É quase impossível analisar objetivamente o último debate realizado na Globo.
As opiniões já estão formadas, poluindo qualquer resquício de neutralidade. E o problema nem sempre é que davamos vitória automática ao candidato que apoiamos. Às vezes a ansiedade nos deixa críticos demais inclusive com estes.
O eleitor comum costuma ser mais complexo do que se imagina. Frequentemente, o que o atrai não é o candidato autoconfiante e inabalável.
Ontem, no debate da Globo, por exemplo, os eleitores “indecisos” convocados tremiam horrivelmente diante das câmeras.
Não estão acostumados à violência da exposição midiática.
Neste sentido, talvez Dilma tenha produzido uma empatia maior. Porque, curiosamente, apesar dela ser a favorita e a líder nas pesquisas, via-se que estava mais nervosa que seu adversário.
Afinal, o tucano é uma raposa que exerce cargos políticos desde o final da adolescência.
Aécio nunca enfrentou nenhuma dificuldade. Com 17 anos, tinha um emprego no Ministério da Justiça. Com 19, era secretário no gabinete do pai. Sempre morando no Rio, apesar da função ser exercida em Brasília. Provavelmente, Aécio nem comparecia ao trabalho.
Ainda com 17, em viagem aos EUA, Aécio dá entrevista dizendo que as mulheres brasileiras não precisam trabalhar, porque tem duas empregadas doméstica cada uma. Numa frase, vários preconceitos, inúmeras demonstrações de ignorância política.
Aos 25 anos, Aécio ganha uma rádio de Sarney.
É assim que ele constrói sua carreira política, sempre recebendo favores da família e de amigos da família.
Dilma, filha de um imigrante búlgaro sem qualquer conexão política, construiu a sua vida pública pela via mais difícil que se possa imaginar: arriscando-se, ainda muito jovem, numa luta desigual contra a ditadura.
Perdeu inúmeras batalhas.
Foi encarcerada e torturada por anos a fio. A presidenta já relatou o que sofreu em sua biografia. Pau de arara, choque, espancamento, além da humilhação constante de ser exposta nua aos trogloditas da ditadura. Passou por interrogatórios excruciantes.
Até hoje, a presidenta tem problemas de dentição em resultado de golpes em seu rosto.
A eleição tem coerência.
Aquele que sempre recebeu as benesses dos opressores, da ditadura, é o candidato dos ricos e da mídia, da mesma mídia que apoiou o regime militar.
Aquela que lutou contra a tirania, e o fez tendo como recompensa apenas a prisão e a tortura, é a candidata do povo e daqueles que, até hoje, lutam por justiça social e aprofundamento da democracia.
Observe ainda a timidez dos colunistas hoje em afirmar quem venceu o debate. Possivelmente estão confusos, como a maioria dos analistas.
Talvez a razão da dificuldade em analisar o debate seja justamente a nossa obsessão pela objetividade.
Há um momento em que é preciso apelar para a sensibilidade e para a intuição.
Uma reportagem publicada hoje, no Estadão, nos dá subsídio para entender uma possível vitória de Dilma, tanto no debate de ontem quanto nas eleições de domingo.
Reproduzo um trecho abaixo.