Até entendo que a Globo tente esconder a sua participação central no golpe de 64.
Roberto Marinho exerceu influência determinante para que a ditadura endurecesse e não houvesse eleições após a derrubada de Goulart.
É uma coisa que sempre soubemos. Mas agora há provas, documentos, do governo americano.
Não é nenhuma delação premiada.
É um tanto assustador, e revelador, contudo, que nenhum outro grande órgão de mídia no país dê destaque a um fato tão importante para entendermos a história do Brasil.
A explicação é simples.
A estrutura midiática da ditadura continua a mesma. O poder de todos eles (Folha, SBT, Estadão, Abril) teve origem no arbítrio.
Esses grupos prosperaram em meio à carnificina promovida pelo regime militar contra o pluralismo político, já que qualquer ideia progressista era considerada subversiva, e portanto censurada, com perseguição de seu autor.
Por isso, há um acordo de poder entre os grandes grupos de mídia. Todos eles se protegem.
Formam um cartel.
Um cartel sujo, criminoso, que se consolidou financeira e politicamente bebendo o sangue da nossa democracia.
Visto que a ditadura promoveu um terrível retrocesso, em todos os sentidos, buscando um crescimento econômico feito à base de um fortíssimo arrocho salarial, desmantelando a educação pública, o sistema ferroviário, as estruturas anticorrupção, em vista disso tudo, pode-se afirmar que a riqueza dos barões da mídia foi construída sobre a miséria social e política de um país inteiro.
A minha tese, de que, um dia, os últimos 60 anos serão catalogados como “a era da mídia”, se confirma.
Desde o suicídio de Vargas, em agosto de 1954, até os dias de hoje, a agenda política brasileira vem sendo pautada pelos mesmos grupos de mídia, todos financiados por agências de publicidade norte-americanas.
O Brasil é um laboratório de uma interessante experiência política. Como promover golpe apenas manipulando a opinião pública?
Em 1964, foi exatamente assim. O golpe foi dado e, no dia seguinte, os grandes jornais (com uma honrosa exceção, o Última Hora), todos devidamente financiados com dinheiro de agências de publicidade norte-americanas, anunciavam o “triunfo da democracia”.
Também há documentos, hoje, que provam a relação dessas agências de publicidade com o Departamento de Estado e os serviços de informação do governo americano.
A manipulação da opinião pública brasileira, em 1964, não foi um trabalho do dia para a noite.
Houve um esforço contínuo, sistemático, metódico.
É a mesma coisa que fazem hoje, só que agora não lhes interessa derrubar o regime democrático. Querem dar o golpe por dentro, simplesmente manipulando, criminalizando o adversário, inventando crises, destruindo reputações, pressionando juízes e promotores.
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Alô Comissão da Verdade! Vocês não vão discutir o papel central da Globo na consolidação do golpe de Estado de 1964?
Alô Ministro da Justiça, alô presidenta da República, vocês não vão usar essa informação política para esclarecer a população sobre o DNA autoritário da Globo?
Reproduzo abaixo um post publicado no Jornal GGN.
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Documentos dizem que Roberto Marinho foi principal articulador da Ditadura Militar
TER, 17/02/2015 – 19:35
Enviado por Antonio Carlos Silva – RJ
do Portal Metrópole
Documentos dizem que Roberto Marinho foi principal articulador da Ditadura Militar
Em telegrama ao Departamento de Estado norte-americano, embaixador Lincoln Gordon relata interlocução do dono da Globo com cérebros do golpe em decisões sobre sucessão e endurecimento do regime
No dia 14 de agosto do 1965, ano seguinte ao golpe, o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama então classificado como altamente confidencial – agora já aberto a consulta pública. A correspondência narra encontro mantido na embaixada entre Gordon e Roberto Marinho, o então dono das Organizações Globo. A conversa era sobre a sucessão golpista.
Segundo relato do embaixador, Marinho estava “trabalhando silenciosamente” junto a um grupo composto, entre outras lideranças, pelo general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar; o general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI); Luis Vianna, chefe da Casa Civil, pela prorrogação ou renovação do mandato do ditador Castelo Branco.
No início de julho de 1965, a pedido do grupo, Roberto Marinho teve um encontro com Castelo para persuadi-lo a prorrogar ou renovar o mandato. O general mostrou-se resistente à ideia, de acordo com Gordon.
No encontro, o dono da Globo também sondou a disposição de trazer o então embaixador em Washington, Juracy Magalhães, para ser ministro da Justiça. Castelo, aceitou a indicação, que acabou acontecendo depois das eleições para governador em outubro. O objetivo era ter Magalhães por perto como alternativa a suceder o ditador, e para endurecer o regime, já que o ministro Milton Campos era considerado dócil demais para a pasta, como descreve o telegrama. De fato, Magalhães foi para a Justiça, apertou a censura aos meios de comunicação e pediu a cabeça de jornalistas de esquerda aos donos de jornais.
No dia 31 de julho do mesmo ano houve um novo encontro. Roberto Marinho explica que, se Castelo Branco restaurasse eleições diretas para sua sucessão, os políticos com mais chances seriam os da oposição. E novamente age para persuadir o general-presidente a prorrogar seu mandato ou reeleger-se sem o risco do voto direto. Marinho disse ter saído satisfeito do encontro, pois o ditador foi mais receptivo. Na conversa, o dono da Globo também disse que o grupo que frequentava defendia um emenda constitucional para permitir a reeleição de Castelo com voto indireto, já que a composição do Congresso não oferecia riscos. Debateu também as pretensões do general Costa e Silva à sucessão.
Lincoln Gordon escreveu ainda ao Departamento de Estado de seu país que o sigilo da fonte era essencial, ou seja, era para manter segredo sobre o interlocutor tanto do embaixador quanto do general: Roberto Marinho.
O histórico de apoio das Organizações Globo à ditadura não dá margens para surpresas. A diferença, agora, é confirmação documental.