Os escândalos envolvendo o PT, reais ou imaginários, ocupam milhares de repórteres, todos frenéticos e ambiciosos, tentando um lugar ao sol.
Investigar treta petista, mesmo inexistente, vale promoções, prêmios, aumentos de salário, tapinha nas costas dos patrões.
Investigar escândalo tucano, como sabem os jornalistas mineiros, paranaenses e paulistas, apenas serve para abreviar a carreira.
Há vários documentários sobre a brutalidade do PSDB contra jornalistas que insistem em investigar desvios do partido.
Vejam a desproporção no tratamento das notícias.
Todo o auê das últimas horas se dá porque o PGR protocolou, junto ao STF, a abertura de inquéritos envolvendo importantes políticos.
Só isso: foram abertos inquéritos. Agora os políticos serão investigados, poderão se defender, etc.
Pois bem, ao final de 2014, foi instaurado, junto à Polícia Federal, um inquérito para se investigar a sonegação da Globo.
Não se trata de qualquer sonegação, nem de qualquer empresa.
O valor cobrado pela Receita à Globo, superior a R$ 600 milhões em 2006, corresponderia hoje a mais de R$ 1 bilhão.
Não falamos de qualquer empresa, mas de uma concessão pública, a maior do Brasil, e o maior grupo de mídia da América Latina, um império construído sobre o cadáver da nossa democracia.
Por que a abertura do inquérito na PF não foi capa de nenhum portal ou revista?
É uma coisa apavorante: parece que não existiu.
Eu mesmo, que estive na superintendência da PF no Rio de Janeiro, conversei com o delegado, vi o documento, às vezes duvidava de mim mesmo.
O povo não teve esse direito básico: saber que foi aberto um inquérito para se investigar a sonegação da Globo.
Um ano depois, soubemos através de reportagem do Diário do Centro do Mundo que o inquérito foi arquivado.
Claro, o próprio pacto de silêncio da mídia ajudou neste sentido.
O caso apenas ganhou um pouco de notoriedade quando o então candidato ao governo do Rio, Anthony Garotinho, durante sabatina com uma repórter global que tentava acuá-lo com uma bateria de acusações, defendeu-se dizendo que as investigações contra ele eram apenas isso, investigações, e não condenações, da mesma forma que havia uma investigação em curso contra a Globo.
Por que abrir inquérito contra um político vale capa de todos os portais, jornais e revistas do país, e abrir inquérito contra a Globo não aparece em lugar nenhum?
As investigações sobre a sonegação da Globo já haviam motivado a abertura de inquérito preliminar no Ministério Público do Distrito Federal.
A notícia saiu em vários sites alternativos, até mesmo num portal ligado à Globo, o Comunique-se (que publicou, naturalmente, num viés chapa-branca).
Saiu também no portal da EBC.
O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro havia fugido pela tangente, através de uma nota escorregadia, em que afirmava que sabia da sonegação, do roubo do processo, mas que não podia fazer nada.
Nada como ser educado e usar palavras bonitas para dizer ao povo, como Poncio Pilatos, que “lavo as mãos”.
Nada de hotsite especial, como fizeram agora para a Lava Jato.
Nada de cartilha para crianças, como fizeram com o mensalão.
O MPF-RJ, ao menos, fez uma coisa boa. Foi ele que repassou o caso à Polícia Federal, superintendência do Rio de Janeiro, Delegacia Fazendária, que abriu um inquérito.
Mais tarde, quando a íntegra do esquema foi divulgada pela blogosfera, com os nomes das empresas usadas pela Globo para praticar uma evasão fiscal bilionária, notou-se novamente o estrondoso, quase atômico, silêncio da nossa mídia corporativa.
Ninguém quis investigar, ou mesmo noticiar, um esquema que mostra, de maneira emblemática, como os grandes grupos econômicos fazem para sonegar dezenas de bilhões de reais por ano.
O mesmo silêncio se viu para o estudo do Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional, estimando a evasão fiscal brasileira em 2014 em mais de R$ 500 bilhões.
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Voltando a Lava Jato, a grande novidade dela é trazer informações novas sobre a Lista de Furnas, um caso de corrupção que envolve diretamente Aécio Neves.
Ora, Aécio Neves quase foi presidente da república, é presidente do principal partido de oposição e as forças políticas que o apoiam tentam derrubar Dilma para colocá-lo em seu lugar.
Qualquer coisa ligada a seu nome deve ser investigada profundamente, porque é de interesse nacional.
E agora descobrimos que alguns delatores até tentam apontar o dedo para a oposição. Mas as autoridades, assim como fizeram no caso da sonegação da Globo, não parecem se interessar.
Alberto Youssef mencionou propina paga a Aécio Neves com dinheiro público, de uma estatal federal, Furnas, de 1994 a 2001.
Youssef não é o primeiro a falar do caso.
Há um sujeito engaiolado nos presídios de Minas Gerais, Nilton Monteiro, que sempre quis ajudar a Justiça, mas nunca recebeu os benefícios da “delação premiada”.
Será porque Monteiro sempre deixou claro que queria delatar os esquemas tucanos, mais particularmente de Aécio Neves, em Furnas?
(Ouça o áudio da entrevista do Viomundo com Nilton Monteiro. Serve para entender porque Ali Kamel tenta, tão desesperadamente, asfixiar a blogosfera com processos.)
Há inúmeras reportagens sobre a lista de Furnas na blogosfera, todas embasadas em documentos. A delação premiada de Youssef apenas chega para reforçá-las.
A Folha hoje publica uma matéria em que menciona a delação de Youssef contra Aécio Neves. Mas faz de tudo para esconder o nome de Aécio, que aparece apenas no fim do texto.
Repare só o título:
O cinismo não tem limites.
Na delação de Youssef aparece ainda o nome de Augusto Montenegro, dono do Ibope, envolvindo num esquema de corrupção.
Montenegro é um amigo de longa data da grande mídia.
O Ibope também está ligado ao golpe militar. Somente há pouco a instituição liberou uma pesquisa que realizou em 64, mostrando João Goulart com alta popularidade no país.
Diante do interesse histórico evidente, porque o Ibope não divulgara a informação imediatamente após a queda do regime militar, para ajudar o país a entender a sua história?
Por que a mídia (e o próprio Ministério Público, que se tornou quase um braço da nossa mídia) faz infográficos maravilhosos com as delações de Youssef, mas ignora solenemente as partes em que ele menciona a corrupção de Aécio Neves, presidente do PSDB, e Augusto Montenegro, dono do Ibope?
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Ao invés de investigar as novas revelações sobre a Lista de Furnas, a mídia centrou sua artilharia semiótica em Dilma.
Manchetes, insinuações, títulos, interpretações enviesadas, trataram de compensar a ausência absoluta de indícios da participação da presidenta em qualquer esquema escuso, na Petrobrás ou em qualquer estatal.
Exatamente o contrário do que se dá com Aécio Neves, que foi diretamente acusado pelo doleiro, confirmando uma denúncia de outro indivíduo importante, Nilton Monteiro, e corroborando o documento chamado Lista de Furnas, onde consta a assinatura de Dimas Toledo, operador do PSDB.
A lista foi autenticada pela perícia da Polícia Federal, mas o caso sempre foi sistematicamente abafado pela imprensa.
Ou seja, o nosso PGR abriu inquérito contra políticos com base apenas em delações de Costa negadas por Youssef, como é o caso de Lindberg Farias, Humberto Costa e Palocci. Mas mandou arquivar inquérito contra Aécio, apesar das delações de Youssef serem confirmadas por Nilton Monteiro e por um documento autenticado pela Polícia Federal.
Os tucanos jogam pesado. O advogado de Nilton Monteiro diz que tem medo de morrer, mas seus temores jamais foram publicizados na grande mídia.
Dino Miraglia fala ainda da morte da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, que foi sua cliente, e morreu, no ano 2000, em circunstâncias misteriosas. A modelo atuava como “mula” de corruptos tucanos em Minas, e sua morte oferece toda a aparência de “queima de arquivo”.
A mídia se cala, mais uma vez, sobre Furnas, tentando manipular investigações políticas e enganar a opinião pública.
Ao invés disso, o Globo prefere, em pleno Dia Internacional da Mulher, publicar uma charge repugnante contra a primeira mulher presidente da república do nosso país.
Repugnante e cheia de reverberações sinistras.
Afinal, quem é o Exército Islâmico, símbolo máximo de brutalidade antidemocrática e ignorância sangrenta, disposto a degolar uma presidenta eleita e reeleita por mais de 50 milhões de eleitores?
Quem está jogando pesado para derrubar Dilma, ou pelo menos, mantê-la, a ela e a seu governo, acuados, paralisados, sem força para levar adiante, por exemplo, mudanças efetivas na política de comunicação?
Bem que eu andei comparando a nossa mídia ao Estado Islâmico, por conta de sua agressividade assassina em relação a jornalistas e políticos que fogem do script.
Agora eles mesmos vestiram a carapuça.