Aparentemente, a trama para não aprovar as contas de campanha de Dilma Rousseff era apenas uma teoria de conspiração mesmo.
Alguém poderia dizer que a conspiração foi abortada depois que alguns a revelaram, mas isso seria uma outra teoria, então é melhor enterrar este assunto e virar a página.
O importante é que a soberania do povo está garantida.
Ganha quem tem mais votos.
A vitória de Dilma neste “terceiro” turno eleitoral, tão nervoso quanto o primeiro e o segundo turnos, agora está oficialmente confirmada.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou, com unanimidade, as contas de Dilma Rousseff.
(Ironicamente, as contas da principal vitória da oposição, a de Alckmin em SP, é que não foram aprovadas).
Os eleitores de Dilma podem, finalmente, comemorar.
E ao mesmo tempo podem se sentir mais livres para fazer as críticas necessárias às trapalhadas políticas que o governo fez e vai fazer.
Para sermos justos, digamos que trapalhada não é exclusividade do governo Dilma, mas de todo governo.
Numa visão benevolente, as trapalhadas de Dilma são insignificantes se pensarmos, por exemplo, nos EUA, onde a trapalhada de invadir o Iraque custou alguns trilhões de dólares, matou milhões de pessoas e deflagrou operações de tortura (reveladas agora) que se tornaram um grande escândalo internacional.
Só que Obama está dando entrevistas diariamente. Tem porta-voz, secretários de imprensa. Não deixa a oposição monopolizar o debate sobre as crises políticas que são a rotina diária de qualquer grande democracia.
Aqui no Brasil, o governo continua em silêncio, só quebrado por uma entrevista do Mercadante para Miriam Leitão – em tv fechada.
Ontem, ao menos, vimos Dilma chorar na TV, na Comissão da Verdade. Já é alguma coisa, humaniza a presidente, embora fosse interessante que a presidenta aparecesse em seguida, em entrevista, como ela realmente é, uma mulher que sempre enfrentou as dificuldades de frente, corajosamente, valentemente.
A violência policial continua matando milhares de pessoas no país. Não foi apenas na ditadura. E o governo terá de enfrentar essa questão sem choro nem vela.
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Voltando às contas eleitorais, o TCU e uma auditoria independente encontraram erros grosseiros no parecer dos técnicos do TSE.
Mas não vamos crucificar os técnicos. Errar é humano.
Errado foi Gilmar Mendes dramatizar os erros, chamando-os de “muito graves”, quando eram apenas falhas contábeis dos próprios técnicos do TSE.
As manchetonas que os jornais e portais deram ao parecer dos “técnicos” do TSE, recomendando a não aprovação das contas de Dilma, viraram títulos discretos para a notícia de aprovação unânime pelos ministros.
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Com a derrota (deles) no TSE, os jornais tentam agora desviar a atenção para uma história meio bizarra sobre a refinaria de Pasadena.
A República do Paraná liberou ao Globo um “depoimento sigiloso” de funcionário de carreira da Petrobrás.
É hilário o uso de “sigiloso” para qualquer coisa relacionada à República do Paraná.
Parece o humorista falando ao público, na TV aberta: “que isso fique só entre nós”.
Mas tento ver pelo lado bom. A Petrobrás está enfrentando a si mesma. Alguma coisa terá de mudar profundamente na empresa.
O problema da comunicação, que apontamos sempre por aqui, é também um reflexo da cultura de corrupção.
Se a Petrobrás fosse mais transparente, como deveria ser uma empresa metade pública, metade privada, com ações negociadas na bolsa, com certeza teria menos problemas relacionados à corrupção.
Pasadena é um exemplo.
Onde estão os dados da refinaria? Não há sequer fotos ou vídeos da refinaria operando. Não há dados atualizados sobre faturamento, lucro, custos, reformas.
Em primeiro lugar, a gente nem sabia que a estatal havia comprado uma refinaria nos EUA.
Tudo é envolvido em segredo, e isso certamente não ajuda a manter uma relação de monitoramento entre o público e a estatal que seria útil no combate à cultura de corrupção, que é embalada justamente por essa atmosfera de sombras.
Se há informações cuja confidencialidade é estratégica, então diga-o com franqueza, embora a esta altura do campeonato, em que até famosos chicaneiros norte-americanos resolveram acionar judicialmente a empresa, com esperança de ganhar dinheiro fácil, o segredo e o silêncio da Petrobrás nunca custaram tão caro.
A Petrobrás tem ativos no mundo inteiro. Onde estão os vídeos, imagens e informações sobre cada um desses ativos?
Silêncio e segredo não mobilizam a opinião pública. A Petrobrás tem um plano estratégico para, em paralelo ao combate à cultura de corrupção na empresa, recuperar a sua imagem?
Se tem, esse plano é segredo também? Ou o plano é ficar quietinho até “a crise acabar”. Bem, neste caso, tenho algo a lhes dizer, aos estrategistas da Petrobrás: a crise nunca vai acabar.
O plano se limitará a comprar páginas inteiras nos jornalões e revistões?
A encher a grande mídia de dinheiro, ao mesmo tempo que elimina editais e corta patrocínios para pequenos produtores culturais?
Os jornais americanos estão cheios de reportagens sobre os lucros crescentes das refinarias norte-americanas.
Com a queda do preço do petróleo observada nos últimos dias, elas estão lucrando ainda mais, visto que vivem da diferença entre o produto refinado e o petróleo. Quando cai o preço deste último, ganham mais dinheiro.
Seria de bom tom à Petrobrás reformular suas estratégias de comunicação, e passar a usar o blog com mais eficiência, trazendo vídeos, entrevistas, depoimentos, passeios virtuais pelas plataformas, informações financeiras atualizadas diariamente, além de um acompanhamento crítico do noticiário sobre os escândalos de corrupção na empresa, para que o público e seus próprios funcionários pudessem sempre ter acesso a uma outra versão dos acontecimentos.