Para abafar o mero debate sobre regulação econômica da mídia, uma bandeira repetida pela presidenta Dilma em sua campanha, a Globo começou uma campanha de mentiras.
Nada que a gente já não conheça. Ela só aumentou de intensidade, e vem articulada com um grande esforço para manipular o PMDB.
Na verdade, o próprio PMDB também parece estar manipulando a mídia, fazendo um jogo.
Tipo assim: alguns caciques do PMDB acertam em proteger a Globo, e a Globo passa a só falar bem deles, ou mesmo os protege, quando surgirem escândalos envolvendo seus nomes.
De certa forma, essa proteção já começou. Esse diretor da Transpetro, Sérgio Machado, que se afastou em virtude de denúncias de Paulo Roberto Costa, foi nomeado por Renan Calheiros.
Mais ainda: Sergio Machado era líder do PSDB no Senado, durante o governo FHC, outro detalhe que a mídia trata com muita discrição. Saiu do PSDB e migrou para o PMDB para seguir Renan, seu guru.
Uma reportagem publicada ontem no Globo, sobre as articulações do PMDB para o novo governo, tinha como objetivo principal contar mentiras sobre a regulação da mídia.
Reproduzo alguns trechos.
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“(…) Na quarta-feira, numa nova rodada, Temer reunirá o Conselho Nacional do PMDB, formado por 67 dirigentes, para definir pontos da reforma e deixar clara a posição contra a regulação da mídia.
(…) Nos debates dos peemedebistas, entrará ainda um ponto que coloca PT e PMDB em oposição: a regulação da mídia.
— Nós não aceitamos quebra da liberdade de imprensa. Não vamos aceitar. É um princípio. Nós, do PMDB, derrubamos uma ditadura, e a presidente Dilma também teve alguns anos presa, foi torturada para garantir a liberdade de imprensa. Nós não vamos, e creio que ela também, não vai abrir mão disso — afirmou o ministro Moreira Franco (Aviação Civil).
No Congresso, dizem os peemedebistas, não há chance desse tema prosperar, mas é preciso diálogo e permanente atenção para impedir que a regulação comece a ser operada via Executivo, por meio de decretos.
— A imprensa precisa ser independente não só da tutela estatal, mas das forças econômicas. A pretensão de abolir o direito à liberdade de expressão é totalmente imprópria. Quem regula, gosta, rejeita ou critica é o consumidor da informação. Ele é quem faz isso e somente ele. O único controle tolerável é o controle remoto — reafirmou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).”
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Renan Calheiros comete o despautério de falar: “A pretensão de abolir o direito à liberdade de expressão é totalmente imprópria”.
Abolir o direito da liberdade de expressão!
A Globo se agarra desesperadamente aos velhos oligarcas nordestinos, quase todos proprietários de meios de comunicação em seus estados, para se manter intocável.
E patrocina uma campanha sórdida, junto à ala mais fisiológica do PMDB, para abafar um debate fundamental para o aprimoramento da nossa democracia.
Essa campanha de mentiras apenas reforça a necessidade de uma regulação da mídia.
Uma regulação que não vai “abolir o direito à liberdade de expressão”. Ao contrário, vai assegurá-lo, coisa que não acontece hoje.
O monopólio dos meios de comunicação deprime a economia brasileira, na medida em que restringe empregos na área do jornalismo e do entretenimento.
O monopólio da mídia causa danos à cultura, à política, ao esporte, à democracia, às eleições.
Os clubes de futebol vivem falidos porque todo o dinheiro do esporte é drenado para Globo, ao invés de ir para os clubes e para os atletas.
A cultura brasileira sofre terrivelmente com um ambiente opressivo, que asfixia a criatividade.
O jornalismo brasileiro vive uma crise quase terminal, inclusive de emprego. O sujeito que se recusa a se alinhar às ideias da grande mídia entra rapidamente para uma lista negra e tem dificuldade de ascender profissionalmente.
Os salários dos jornalistas estão deprimidos. Como são poucas empresas, o profissional sente-se obrigado a trabalhar pelo salário que lhe é oferecido.
A vida de atores e atrizes tem sido um inferno no Brasil. Só quem trabalha na Globo ganha dinheiro. Essa dependência se tornou doentia, prejudicando todo o mercado de audiovisual.
É preciso quebrar o monopólio para libertar as forças da economia da cultura, do entretenimento e da informação.
A concentração excessiva dos meios de comunicação prejudica o ambiente de negócios.
Em sua campanha permanente contra qualquer iniciativa progressista, a imprensa produz uma atmosfera eterna de depressão e crise.
Enfim, o debate precisa ser feito. O governo não pode ter medo. Mesmo perdendo no Congresso, será uma vitória política se trouxer esse tema ao primeiro plano.
O importante, neste momento, é não deixar que a mídia, em especial a Globo, faça a sua campanha de mentiras sem contraponto.
A blogosfera e as redes sociais nunca vão parar de falar em regulação da mídia, porque entendemos que é um passo crucial para fortalecer a nossa democracia.
Por isso mesmo, há expectativa tão grande com dois ministérios estratégicos: a Secom e o Ministério das Comunicações.
Dilma deveria nomear quadros políticos para ambos, e não necessariamente do PT.
O importante é que sejam quadros com densidade política para enfrentar o debate com a mídia.
É um tanto surreal ver Renan Calheiros se arvorando como salvador da “liberdade de expressão” no Brasil, nas páginas do Globo.
Entretanto, mais surreal é não haver nenhum contraponto imediato por parte das forças de esquerda presentes no governo.
O governo precisa de um porta-voz, de alguém que rebata a mídia imediatamente, diariamente!
O governo Dilma deve ser o único governo do mundo que não possui um porta-voz.
Será tão difícil assim? Basta contratar UMA PESSOA.
Pegue-se um intelectual desses, do PT ou fora do PT, como Valter Pomar, Breno Altman, Requião, monte-se um conselhinho político a seu redor, bem enxuto para não lhe tirar a agilidade, mas consistente, para lhe dar reforço político e institucional, dê-lhe um cargo, um blog e um microfone, e pronto! Eis um bastião para rebater a mídia, de maneira democrática, pacífica e inteligente.
As pequenas fricções diárias geradas a partir de uma estratégia de maior enfrentamento revelar-se-ão salutares, porque evitarão o clima de guerra do fim do mundo num momento posterior.
A tática de enfiar a cabeça no buraco, e deixar a mídia manipular a seu bel prazer a opinião pública, não deu certo e agora, mais que nunca, deve ser abandonada.
Se não politizar o debate, se não se fizer presente, o governo vai permitir que os brasileiros continuem sendo massacrados por uma mídia que promove a despolitização e a antidemocracia, conforme ficou bem claro nessas últimas manifestações pró-golpe militar e pró-impeachment.
Esse monte de retardado gritando nas ruas pela volta do regime militar deveria servir de alerta a todos.