Há inúmeras críticas à marcha do dia 13 de março.
Quase todo mundo com quem eu conversei acha mais uma estupidez.
Data errada, organização errada, símbolos errados.
O certo, obviamente, era fazer uma manifestação após a marcha do golpe, dia 15.
O dia 13 periga ser o maior fiasco da nossa história.
Entretanto, quem estiver lá saberá que fez parte de uma manifestação em prol da democracia, de uma Petrobrás 100% pública
Quem estiver lá terá feito um protesto digno e necessário contra o crescimento apavorante da insanidade fascista e golpista, que acreditávamos ter extirpado de uma vez por todas quando terminou a ditadura.
Não extirpamos.
Continua lá.
Movimentações golpistas voltam a acontecer, e estarão presentes neste domingo, 15 de março.
Eles são hoje muito mais sofisticados do que em 1964.
Os processos lacerdistas de perseguição política, promovidos pelo ministério público, são juridicamente muito bem estruturados.
Fascistas, mas estruturados.
O Ministério Público se tornou um monstro.
Um promotor pode perseguir um político, um empresário, um cidadão, por anos a fio.
Não há equilíbrio entre o cidadão e o Estado.
O cidadão brasileiro é vítima de um ministério público arrogante e partidário, um judiciário ultra-conservador, politizado e corrupto, uma polícia assassina e violenta.
Defensoria pública? Deve ser a mais sem prestígio, sem recursos, sem visibilidade do mundo.
Tudo é feito para acusar, condenar, prender.
Antes os poderosos e ricos se achavam a salvo.
Nem eles estão mais.
Basta ser envolvido em qualquer trama política que, não importa a sua história, o seu dinheiro, o seu prestígio, se você não tem proteção da Globo, adeus, neném.
O sistema penal é medievo.
A imprensa, ao invés de proteger o indivíduo, alia-se aos aparelhos repressores do Estado.
Porque é uma imprensa fascista e ligada umbilicalmente às características opressoras e crueis do Estado.
Legislativo e Executivo são corruptos e viciados em poder, mas são as únicas instâncias onde o povo tem voz.
Entre deputados, senadores, ministros e servidores federais, há corruptos e lobistas, mas há também mulheres, índios, negros, comunistas, poetas, sindicaleiros, uma diversidade e um colorido democrático que você nunca encontrará no ministério público ou no judiciário, onde predominam os príncipes falidos e os aristocratas raivosos.
O parlamento e o executivo passam por um filtro que, por mais viciado que seja, deveria ser respeitado numa democracia: o sufrágio universal.
Devemos aprimorar esse filtro, tornando-o mais independente em relação ao poder econômico.
Para isso, basta Gilmar interromper a sua desrespeitosa “vistas”, que já dura quase um ano, e permitir que a democracia brasileira siga adiante, proibindo a doação de empresas a partidos e candidatos.
Mas é sintomático que a nossa imprensa alie-se somente aos estamentos aristocráticos do Estado: o ministério público e o judiciário; e se posicione sempre contra o legislativo e o executivo, vistos como ameaças por sua permeabilidade ao povo.
A luta do dia 13, a meu ver, é uma luta pela democracia e contra a manipulação da opinião pública.
Nenhum indivíduo deveria ser oprimido por um sistema de informação manipulador.
Nenhum indivíduo pode ser perseguido pelo Estado e pela mídia, sem direito à defesa e à dignidade, seja um sem-terra, seja um empresário, seja um político eleito.
No Brasil, parece que não há mais direitos individuais.
Se o sujeito vira inimigo da mídia, seu julgamento e sua sentença já estão determinados de antemão, e será a pena máxima sempre.
O direito à dignidade, um dos princípios fundadores da nossa constituição, não vale mais nada.
Vale qualquer tipo de humilhação. O indivíduo não pode se defender.
Os próprios instrumentos de defesa, num processo penal, estão sendo diminuídos, ridicularizados e atacados pela onda fascistoide emanada pela mídia.
Claro que esse tipo de coisa só vale para as corporações.
Se um blog “humilhar” um poderoso, se o ridicularizar, sofre processo e condenação imediatos.
Vide a perseguição judicial de Ali Kamel e Gilmar Mendes a blogueiros.
O dia 15 é a marcha dos conservadores, golpistas, paneleiros e defensores da ditadura.
A nossa marcha, no dia 13, pode ser toda errada, pequena, invadida por provocadores, sabotada agressivamente pela imprensa.
Um fracasso de público e, sobretudo, de mídia.
Mas será o certificado – mais um – de nossa dignidade.
Alguma coisa que podemos contar às nossas netas:
– Não, minhas lindas.
Não fui um daqueles imbecis que marchou pelo impeachment de uma presidenta eleita há poucos meses com 54 milhões de votos.
Eu marchei pela democracia.
Pelo respeito ao voto da maioria dos eleitores brasileiros!
Pelo respeito aos nordestinos, que deram uma vitória maciça à Dilma Rousseff.
Pelo respeito às pessoas simples do povo, que desejaram dar à Dilma a oportunidade de governar por mais quatro anos.
Pelo respeito ao meu voto!
Um voto crítico, mas cheio de fé e esperança.
É por isso que vou às ruas no dia 13 de março de 2015.