Sou incrivelmente viciado nesse blog. Falei que só voltava a atualizá-lo no final de semana, e eis-me aqui de novo, quebrando a promessa.
É que faço questão de publicar um post apenas para agradecer ao carinho com que fui tratado pelos professores de comunicação da PUC Minas, durante um seminário para o qual fui convidado, como palestrante, esta semana.
São quase todos leitores e fãs dos blogs progressistas, e críticos da mídia corporativa, o que, na minha opinião, é prova de bom caratismo, magnanimidade e inteligência.
A faculdade montou um seminário ousado, incluindo blogueiros entre os palestrantes.
Tive a honra de participar de uma mesa junto com Luiz Carlos Azenha, do blog Viomundo, e Cynara Menezes, do blog Socialista Morena.
Além do prazer de participar das palestras, ainda pude estreitar um pouco a amizade com esses blogueiros, que admiro.
Na véspera do evento, numa segunda à noite, jantamos – eu, Azenha e Cynara (não, ela comeu outra coisa) – um delicioso bife a parmigiana, na Cantina do Lucas, no edifício Maleta, tradicional ponto de encontro da boemia esquerdista da capital.
A certa hora, apareceram duas pessoas extraordinárias, Pedro Munhoz e Ana Paula.
No dia seguinte, terminado o seminário, almoçamos um Tutu à Mineira, acompanhado de contra-filé, no restaurante Casa Cheia, num lugar incrível que eu ainda não conhecia: o Mercado Central.
Foi legal ter voltado ao Maleta, depois da experiência um pouco chata que tive no mesmo lugar. Há algumas semanas, por ocasião do evento de democratização da mídia do qual participei, na hora de pagar a conta, descobri que os advogados de Ali Kamel, chefão da Globo, tinham mandado limpar minhas duas contas, a do BB e a da Caixa.
Os advogados entraram com uma petição e, em tempo recorde, questão de horas, o juiz usou o sistema Bacen, num final de semana à noite. E eu ali, fora de casa, em outra cidade. Uma inexplicável violência judicial, a meu ver, visto que tenho o dinheiro para pagar o processo, investido em outro lugar, e só estava esperando um comunicado da justiça para fazê-lo. Não esperava que saqueassem as contas que uso para viver.
Nosso Judiciário é mesmo estranho: como assim limpar as contas de um cidadão brasileiro, deixando-o sem condição de se movimentar ou alimentar-se? Não deviam fazer isso nem com um bandido, ainda mais com um blogueiro cujo único crime foi incomodar um poderosinho da Globo, que não gostou de ver a concessão pública que dirige ser criticada.
Deveria existir uma regra para que, em casos similares, se deixasse ao menos o suficiente para o cidadão pagar uma ou duas refeições! E se eu tivesse vários filhos? Eles pegam tudo! Pegaram inclusive na conta poupança, o que meu advogado disse ser uma ilegalidade.
Lá estava eu, dia 12 de abril, em Belo Horizonte, liso qual beringela, em meio a um monte de coxinhas retardados tirando selfies com PMs. Por sorte, consegui desbloquear na hora um cartão neteller pré-pago, que eu levava na carteira, e ainda tinha um saldozinho.
Senão, teria que passar fome até voltar ao Rio!
Mas tudo bem, já me estabilizei.
Nem posso mais falar aqui sobre as finanças do blog, porque na última vez que o fiz, afirmando que não teria dificuldade para pagar a multa, os advogados do Ali Kamel usaram as minhas palavras para convencer os juízes a aumentarem a multa em 5 mil reais! E ainda publicaram notinhas na Veja, no Comunique-se e no Portal Imprensa (que são aparelhos da Globo, tanto que nem entram em contato para pedir a sua versão dos fatos) dizendo que eu fora condenado a pagar mais porque tinha “desdenhado” do Judiciário…
A agressividade dos grandes meios de comunicação contra os blogueiros progressistas tem algo de surreal, em virtude dessa desproporção ridícula. De um lado , uma família dona de uma fortuna de R$ 60 bilhões, de outro, o Cafezinho, cujo único patrimônio é um quarto e sala num prédio na Lapa, um prédio tão proletário que seus moradores não batem panelas (estão ocupados usando-as para cozinhar).
Como se não estivessem satisfeitos com suas fortunas, os globais ainda ficam de olho na merreca que eu ganho. A cobiça e sordidez desses caras é mística.
Assim funciona a justiça brasileira: invadem suas contas e transferem tudo o que você tem para eles, mesmo você sendo um blogueiro pobretão, que nunca recebeu dinheiro de governo, partido, empresas, e eles imensamente ricos, que recebem, há décadas, bilhões e bilhões de verba pública e privada.
O “sagrado direito à propriedade privada” vale só para alguns. Sigilo bancário? É um privilégio que só vale para ricos, tucanos e queridinhos da mídia.
É a justiça robin hood às avessas, que tira dos pobres para dar aos ricos.
Ao dizer isso, vêem-me à mente aqueles psicóticos marchando e gritando:”Fora PT! Fora PT! Fora PT!”
Não sou a única vítima. Tem um blogueiro amigo, do Paraná, o Tarso Cabral, que está numa situação bem pior que a minha. O governador Beto Richa o processou, na campanha do ano passado, e ele foi condenado a pagar mais de R$ 100 mil. Parece que o valor ainda vai aumentar muito na segunda instância.
E esses caras ainda posam de defensores da liberdade de expressão!
Enfim, a vida é dura, mas há momentos bons, e esta viagem à Belo Horizonte, para dar uma palestra na PUC-MG, foi um desses.
É bom saber que, enquanto o chefão de jornalismo da Globo persegue judicialmente blogueiros, as universidades estão nos chamando para dar palestras.
No ano passado, dei palestras nas faculdades de direito e ciência política, da Universidade Federal Fluminense, e este ano tenho convites para várias outras.
A conjuntura política anda pesada no alto das montanhas, mas tem muita coisa acontecendo – e evoluindo – aqui em baixo, na superfície.