Bala de prata é de festim


 

Não foi difícil encontrar a matéria da Veja sobre a delação do doleiro.

Como a campanha de Aécio tem como núcleo de comunicação o conteúdo de Veja/Globo, eu sabia que eles estariam, a esta hora, pirateando desesperadamente a reportagem que acusa Dilma e Lula.

Depois de ler, porém, confesso que fiquei decepcionado.

É uma matéria curta, cheia de floreios, que não traz absolutamente prova nenhuma.

Não tem sequer novidades. Apenas duas ou três frases genéricas de Youssef.

Dois terços do texto são para explicar e defender o conceito de delação premiada.

A revista esqueceu de dizer, porém, que Alberto Youssef já usou da delação premiada, e com o mesmo juiz, Sério Moro, no processo que investigava o escândalo do Banestado, em que dezenas ou centenas de bilhões de dólares foram enviados ilegalmente para o exterior.

Youssef foi beneficiado da delação premiada, foi solto, e voltou a cometer crimes.

Sérgio Moro não prendeu ninguém no processo que investigava o Banestado.

Quer dizer, prendeu Youssef e depois o soltou, após lhe dar o benefício de delação premiada, que não resultou em nada.

É evidente que o instrumento de delação premiada deve ser usado com extrema cautela pelo juiz. Em se tratando de um réu condenado justamente por articulações políticas criminosas, porque o juiz lhe daria oportunidade de manipular politicamente seu próprio julgamento?

Ora, assim como os chefões do crime organizado continuam liderando suas operações mesmo de dentro da cadeia, Youssef pode continuar operando, e ganhando dinheiro, mesmo preso.

Seu advogado negocia por ele.

Fulano pede para não ser citado, e lá vai mais uma propina paga por um corruptor.

Sicrano paga tanto para que Youssef (ou Costa, tanto faz) incrimine um inimigo pessoal e político seu.

No caso do Brasil, com a delação premiada se dando num segundo turno eleitoral, com as bolsas subindo e descendo vertiginosamente, ela adquire os contornos de uma grande pilantragem.

E a Justiça fazendo o papel de trouxa, oferecedo, de graça, a estrutura do Estado para que bandidos distribuam chantagens políticas, interfiram no processo eleitoral e fiquem ainda mais ricos.

A primeira página da matéria da Veja é uma cínica tentativa de explicar ao leitor que a denúncia que iria ser feita nas próximas páginas não tinha interesse eleitoral.

Para exemplificar a qualidade sofrível da matéria, destaco apenas um trecho:


Sem mais comentários.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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