Mais um passeio pelo outro lado do muro


 

Dando um rolé pelos sites institucionais, encontro o seguinte:

1) No site da Procuradoria Geral da República, sou informado que o MP entrou com ação de investigação judicial eleitoral contra o atual governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB) e sua vice Cláudia Telles (PV).

2) No portal do Senado, fico sabendo que os parlamentares parecem ter enterrado de antemão a tentativa do Planalto de recriar o imposto de saúde.

3) Na Agência de Notícias da Polícia Federal, há uma notícia sobre uma investigação da PF sobre associação entre traficantes e auditores fiscais do Ceará.

4) Achei bastante legal esse projeto do senador Capiberibe (PSB-AP), que põe fim em qualquer sigilo em processos que envolvam políticos e servidores públicos. É esse tipo de coisa que ajuda, efetivamente, a combater a corrupção: aumentando a transparência. Isso é a democracia curando os males do autoritarismo.

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Os últimos dias trouxeram várias notícias que merecem destaque. Algumas são velhas de alguns dias, mas repito-as para ficar registrado no blog.

1) A Petrobrás subiu ao pódium como a empresa que mais produz petróleo no mundo, entre todas de capital aberto. A estatal continua sob fortíssimo ataque especulativo, com total ajuda da mídia nacional, mas terminou esta sexta indo na contra-mão da bolsa e da queda na cotação internacional do petróleo. Os papeis da Petrobrás fecharam em alta na BMF e em Nova York.

É importante que os brasileiros entendam, porém, que a economia de um país não é alimentada por papeis na bolsa, mas por matérias-primas fundamentais, como o petróleo, elemento essencial para o Brasil incrementar a sua infra-estrutura.

2) Eduardo Cunha e Anastasia apareceram no Lava Jato, motivando uma hilária defesa por parte de colunistas da grande mídia, como Merval Pereira, no Globo, e Dora Kramer, no Estadão. Dessa vez, nem cheguei perto. Nem preciso. Apenas escutando o bafafá sobre suas colunas, já sei que eles estão simplesmente desesperados porque a inclusão de nomes da oposição estraga a “historinha” que eles querem montar, uma espécie de mensalão 2.

3) Globo e Abril iniciaram um processo de demissão em massa, o que é curioso, visto que a fortuna dos Marinho nunca foi tão grande. O fato me parece emblemático sobre a precariedade dos jornalistas brasileiros. Na contra-mão de todas as profissões liberais: professores, advogados, engenheiros, arquitetos, que estão vendo o seu mercado se expandir e seus salários aumentarem, os jornalistas só vêem o abismo à frente.

No Globo, nem o centenário Artur Xexéo escapou. O Sindicato dos Jornalistas do Rio publicou uma nota de protesto sobre o assunto.

É um momento para refletir sobre a importância da democratização da mídia, um processo que poderia gerar a criação de dezenas de empresas de mídia, regionais e nacionais, absorvendo todos esses profissionais. O Brasil precisa de jornalistas, mas o modelo corporativo vigente no país não é mais viável. A concentração deu o que tinha que dar.

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Quero deixar aqui minha solidariedade à blogueira feminista Lola, do Lola Escreva, que está sendo vítima de uma série de agressões e ameaças nas redes sociais, boa parte delas patrocinada pelo “humorista” Danilo Gentili.

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Em relação ao atentado em Paris, creio que ele mostrou o fracasso da guerra ao terrorismo patrocinada pelos EUA. Comparado aos atuais fanáticos do Estado Islâmico (ISIS), Saddam Hussein e Kadafi eram anjos!

No Iraque e Líbia, países atacados covardemente pelo Ocidente, havia o exercício laico do poder, e as mulheres detinham liberdades civis que não possuem em nenhum outro país islâmico. Saddam e Kadafi eram políticos que, malgrado os problemas internos em seus países, sentavam-se à mesa em negociações internacionais e podiam contribuir para a construção de um processo de paz na região e no mundo.

O ataque motivou, como era de se esperar, uma infindável quantidade de teorias de conspiração. Há quem suspeite do dedo da direita europeia, ou mesmo da CIA, visto que não se concebe em que um atentado desse poderia trazer qualquer benefício à causa islâmica ou árabe.

Mesmo nas questões dos desenhos sobre Maomé, o resultado do atentado é a sua difusão numa escala jamais imaginada.

Os desenhistas mortos, assim como as outras vítimas, tornaram-se mártires da liberdade de expressão, e não vem ao caso se o jornal era de esquerda (como era) ou não.

Entretanto, a França é um país extremamente cioso de sua independência política em relação aos EUA, com uma imprensa altamente especializada em assuntos de terrorismo, África e Oriente Médio, e creio que irá se aprofundar bastante no assunto para descobrir a verdade.

Não creio que, nessas circunstâncias, nenhuma teoria de conspiração, se houver alguma, ficará em segredo por muito tempo.

Os franceses irão assumir essa investigação com um espírito apaixonado e patriótico.

Continuo achando que a covardia deste atentado foi algo tão grotesco que poderá ser deflagrado um movimento, dentro do próprio islamismo radical, para se combater esse tipo de violência.

O chefe do Hezbollah declarou que os “jihadistas são mais nocivos que caricaturas”. Bom sinal.

Atualização: A Al Qaeda acaba de assumir a autoria do atentado em Paris.

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O IBGE divulgou a sua estimativa oficial para a inflação de 2014 e ela ficou abaixo do teto da meta, para grande decepção dos urubus da mídia.


É uma notícia formidável, porque gera clima para que o Banco Central interrompa a sua febril e insana jornada em busca de juros mais altos.

Para 2015, a previsão ainda é de inflação abaixo do texto da meta.

Uma pena, todavia, que o teto da meta tenha se transformado, na prática, na própria meta, o que é uma característica bem brasileira.

A solução para isso deverá ser, no futuro, rebaixar o texto.

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Extraordinária a iniciativa do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de conversar diretamente com os internautas, através de um Face to Face.

E pensar que os ministros do PT, como Paulo Bernardo, preferiam dar entrevistas às páginas amarelas da Veja.

Guido Mantega, com exceção de uma ou outra entrevista à TV Brasil, também só dava entrevistas à Miriam Leitão. Assim como Mercadante.

Foi preciso aparecer um ministro de fora do PT, acusado de ser um conservador, para inovar a estratégia de comunicação do governo!

O PT vive repetindo chavões sobre democratização da mídia, mas se esquece que pequenos gestos, como este do Levy, já representam um primeiro e importante passo para uma relação mais democrática, direta e honesta entre governo e cidadãos – e esse é um dos objetivos do que se entende como “democratização da mídia”.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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