A pátria da liberdade da imprensa, o Reino Unido, mostrou ao Brasil e ao mundo que regular a mídia não é censura. É uma maneira de garantir a continuidade da própria liberdade.
Sem regulação, a imprensa e a mídia tendem a serem controladas por monopólios, golpistas e criminosos da informação, como aconteceu no Reino Unido, onde jornalistas e editores subornavam policiais para que espionassem cidadãos ingleses.
Aqui, a atividade criminosa da imprensa é rotina. A Veja usava Cachoeira, bandidão de Goiás, e Cachoeira usava a Veja.
E acabamos de testemunhar como Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, criminosos presos pela Polícia Federal, também entraram num jogo armado com a imprensa de oposição.
Não haverá editoriais contra o que agora já está claro que foi um crime: a “retificação” do depoimento de Alberto Youssef, para incluir os nomes de Lula e Dilma?
Não, não haverá, porque a imprensa brasileira é criminosa orgulhosa de seus crimes. Merval Pereira, por exemplo, fala na delação premiada como se nunca tivesse acontecido nada de errado.
E a notícia publicada ontem, discretamente, sobre a suspeita da PF de que tenha havido “armação” entre o advogado de Youssef e a Veja, não repercutiu. Como assim? O caso mobilizou o país, quase mudou os rumos da eleição, e a imprensa não quer saber?
Se não tem condições de fazer uma regulação da mídia imediata, o governo brasileiro tem de adotar iniciativas políticas imediatas que permitam, ao menos, a oxigenação do debate político.
É isso, ou terá dificuldades de governar.
É uma condição de sua própria sobrevivência.
Sobrevivência do governo e do próprio processo democrático.
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No Jornal GGN.
Regulação da mídia é aprovada no Reino Unido
QUI, 30/10/2014 – 09:57
ATUALIZADO EM 30/10/2014 – 10:01
Jornal GGN – A rainha Elizabeth II sancionou ontem um sistema de regulação da mídia do Reino Unido, que vai submeter revistas e jornais britânicos a um órgão de fiscalização do governo que pretende coibir abusos. A discussão entrou em pauta depois que repórteres do jornal “News of the World” e de outros meios de comunicação tiveram acesso ilegal a ligações telefônicas de celebridades, políticos e vítimas de crimes. Os jornais ameaçam boicotar a medida. Vítimas de abusos da imprensa apoiam a solução. “A imprensa deveria aproveitar para mostrar que não teme ser submetida a padrões éticos decentes, e que tem orgulho de agir com responsabilidade com as pessoas para quem e sobre quem escrevem”.
Reino Unido aprova regulação da mídia
Do O Globo
Jornais não conseguem barrar medida em resposta a escândalo sobre escutas
Rebekah Brooks chega ao tribunal em Londres – Kirsty Wigglesworth / AP
LONDRES – Depois de países como Equador e Venezuela lançarem este ano medidas de controle da imprensa, foi a vez de o Reino Unido unir-se à polêmica. Dois dias após o premier David Cameron ameaçar censurar o “Guardian” pela publicação de documentos sigilosos sobre a espionagem no país, a rainha Elizabeth II sancionou nesta quarta-feira um sistema de regulação da mídia, que foi amplamente criticado por jornalistas locais. A iniciativa, apoiada pelos três principais partidos políticos britânicos, vem na esteira do escândalo de escutas telefônicas por jornalistas, e depois de os meios de comunicação verem seus esforços contra o controle rejeitados na Justiça.
A novidade deve sujeitar revistas e jornais britânicos a um órgão de fiscalização do governo com a função de coibir os abusos descobertos com o escândalo dos grampos – que revelou que repórteres do jornal “News of the World”, do magnata Rupert Murdoch, e de outros meios de comunicação, tiveram acesso ilegal a ligações telefônicas de celebridades, políticos e vítimas de crimes. Também torna mais fácil para as pessoas que se sintam atacadas pela imprensa terem suas queixas ouvidas, além de permitir ao órgão federal cobrar multas aos meios de comunicação.
“(A medida) vai proteger a liberdade de imprensa ao oferecer reparação quando erros forem cometidos”, defendeu o Ministério da Cultura, em comunicado.
Jornalistas locais argumentam que o órgão federal poderia ser usado por políticos para punir publicações das quais não gostam. Eles também reclamam que propostas sugeridas por eles foram ignoradas.
Ex-editores supervisionariam grampo
A guerra, porém, ainda não acabou. Várias publicações já ameaçaram boicotar o novo órgão. Outras consideram levar o tema ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Os meios de comunicação não são obrigados a se inscrever no novo marco regulatório, mas não está claro, até agora, como o impasse será resolvido.
– As chances de nos unirmos à interferência estatal é nula – disse Tony Gallagher, editor do jornal “Daily Telegraph”.
Já o grupo “Hacked Off”, que reúne pessoas que se sentiram atacadas pela mídia, elogiou a medida. “A imprensa deveria aproveitar para mostrar que não teme ser submetida a padrões éticos decentes, e que tem orgulho de agir com responsabilidade com as pessoas para quem e sobre quem escrevem”, disse num comunicado.
No mesmo dia, dois jornalistas foram acusados em Londres de supervisionar grampos telefônicos. Segundo a promotoria, Rebekah Brooks, ex-braço direito de Murdoch, e Andy Coulson, ex-chefe de imprensa do premier britânico, teriam supervisionado um sistema de escutas e de pagamentos ilegais a funcionários públicos quando eram chefes do “News of the World”. Ambos negam as acusações.
Ainda ontem, outros três jornalistas do extinto tabloide declararam-se culpados das denúncias relacionadas às escutas, nas primeiras confissões desde o início da investigação, em 2011.