Por Theófilo Rodrigues*
“Tiro no pé”. Essa é a expressão que melhor define a edição da Revista Veja cuja publicação foi antecipada para sexta-feira com o claro objetivo de interferir no processo eleitoral.
Sem apresentar nenhuma prova a revista da família Civita acusou os presidentes Lula e Dilma Rousseff de serem os organizadores de um suposto esquema de corrupção instalado na Petrobras.
Aqui interessa-nos menos debater o conteúdo da revista e mais as suas consequências.
A revista Veja apostou todas as suas fichas nessa última cartada de curto prazo. Pode até ser que a acusação, que será reverberada pelo candidato Aécio Neves no debate da Rede Globo, tenha algum efeito eleitoral e tire votos de Dilma. Mas e se Dilma ganhar?
Ocorre que toda ação tem uma reação. A primeira reação de Dilma já veio em seu programa eleitoral de televisão e rádio desta sexta-feira. Nas palavras da petista, “os brasileiros darão sua resposta à Veja e seus cúmplices nas urnas e eu darei minha resposta na justiça”. Foi a primeira vez que Dilma falou dessa forma. Nem Lula quando presidente chegou a ser tão assertivo.
É intuitivo imaginar que não passará em branco para a candidata Dilma esse afronte caso seja reeleita.
O amigo da UFRRJ Darlan Montenegro costuma citar o quadro dirigente petista Valter Pomar para dizer que “a burguesia não nos faltará”. Em outras palavras, isso significa que a radicalização da burguesia obriga necessariamente a radicalização dos trabalhadores. Ao menos para aqueles que fazem a defesa da democratização da mídia a burguesia não está lhes faltando. Ou seja, a radicalização da Veja obrigará Dilma, caso reeleita, a mover-se em direção de uma democratização da mídia que passe pela regulação econômica das empresas de comunicação e por uma redistribuição das verbas de publicidade.
Se a revista fez o que fez é porque sabe que a reeleição de Dilma lhe será muito prejudicial. Mas ao tentar alterar o processo eleitoral Veja acabou apenas potencializando o movimento que tanto repudia.
Ironicamente, os que defendem a democratização da mídia devem estar hoje comemorando:
“Obrigado, Veja!”
*Theófilo Rodrigues é cientista político, coordenador do Barão de Itararé no Rio de Janeiro e colunista no blog O Cafezinho.