Uma semana estranha

Mais uma semana estranha na política brasileira, com o jogo empatado entre governo e oposição.

O governo marcou, meio que sem querer, vários gols.

Mas a decisão de não falar no 1º de maio correspondeu a tantos gols contra que o jogo empatou.

Oposição e governo parecem disputar agressivamente o troféu de quem se comunica pior.

O PSDB protagoniza um espetáculo tétrico no Paraná, com cenas bizarras de agressões a professores. A brutalidade do governo paranaense chocou o país, em especial a categoria, que agora volta a se mobilizar no país inteiro.

Essa é a oposição que queria a presidência da república?

Temos que deixar registrado aqui o triste papel da imprensa brasileira, de usar o termo “confronto” para descrever a agressão dos policiais à professores.


Depois da decisão de Teori Zavaski, de derrubar os portões das masmorras de Sérgio Moro, estamos esperando qual será a próxima jogada da “República do Paraná”, base de uma conspiração judicial que repete o modus operandis do mensalão: uma aliança espúria entre procuradores e mídia, com a chancela de um juiz que decidiu ser a reencarnação de Joaquim Barbosa.

No médio e longo prazo, quando for expurgada de seus elementos conspiratórios, a Operação Lava Jato terá sido importante para dar mais transparência aos grandes negócios públicos no país.

Mas, no momento, é preciso lutar contra seus aspectos antidemocráticos e golpistas, sobretudo a narrativa que agora decidiram vender, com ajuda da mídia, que visa criminalizar ou inviabilizar politicamente o PT.

Felizmente, a sociedade já se mobiliza para evitar que um juiz sem muitos escrúpulos democráticos, aliado a um punhado de procuradores deslumbrados com os holofotes da mídia, usem a luta contra a corrupção para derrubar direitos que fundamentam a liberdade  do indivíduo perante o poder descomunal do Estado.

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A Petrobrás fechou o dia com nova alta, tanto na Bovespa quanto em Nova York, demonstrando que a tendência de valorização das ações da estatal agora assumiu uma condição estável, sobretudo após a divulgação do balanço contábil da empresa.

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No campo federal, a decisão de Dilma não fazer o pronunciamento no 1º de maio ainda causa perplexidade.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, não escondeu sua irritação.

“Essa coisa da presidenta da República não poder falar no dia 1°, porque não tem o que dizer, é uma coisa ridícula. Isso enfraquece muito o governo”, disse Renan.

Ele tem razão.

Renan foi mais longe e fez um ataque político ao governo, dizendo que Dilma não fará pronunciamento na TV porque “não tem o que dizer”.


 

Isso mostra que o erro político de não falar na TV já está cobrando seu preço, antes mesmo do 1º de maio.

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Aliás, vale notar que a decisão de Renan, de engavetar a votação da PL 4330 constitui uma vitória importante para a classe trabalhadora e uma derrota para a dupla Eduardo Cunha/Globo, porque qualquer coisa que permita ao campo progressista ganhar tempo é uma vitória.

A mídia/direita precisa de urgência para ganhar, porque os consensos que constrói a golpes de manchetes e telejornais não duram muito tempo.

O nosso campo, por sua vez, precisa sempre de algumas semanas, quiçá meses, para construir consensos e derrubar ou chancelar um processo político.

Cunha parece totalmente bêbado com o poder que lhe foi outorgado pela mídia. Suas declarações respingam aquela soberba sem limites que antecede a uma grande derrota política.

Hoje ele declarou que o “PT só ganha votação quando o PMDB tem pena”.

É um desrespeito, naturalmente, ao processo democrático, porque as votações no congresso não dizem respeito ao PT, mas a leis e reformas que afetam a todos os brasileiros.

O valor do PT não está em si mesmo, mas fora dele, em seu eleitorado. O partido representa uma parcela expressiva da população brasileira, tanto que tem sido o maior partido da câmara nos últimos 8 anos, ganha as eleições presidenciais há quatro mandatos seguidos, governa a maior cidade do país, São Paulo, e o segundo maior estado, Minas Gerais.

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Entretanto, temos ao menos uma notícia boa no campo da comunicação: em reunião com centrais, Dilma se posicionou claramente contra o dispositivo mais perigoso da PL 4330, o que derruba a diferença entre atividades fins e atividades meio, abrindo caminho para uma terceirização indiscriminada nas empresas.

A presidenta declarou que “a regulamentação do trabalho terceirizado precisa manter, do nosso ponto de vista, a diferenciação entre atividades fim e meio nos mais diversos ramos da atividade econômica. Para nós, é necessária [a diferenciação] para assegurar que o trabalhador tenha a garantia dos direitos conquistados nas negociações salariais. E também para proteger a previdência social da perda de recursos, garantindo sua sustentabilidade”.

Com uma posição dessas, Dilma bem que podia falar na TV, né?

Ainda na reunião com as centrais, a presidenta criou, via decreto, um fórum permanente para discutir problemas relacionados ao mercado de trabalho.  Vamos ver no que isso dá.

Por falar nisso, Dilma poderia usar mais o instrumento de decreto. Ela tem sido, até agora, a presidenta que menos assina decretos, desde a redemocratização.

Fechando uma semana estranha, amanhã teremos um 1º de maio também estranho. No Rio, teremos um ato unificado de todos os partidos de esquerda, centrais e sindicatos, na Lapa, incluindo aí aqueles que sempre fizeram dura oposição ao governo.

A decisão mostra um processo que já havíamos observado no segundo turno eleitoral de 2014: diante do avanço da direita, da tentativa de cortar direitos trabalhistas, houve um realinhamento ideológico natural das esquerdas.

Criou-se um campo político na sociedade, o qual, se fosse explorado com inteligência por um grupo de articuladores, poderá oferecer novidades à política brasileira.

Nesse campo, encontramos a esquerda do PT, elementos desgarrados de todos os partidos, todos os movimentos sociais, as principais centrais sindicais, além de um eleitorado que soube se organizar de maneira extraordinária no segundo turno de 2014, vencendo a maior máquina de mídia política do mundo.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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