A mídia vai ter trabalho para esconder a Zelotes e mostrar somente o espetáculo da Lava Jato.
A “República do Paraná”, ou seja, o grupo de procuradores e policiais com base no Paraná responsáveis pelas investigações da operação Lava Jato, vem usando toda a semiótica que aprenderam no julgamento do mensalão para se manterem sob os holofotes da grande mídia.
A divisão em etapas foi a principal jogada. Com isso, a Lava Jato pode continuar infinitamente. Ao invés de focarem numa coisa, vão pulando de um tema para outro, com vistas a prorrogarem indefinidamente a operação e produzirem condenações antes políticas e midiáticas do que propriamente jurídicas.
Por exemplo, as imagens do tesoureiro do PT, um senhorzinho inofensivo, algemado, ladeado por brutamontes segurando armas pesadas, entrou para a história mundial do ridículo.
Obviamente, aquilo visava a condenação midiática, que é a pior de todas, porque para ela não existe recurso ou defesa, sobretudo no Brasil, onde a mídia é controlada pela família Marinho, a família mais rica do país, cuja fortuna nasceu do suporte que deu à ditadura militar.
Mas vamos à Zelotes, uma operação que investiga desvios muito superiores à Lava Jato, e que não está sendo conduzida com vazamentos seletivos e truculência judicial.
Aliás, nosso Judiciário é bipolar: oito ou oitenta. Numa operação, extrapola todos os limites. Em outra, impõe limites excessivos.
Repare-se a diferença entre Lava Jato e Zelotes.
Segundo o próprio MPF, dos 205 pedidos de habeas corpus pedidos por réus da Lava Jato, apenas 2 foram concedidos (um deles posteriormente cassado, se não me engano).
O STJ está sendo cúmplice de Sergio Moro, em função desta aliança entre grande mídia e judiciário que foi construída ao longo dos anos, com a criação do Instituto Innovare, da Globo.
É uma aliança espúria entre empresas sonegadoras e golpistas e um Judiciário patrimonalista, corporativista, reacionário.
Já na Zelotes, que não é midiática, apesar de envolver valores imensamente maiores, o Judiciário não acatou, até o momento, nenhum pedido de prisão preventiva do Ministério Público.
Nem por uma mísera prisãozinha por 24 horas, apenas para os policiais terem tempo de revistar a casa do sujeito. Nada!
Na Lava Jato: prisões que de provisórias não tem nada, visto que já duram quase um ano; e sem habeas corpus para ninguém.
Na Zelotes, zero!
E a mídia, caladinha!
Até o momento, ainda não vi a mídia dar nenhum destaque à sonegação de R$ 502 bilhões ocorrida em 2014, segundo estimativa do Sinprofaz. Cabe umas 200 Lava Jato nessa sonegação.
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Saiu no Brasil Post.
Com rombo três vezes maior que o da Lava Jato, Operação Zelotes vai analisar 230 mil e-mails
Estadão Conteúdo
Publicado: 21/04/2015 12:28
A força-tarefa que atua na Operação Zelotes deverá analisar 230 mil e-mails e 2.300 horas de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça. O trabalho visa desvendar o suposto esquema de corrupção no Conselho de Recursos Administrativos Fiscais (Carf), órgão que funciona como uma espécie de “Tribunal da Receita”.
Os números foram mencionados pelo procurador da República que coordena as investigações, Frederico Paiva, ao Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF). Ao apresentar os dados, Paiva submeteu ao conselho um pedido de afastamento por 60 dias de um cargo que ocupa no 6.º Ofício de Combate à Corrupção, sob a justificativa do volume de trabalho acumulado com a operação.
A solicitação do procurador foi aprovada pelos membros do Conselho, presidido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na manhã de segunda-feira (20). De acordo com Paiva, a análise do material é referente a 43 investigados.
No início do mês, o Conselho Superior do Ministério Público aprovou a criação de uma força-tarefa para cuidar exclusivamente da Operação Zelotes. Paiva é o coordenador do grupo, que conta com mais três procuradores da República. Além do coordenador, compõem a força-tarefa os procuradores José Alfredo de Paula Silva e Raquel Branquinho, os dois da Procuradoria Regional da República da 1.ª Região, e Rodrigo Leite Prado, da Procuradoria da República em Minas Gerais.
Investigações
A Operação Zelotes, deflagrada em 26 de março, investiga 74 processos que somariam R$ 19 bilhões em fraudes contra o fisco. Segundo a PF, foram constatados prejuízos de, pelo menos, R$ 6 bilhões aos cofres públicos – valor três vezes maior do que o desviado da Petrobras por meio do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato (R$ 2,1 bilhões). O Carf, órgão ligado ao Ministério da Fazenda, é responsável por julgar processos relacionados a autuações fiscais da Receita Federal.
As ações do Carf foram suspensas logo após a operação ter sido deflagrada pela PF e a previsão é de que atividades do Conselho sejam retomadas em breve. Para isso, o governo vai abrir consulta pública com propostas de mudanças na estrutura e no funcionamento do órgão, o que deve ter início na próxima quinta-feira (23), de acordo com o Ministério da Fazenda.
Figuram entre os investigados na Operação bancos, grandes empresas e montadoras. A suspeita é de que essas companhias se livraram do pagamento de dívidas com o Fisco mediante repasse de suborno a integrantes do Conselho.
Entre os investigados estão os bancos Bradesco, Santander, Safra, Pactual e Bank Boston, as montadoras Ford e Mitsubishi, além da gigante da alimentação BR Foods. Na relação das empresas listadas na Operação Zelotes também constam Petrobras, Camargo Corrêa, RBS (afiliada da Rede Globo) e a Light, distribuidora de energia do Rio.