Por Emilio Chernavsky, doutor em economia na Universidade de São Paulo.
Nos últimos meses, análises segundo as quais a inflação no Brasil estaria descontrolada têm obtido amplo destaque na imprensa. Mas, estariam essas análises corretas?
A partir do exame dos números, defende-se aqui que não. Isso porque, a despeito dos importantes choques de preços e das transformações estruturais que o Brasil sofreu nos últimos anos, a inflação medida pelo IPCA, esperada para 2014:
• Está, pelo 11° ano consecutivo, abaixo do teto da meta definida pelo CMN¹
• É similar à taxa média do primeiro mandato do presidente Lula;
• É muito inferior à taxa média do primeiro e do segundo mandato do presidente FHC;
• É pouco mais da metade da taxa registrada no último ano do mandato do presidente FHC;
• É similar àquela verificada em várias outras economias emergentes importantes.
Ou seja, longe de disparar, a inflação permanece controlada. Já os salários recebidos pela população, em especial por aqueles que obtêm os rendimentos mais próximos ao salário mínimo, ao invés de cair ou ficar estagnados como ocorreu durante muito tempo, têm subido continuamente.
Com a inflação controlada e os salários crescendo, o dinheiro no bolso aumenta mais que os preços. Com isso as pessoas conseguem, ao contrário do que alguns insistem em dizer, ampliar e diversificar seu consumo cada vez mais.
É claro que às vezes o preço de alguns artigos pode subir muito rapidamente em função, especialmente, de adversidades climáticas. Mas em geral, mais cedo ou mais tarde eles caem, fazendo com que a inflação permaneça controlada e os preços cresçam menos que os salários.
Tanto é assim que, enquanto em 2002 a dona de casa comprava com um salário mínimo menos que uma cesta básica e meia, em 2014 ela podia comprar mais que duas. O mesmo ocorre com a grande maioria dos produtos, como a carne, frango e ovos, legumes como a batata e o tomate, arroz, feijão, bolachas, macarrão, etc. Gastando menos com os produtos básicos, sobra mais dinheiro para que a população possa comprar bens e contratar serviços com os quais, até pouco tempo atrás, somente quem tinha maiores recursos podia sonhar. Com mais pessoas consumindo esses bens e serviços, mais empregos são gerados para fornecê-los, mais salários são pagos, e ainda mais pessoas podem aumentar seu consumo. O Brasil espera que esse círculo virtuoso que vigorou nos últimos anos não seja interrompido.
* ¹ Às vezes ouvimos que isso só ocorre porque o governo controla alguns preços, principalmente os da energia e dos combustíveis, que representam juntos cerca de 9% do IPCA. Na verdade, o que o governo faz é apenas evitar que quando ocorrem fortes variações nas condições climáticas e nos preços internacionais do petróleo, elas sejam transmitidas imediatamente aos preços internos. É importante notar, contudo, que o impacto dessa ação do governo sobre a inflação, ao contrário do que frequentemente é divulgado, é bastante limitado na maior parte do tempo.