‘Lula não é um corrupto como Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros’, disse-nos Mujica, ao falar do caso. Ele contou, além disso, que Lula viveu todo esse episódio com angústia e com um pouco de culpa. ‘Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens’, disse Lula, aflito, a Mujica e Astori, semanas antes de eles assumirem o governo do Uruguai. ‘Essa era a única forma de governar o Brasil’, se justificou. Os dois tinham ido visitá-lo em Brasília, e Lula sentiu a necessidade de esclarecer a situação.”

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Em primeiro lugar, os uruguaios não têm obrigação de entender um escândalo cheio de armadilhas que nem os brasileiros entendem até hoje.

Em segundo, Mujica elogia Lula. Diz que não é corrupto como Collor e outros ex-presidentes brasileiros.

Lula diz que teve que lidar com muitas coisas imorais, chantagens. Até aí novidade nenhuma. Um cidadão com mais de um neurônio deve supor que ser presidente da república, ainda mais no Brasil, não é exatamente dirigir um convento, sendo que até mesmo um diretor de convento deve lidar com “coisas imorais e chantagens”.

E aí vem a frase: “Essa era a única forma de governar o Brasil”.

Ora, é evidente que a frase está relacionada à afirmação anterior, de ter que lidar com coisas imorais e chantagens.

Não é “confissão” nenhuma.

É o relato de um presidente em primeiro mandato, sendo sincero com um amigo também presidente, ambos gozando de afinidade política e ideológica.

Atualização: Autor do livro acaba de confirmar que a interpretação certa, modéstia à parte, era mesmo a deste Cafezinho aqui.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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