Eis que o candidato derrotado Aécio Neves – e que, pelo jeito, ainda não se conformou com isso – dá uma entrevista à um programa da Globonews e diz que perdeu a eleição para uma “organização criminosa”.
Aécio tenta surfar, naturalmente, nas investigações da Petrobrás.
Quem ouve desprevenido poderá pensar que Aécio é o presidente da república e que foi no governo dele que a Polícia Federal resolveu investigar a fundo a corrupção nas estatais.
Ora, o que está acontecendo é mérito de Dilma, que nunca interferiu no trabalho da Polícia Federal. Dilma e Lula, porque ambos contrataram milhares de novos delegados federais e agentes da PF, e lhes deram liberdade. Liberdade inclusive política.
Em que outro governo, um grupo de delegados se sentiria livre para fazer festinha em Facebook com invectivas contra o governo?
É um excesso, claro, mas também reflete o clima de liberdade democrática.
É tanta liberdade que chega a flertar com o liberticismo suicida, visto que estes mesmos delegados são os responsáveis pela Lava Jato, uma operação importante, que já prendeu executivos e presidentes de empreiteiras, mas que vem eivada de irregularidades, como vazamentos seletivos para a grande imprensa de trechos de depoimentos sigilosos. Sempre em prejuízo da base aliada.
Mas, enfim, liberticida ou suicida, continua sendo liberdade.
A mesma coisa vale para o Ministério Público, para o Judiciário e para a mídia.
Como o PT não tem força ou presença nessas instâncias, não faz nem pode fazer pressão para abafar.
Com o PSDB, tudo sempre é abafado. Os procuradores esquecem os processos em gavetas. Os juízes estiram os processos por anos, até que prescrevem, e a mídia dá notinhas para cumprir tabela, mas não insiste, não acompanha, não faz editoriais para mobilizar a opinião pública, não se engaja.
E por que?
Porque sempre houve relações orgânicas, familiares, de classe, entre os donos do poder. Os políticos tucanos ou do DEM são parentes e amigos dos juízes e dos procuradores. Frequentam os mesmos restaurantes e fazem as mesmas viagens ao exterior.
Por isso são ídolos nas coxias dos aeroportos.
(E ficam nervosos com os pobres invadindo seu espaço).
Esse é o patrimonialismo denunciado por Raymondo Faoro, viu Gurgel?
Faoro não denunciou o patrimonialismo do PT, como você tentou vender na denúncia do mensalão.
Faoro denunciou o patrimonialismo das classes proprietárias, cujas posses vão minguando, então eles vão colocando seus filhos em cargos públicos para compensar a perda do poder econômico.
A elite então passa a dar mais valor a ocupação de cargos no judiciário, no ministério público, nos altos escalões da polícia, exército. Enfim, dos estamentos.
Por isso, a tese do Fabiano Santos é tão genial. A democracia está desinfetando a corrupção. O atrito entre as instituições, pondo Executivo de um lado, e Judiciário e MP de outro, criou uma independência que nunca havíamos visto.
O ódio político criou a independência que apenas a ética profissional não foi capaz de produzir.
O perigo, naturalmente, seria um novo golpe. Mas como a democracia parece bastante sólida, até por conta da existência, hoje, de uma base social muito mais consciente do que nos anos 60, a briga de poder entre os estamentos pode, no máximo, produzir arbítrios judiciais, como no caso do mensalão.
Mas não golpes de Estado.
*
Leio que o PT irá processar Aécio Neves pela frase proferida.
Ora, não basta!
A resposta tem de ser, sobretudo, política.
Aécio Neves tem de pagar politicamente por sua irresponsabilidade.
A mídia não cobra nada de Aécio Neves.
O tucano e a mídia tentam justificar a derrota depreciando a campanha de Dilma. Dizem que foi mentirosa, suja, etc.
Mentirosa, suja e bandida foi a campanha dele, de Aécio Neves!
A pistolagem midiática toda se uniu em prol do PSDB!
Se Aécio quer continuar a campanha, então vamos continuar.
Vamos lembrar que ele nomeou o próprio pai para a Cemig, que sua irmã cuidou das verbas para a mídia de Minas Gerais, incluindo aí a própria rádio da família, que foram construídos aeroportos, com recursos públicos, para uso particular.
Que ele empregou a parentalha toda no governo!
Que há podres em Claudio, relacionados a trafico de drogas, homicídios, ossadas humanas, que dão para encher vários aeroportos clandestinos!
E muitas outras coisas cabeludas que levantamos durante a campanha. Tudo sempre acompanhado de provas.
Quem se fia apenas em fonte anônima e delação de bandido é a Veja e a mídia corporativa.
Dilma venceu com apoio de uma grande base popular orgânica, que se mobilizou com muita força, sobretudo no segundo turno.
A Petrobrás acaba de criar uma diretoria especializada em combater a corrupção.
Como eu havia previsto, a estatal será modelo também nesse quesito.
Para isso, foi preciso um conjunto de circunstâncias.
O PSDB vendeu metade da Petrobrás na bolsa de Nova York, afundou a P-36 e aprovou leis que flexibilizavam a vigilância dos processos de licitação.
Mesmo com tudo isso, jamais acusaríamos os milhões de eleitores de Aécio Neves de “cúmplices”, como fez um dos âncoras da Globo, Alexandre Garcia.
Nem chamaríamos o PSDB de organização criminosa.
No entanto, podemos afirmar, como diz o título do post, que Dilma venceu uma organização criminosa: esse grupo social nojento que mistura marchadeiros da intervenção militar, udenistas histéricos, zumbis da mídia, colunistas racistas, âncoras da ditadura, fundamentalistas hipócritas, e uma mídia golpista cevada à sombra do regime militar.
As organizações criminosas que vivem da corrupção temem o PT, é claro.
Porque o PT não tem, como o PSDB, o poder de abafar escândalos.
O PT não teve força para impedir que houvesse corrupção na Petrobrás, e isso foi um erro do partido que ele está pagando, e caro; mas também não tem força para impedir a investigação contra a própria base aliada, e esta é uma fraqueza que convêm à nossa democracia.
É uma ironia típica de uma democracia. O ódio político que setores do Ministério Público, do Judiciário, da mídia, e da própria Polícia Federal, desenvolveram contra o PT, acaba se voltando em favor da democracia, ao aprofundarem investigações que, havendo outro partido no poder, jamais seriam aprofundadas.
O risco é a repetição do que ocorreu na Ação Penal 470. Que este ódio se transforme em arbítrio, que direitos de defesa sejam violados e que alguns réus sejam condenados sem provas.
Isso não interessa à democracia, em absoluto.
Pode ser o empreiteiro mais rico e mais cafajeste do país. Pode ser o político mais crápula. Sem provas, não se deve jamais condená-lo apenas porque a mídia quer, ou para vender ao povo que “agora os ricos e poderosos também vão para a cadeia”.
Na história mundial das ditaduras, sempre foi comum ver ricos e poderosos indo para a cadeia. Bastava não ser amigo do ditador da vez. No caso do Brasil hoje, basta não ser amigo dos tiranetes que controlam a mídia e o judiciário.
Sim, porque eles não incomodam, jamais, os amiguinhos da mídia.
A prova disso é que as mesmas empreiteiras flagradas agora pagando propina a diretores da Petrobrás também estavam envolvidas no buraco do metrô. As mesmas! Os mesmos executivos!
Não houve prisão de ninguém. Não houve delação premiada. Não houve nada.
E sete pessoas morreram!
A mesma coisa no afundamento da plataforma P-36, a maior do mundo, da Petrobrás.
Onze pessoas morreram. Não houve investigação decente, prisão, delação premiada. Nada!
Por que? Porque não atingia o PT.
*
Aécio Neves está cada vez mais embriagado por sua derrota.
O chamego dos ricos e da mídia à sua pessoa está lhe fazendo perder a prudência necessária para exercer a atividade política.
Ao invés de se preparar para ser um nome forte para 2018, Aécio continua apostando num terceiro turno agora, imposto pela força da mídia e dos tiozinhos nervosos que marcham na Paulista.
Isso é feio, candidato.