O final de semana foi sacudido por um novo escândalo político, o blogolão. Ou setentão, se preferir.
O blog Implicante, dedicado exclusivamente a divulgar baboseiras contra o PT e Dilma, e que sempre perseguiu blogs não-alinhados à grande mídia, foi desmascarado por uma matéria da Folha em que se revela que ele recebia R$ 70 mil por mês do governo de São Paulo pelo serviço.
O escândalo é particularmente picante porque o blog em questão, editado pelo advogado Fernando Gouveia, vulgo Gravataí Merengue, sempre posou de “liberal”, acusando blogs de esquerda de serem financiados por verba pública. No editorial do blog, avisa: “se você é do governo ou militante, não vai gostar do conteúdo”. Ora, se for do governo de São Paulo e militante do PSDB, vai adorar!
Nada como um dia após o outro.
A mesma Folha teve acesso, pouco tempo atrás, aos números completos da publicidade do governo federal, e descobriu que os blogueiros de esquerda não ganham praticamente nada. Só uns três ou quatro sites, de grande acesso, recebem publicidade institucional, de maneira transparente, oferecendo retorno de imagem
O Implicante ganha dinheiro sem precisar mostrar nenhum banner, o que lhe permitia acusar os outros de fazer o que ele mesmo fazia: ganhar dinheiro público para atacar agentes políticos, e defender o governo Alckmin.
Agora sabemos que a coisa é ainda mais podre.
Nassif publicou um post hoje em que especula que o mais provável é que o Implicante seja parte de um esquema maior de comunicação montado por José Serra, através de seu pitbull Marcio Aith, dentro do governo de São Paulo.
No Diario do Centro do Mundo (DCM), outra peça do quebra-cabeça foi montada, confirmando a análise de Nassif: a nova sócia do blog Implicante é Cristina Ikonomidis, uma antiga assessora de José Serra.
O blog do Esmael, do Paraná, levanta outra face do escândalo: uma estatal do Paraná também financiava o blog Implicante.
O autor do blog, Fernando Gouveia, tentou se explicar no Facebook, mas não colou. Ele apenas botou a culpa no PT…
Os tucanos repetem, portanto, em São Paulo, a estratégia que montaram em Minas Gerais.
Enquanto foi governador, Aécio Neves deixou que sua própria irmã assumisse o controle sobre a distribuição de recursos públicitários oficiais para a mídia mineira, e exercia uma vigilância severa e agressiva contra jornais e rádios que faziam crítica à administração de seu irmão.
Esses movimentos revelam o dúbio apreço pela liberdade de imprensa por parte dos tucanos. Eles amam sim a liberdade, desde que seja exercida por gente que ataque o PT e os defenda.
Mas revelam também uma coisa que serve de lição ao PT e ao governo. Seus adversários estão muito atentos do que os petistas à questão da batalha da comunicação.
Em São Paulo, os tucanos dão milhões para a grande mídia, através de assinaturas sem licitação e publicidade oficial.
No Congresso, os parlamentares tucanos são os mais agressivos opositores de qualquer debate sobre a democracia na mídia, agindo, na prática, como lobistas da grande mídia corporativa.
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Há algumas semanas, estive em Belo Horizonte, para II Encontro de Direito a Comunicação (10 a 12 de abril), organizado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.
O evento reuniu mais de 600 pessoas e trouxe alguns palestrantes estrangeiros. No sábado à noite, ao jantar, bati um longo papo com Gustavo Gómez, que escreveu a Ley dos Medios do Uruguai.
Ele me contou que o governo sabia que encontraria, por parte de setores da mídia, uma intensa mobilização para pintar uma lei que aspirava a democratizar a comunicação no país, como uma lei autoritária, ou pior, como tentativa de censura.
Em razão disso, o governo Mujica (Gomez foi assessor pessoal de Mujica durante seus quatro anos de mandato) passou a estudar argumentos para reagir a essas acusações. Foram atrás de documentos internacionais que tratam do tema democracia na mídia, e conseguiram vencer, na opinião pública, a batalha de narrativa. Conseguiram convencer a maioria da população que se tratava de uma lei para ampliar a liberdade de expressão. A lei foi aprovada em dezembro do ano passado.
Gomez observou, contudo, que a mídia uruguaia, apesar de conservadora, não demonstra a histeria oposicionista da nossa. Além disso, a mídia uruguai não é tão absolutamente concentrada como a brasileira e, sobretudo, os donos da mídia não estão entre as famílias mais ricas do país, como é o caso da família Marinho, a mais rica do Brasil.
Aqui, o governo ainda parece totalmente desorientado diante dos ataques da mídia. Não é preciso, porém, reinventar a roda para sair da crise: um porta-voz, uma comunicação mais centralizada e mais eficiente, maior exposição, mais assertividade, investimento na comunicação pública, em especial o sistema EBC, uma postura mais pró-ativa na defesa política do governo.
Diante desse novo escândalo tucano, evidencia-se a guerra desproporcional que experimentamos no Brasil.
De um lado, grandes meios de comunicação alinhando-se num bloco absolutamente homogêneo, buscando de todas as maneiras argumentos para anular o voto de 54 milhões de eleitores e derrubar a presidenta Dilma. Todo o dia agora eles vem com um pretexto diferente, após fazerem entrevistas com ministros do TCU que mais parecem cobranças políticas de um posicionamento.
Do mesmo lado, blogueiros regiamente pagos pelos governos tucanos para envenenar a opinião pública e detonar o PT e os blogueiros de esquerda.
De outro, um governo que ainda não tem uma estratégia de comunicação definida. Não se tem sequer a pachorra de variar, de vez em quando, a foto da presidenta nas redes sociais. Tudo é sempre burocrático, frio, sem graça.
Por um acaso, Dilma trocou de secretário de comunicação, e agora tem um nome novo – o que é bom.
A presidenta, porém, persiste na estratégia de não ter uma estratégia de comunicação. Até mesmo seu aliado mais dúbio, o deputado federal Eduardo Cunha, em entrevista recente a um grande jornal, disse claramente que o governo não tem uma comunicação política eficiente, e não consegue informar o que faz, o que pensa, o que pretende.
Cientistas políticos reunidos pela revista Inteligência afirmaram a mesma coisa.
E agora, estamos nesta situação, bipolar. Um dia achamos que haverá golpe. No outro, que ele foi superado.
O que demonstra, obviamente, que a pele do governo afinou-se. Qualquer pequeno golpe o machuca severamente.
Dilma nunca poderia resistir, por exemplo, a um escândalo tão pesado como o assassinato de um promotor público, como aconteceu na Argentina.
Não resistiria se enfrentasse uma conspiração parecida à liderada por Carlos Lacerda, contra Jango.
No Judiciário do Paraná, um magistrado abusa do apoio que recebe na mídia para prender quem ele quiser, e usa a prisão preventiva, que acontece antes da sentença e, portanto, antes da defesa, como condenação de fato. A produção de factoides políticos pelo juiz Sergio Moro parece seguir uma agenda previamente (ou mesmo tacitamente) combinada com a mídia. Os vazamentos são rigorosamente seletivos. Qualquer denúncia contra tucano, é abafada. Qualquer denúncia contra PT, é levada à capa dos jornalões.
Quando uma linha de investigação deixa de ser midiática, segue-se outra. Os promotores posam para capa dos jornais, e fazem lobby descarado para destruir o maior partido do congresso nacional, com mais de 1 milhão de filiados e uma história bonita de defesa dos direitos humanos, democracia, justiça social e liberdade de expressão.
Tempos difíceis!
Para me consolar, tento pensar nas décadas mais turbulentas da Roma Antiga, com suas terríveis guerras sociais, suas conspirações políticas, seus golpistas frequentes, etc.
A frase “O homem é cobaia da história”, cunhada por mim mesmo, não me sai da cabeça.