Feliz 2015!


 

A formação dos ministérios produziu uma chiadeira, totalmente justificável, e mesmo necessária, junto às bases sociais da Dilma.

Mas eu acho que a gente não pode perder o humor.

Em 2015, precisarei da ajuda de vocês para fazermos um contraponto à mídia e a crítica ao governo, sem perdermos o espírito esportivo.

Não podemos entrar no jogo deles e nos tornarmos urubus da esquerda.

As coisas vão melhorar, e muito, para todos os brasileiros, porque os brasileiros estão menos pobres e estudando mais.

Há menos famílias passando necessidade, e isso evidentemente se converterá numa explosão de energia positiva, mesmo que, às vezes, essa energia assuma, num primeiro momento, os contornos brutais de uma súbita e perturbadora tomada de consciência.

Todo governo é burro, isso é uma lei geral, mormente num país grande, e com tantas desigualdades. Faltará sempre ao governo a sensibilidade e a criatividade que sobram nos indivíduos.

Temos essa contradição crescente.

De um lado, um governo cada vez menos sensível à questão particular, que é a questão humana por excelência, visto que tudo que é concretamente humano se realiza no particular. Isso acontece em razão do próprio processo democrático brasileiro, cada vez mais ampliado, que força o governo a ser mais severo e mais universal.

De outro, temos um indivíduo cada vez mais sensível à questão particular, que atinge a si e a seu grupo nas redes sociais. Os indivíduos pensam sobretudo as questões particulares: um mal atendimento num hospital público, a rachadura na parede de um colégio, a frase dita por um ministro.

Essa contradição terá de ser resolvida dialeticamente, até porque o particular produz o universal. Quando o governo entender esse ponto, terá avançado de maneira incrível.

Estender a um militante uma palavra de esclarecimento, é esclarecer todos. Se Dilma ou mesmo algum ministro, escolhessem, aleatoriamente, alguns militantes, e conversassem com eles regularmente, estariam conversando com todos.

Eu acredito que vivemos um momento delicado do ponto de vista da relação política entre os governos e a sociedade.

Houve um empoderamento das redes sociais e da militância que não pode mais ser ignorado.

O governo, por outro lado, já cansado de apanhar da mídia, parece não acreditar que agora irá apanhar ainda mais furiosamente das redes sociais.

Quando o governo pensava que a desmoralização que a mídia brasileira se auto-impôs, ao enveredar por um conservadorismo de república de banana, iria lhe dar – ao governo – espaço para agir com mais autonomia, eis que surgem as redes, barulhentas e mortais como um enxame de abelhas africanas, protestando, criticando, exigindo!

E, no entanto, essas mesmas redes que fazem barulho, são as únicas com as quais o governo conta nas horas difíceis, visto que a mídia convencional já tem o seu partido, o partido da máquina de moer gente.

Também foi para isso que elegemos Dilma, para criticá-la.

Não queríamos criticar Aécio. Queríamos que ele não fosse presidente, porque entendíamos que ele jamais ouviria nenhuma crítica. Ao contrário, poderia até responder com truculência, como se viu em Minas Gerais, durante sua gestão, e vemos hoje: demissão de jornalistas críticos e processo contra tuiteiros.

De qualquer modo, as eleições de 2014 cimentaram muitos tijolos da nossa doutrina democrática.

A mídia foi fragorosamente derrotada, mas claro que não completamente.

O Brasil de Dilma vencedora é o mesmo Brasil de Aécio derrotado: as forças econômicas, políticas e midiáticas atuantes na sociedade são as mesmas, não importa que governo esteja no poder.

A diferença é que, com Dilma, há esperança de quebrar alguns nós do brutal conservadorismo nacional.

Por isso dói tanto, por isso há tanto lamento nas redes sociais.

Dói porque há esperança.

Não houvesse esperança nenhuma, não haveria lamentos. Haveria protestos e rancor.

Com Aécio, haveria medo, em primeiro lugar. Em seguida, revolta e violência.

Com Dilma não há medo. Há desencanto e revolta, mas dificilmente violência.

Com Dilma ou Aécio, haveria Kassab, Kátia Abreu e algum Levy no ministério. A diferença é que, com Dilma, também há Miguel Rossetto na secretaria da presidência, Berzoini nas Comunicações, e Jacques Wagner na Defesa.

*

Neste domingo, entrei num debate com um jornalista da Globo, Jorge Pontual. Até então, sempre considerei Pontual um sujeito fino, longe dos chorumes que envergonham a nossa mídia. Mas tive que responder a um tuíte seu. O seu tuíte apontava o link para um texto publicado no Huffington Post, e trazia um comentário assim: essa é nossa triste realidade.

O texto era uma xaropada nonsense, esculhambando o Brasil de cima a baixo. Não sou nenhum ufanista fanático. Como todo brasileiro, também tenho hábito de falar mal do Brasil. Mas o texto vai muito além disso. O texto diz que o Brasil não merecia nem estar no Brics, porque seria pior que todos. Que a nossa produtividade seria metade da do México, etc.

Os dados são distorcidos. O texto é fraco, mal escrito, desonesto, confuso.

O nível dos investimentos estrangeiros no Brasil é um dos maiores do mundo. Oscilamos entre o quarto e quinto lugar como destino de investimentos estrangeiros diretos, que são os investimento de longo prazo, em produção, ou seja aqueles investimentos que somente as empresas que acreditam num país fazem.

Pode-se e deve-se criticar o capitalismo quanto se quiser, mas ninguém pode acusar-lhe de burrice ou ingenuidade. Se os grandes capitalistas do mundo estão investindo no Brasil, é porque entendem que há potencial.

A nossa infra-estrutura está passando por uma revolução. Aliás, é por isso que a mídia e as forças políticas obscuras por trás dela, querem transformar a operação Lava Jato não numa investigação contra a corrupção, mas num pretexto para paralisar as grandes obras de infra-estrutura.

Isso não podemos deixar acontecer.

É o maior perigo que enfrentaremos em 2015: evitar que a mídia use a Lava Jato para interromper as obras de infra-estrutura, ou produzir o caos no setor de construção civil, que é absolutamente estratégico para o nosso desenvolvimento.

Mas aí teremos um trunfo ao nosso lado.

A mídia vai entrar em confronto com o próprio capital, e não só brasileiro. Não interessa ao mundo, que já apostou centenas de bilhões de dólares no Brasil, e não num Brasil qualquer, mas no Brasil de Lula e Dilma, visto que o mundo pouco investia aqui na era tucana, não interessa ao mundo que o Brasil experimente uma paralisação econômica apenas porque a mídia assim o deseja.

Jorge Pontual foi, como diria Aécio, um leviano. Havia tantos indícios de que o texto, em inglês, falando mal do Brasil, escondia algum interesse político ou econômico obscuro, que ele deveria ser mais cuidadoso.

Ele rebateu dizendo que “o Brasil não é essa maravilha que vocês pintam”.

Ora, nem 8 nem 80. Eu não vejo nenhuma “maravilha”. Entendo que há problemas gravíssimos que temos de resolver. A começar por uma concentração de mídia que não encontra paralelo em nenhum país democrático.

Pode parecer uma filosofia meio besta falar isso, mas tudo que acontece tem um sentido. A operação Lava Jato, ao flagrar as grandes empreiteiras combinando esquemas escusos com servidores públicos, trouxe à tona um problema que devemos discutir a fundo.

Em primeiro lugar, abaixemos as armas, e deixemos de lado esse oportunismo ridículo de achar que a corrupção nasceu com o PT.

Quem usa as ruas e estradas no Brasil, e conhece ruas e estradas de países mais avançados, sabe que há alguma coisa errada com o material usado aqui. Em alguns casos, uma rua, poucos meses após ser recapeada ou asfaltada, já começa a apresentar buracos e falhas. O material usado aqui é de baixa qualidade. Evidentemente porque há conluio entre governos e empreiteiras, para usar material barato, e assegurar lucros exorbitantes aos empreiteiros.

Esses mesmos empreiteiros são os grandes financiadores das campanhas políticas.

Por isso é tão importante proibir doação de empresas a campanha política, e o fato de Gilmar Mendes prender, de maneira totalitária, uma votação no Supremo Tribunal Federal, já começa a tomar ares de um golpe.

Tudo que não é democrático, é golpe.

Gilmar Mendes, ao não permitir que a votação sobre doação de empresas a campanhas eleitorais, prossiga normalmente na corte, está dando um golpe.

A mídia não fala nada. Quando é do interesse dela, ela consegue pressionar todos os ministros a trabalharem em ritmo alucinante. No caso da Ação Penal 470, a mídia dizia que qualquer tentativa, por parte de um juiz, de pedir vistas para estudar o caso por mais alguns dias, seria uma infâmia.

E agora Gilmar Mendes pede vistas e segura, por tempo indeterminado, uma votação cujo objetivo é justamente combater a corrupção, e a mídia não fala nada.

Eu acho o seguinte: tudo vai dar certo.

O Brasil vai melhorar muito nos próximos anos, independente dos erros que o governo (e todos nós também, já que somos todos humanos) fatalmente irá cometer.

O governo comete muitos erros, mas é um governo que bebe o seu poder em grande parte da democracia, apesar de sabermos da influência poderosa do capital.

A nossa mídia, por sua vez, é filha da ditadura, é herdeira desse passado sinistro do qual, até hoje, retira sua força. Foi através da ditadura que a mídia se consolidou e formou comportamentos.

Daí que até mesmo a cultura de corrupção também deve ser atribuída, em parte, à nossa mídia.

Só que hoje o povo tem acesso a celulares com internet, o que lhes garante uma oferta de informação infinitamente mais variada que no passado.

Na TV, cada vez mais gente abandona os canais tradicionais e se liga em mídias como o Netflix.

Em 2015, teremos oportunidade de discutir política e ideologia.

Temos que oferecer ao povo uma ideologia moderna, que não o faça se sentir culpado por aspirar o conforto que nenhum de seus antepassados tiveram, a curtir esse conforto sem culpa. Nenhuma ideologia pode sobreviver se não apontar a felicidade, e nenhuma ideologia democrática se sustenta sem oferecer liberdade e felicidade individuais.

Ao mesmo tempo teremos de persuadi-lo, ao povo e a nós mesmos, já que nós também somos o povo, que a felicidade individual jamais será possível se não há segurança alimentar, financeira, habitacional, etc. Sem direitos coletivos assegurados, não haverá democracia, nem liberdade real.

Para assegurar essa liberdade, e esses direitos coletivos, será necessária uma grande reforma tributária, que aumente as alíquotas máximas, progressivamente, que institua impostos sobre grandes fortunas e grandes heranças, ao mesmo tempo que isente pobres e esta classe média baixa que, a bem da verdade, nem deveria ser chamada de classe média.

Vou ficando por aqui. Viajo para a casa de praia de uma amiga, e volto no dia 2. O blog deve ficar de férias nesse período. A menos que aconteça alguma coisa extraordinária.

Em 2015, teremos muito trabalho, e reitero que devemos encetar todos os esforços para arrostar as dificuldades com espírito altivo e bem humorado. Temos de combater não apenas os impulsos golpistas da mídia, as covardias do governo, mas também o espírito depressivo e neurastênico das redes sociais.

E aí, quando menos esperarmos, como disse Leminski, “distraídos, venceremos”.

Feliz 2015 para todos!

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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