Nunca vi a Cinelândia tão cheia e tão alegre. Nem no Carnaval. Mais de 30 mil pessoas.
Um bloco de gente ocupava a praça, todos com adesivos da Dilma. Muitas bandeiras com o nome da presidenta e de seu partido.
No alto do carro de som, os meninos do passinho davam show. Um locutor imitava a voz de Lula e fazia discursos contra a oposição.
Olhando aquele mar de gente bonita, dava vontade de rir ao lembrar dos temores de Merval, falando em “fascismo”.
Fascismo só mesmo da mídia.
A galera cantava o refrão mais popular desta eleição:
“Quem não pula é tucano! Quem não pula é tucano! Quem não pula é tucano! Quem não pula é tucano!”
E todo mundo pulava, ou apenas ria.
Com amigos, bebendo uma cervejinha, eu lembrava a ironia da história. Há um ano, milhares xingavam o governo, o PT, e a Dilma.
Agora todo mundo grita “Dilma, eu te amo!”, ou “Ole ole ole olá. Dilmá. Dilmá”.
Roberto Amaral, presidente deposto pela Globo e pela extrema direita do PSB, fez um discurso profundamente emocionado, em defesa do voto em Dilma Rousseff.
“Nós iremos ganhar, porque o povo sempre ganha”, declarou Amaral, com voz embargada.
Há muito tempo não via uma liderança política tão emocionada como Amaral, falando em soberania, em vitória popular, em derrota do conservadorismo.
Miguel Rosseto, coordenador da campanha de Dilma, também fez um belo discurso, dizendo que o povo brasileiro sempre teve grande confiança na força do povo carioca e fluminense, o qual jamais faltou nas horas em que o campo popular precisava de seu voto.
Dilma caminha para ter mais de 60% dos votos no Rio de Janeiro, o que será decisivo para sua vitória. E o ato desta quarta-feira fez com que seja não apenas uma vitória eleitoral, mas uma grande vitória política e moral.
Não podia faltar o refrão mais popular das jornadas de junho.
“A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”.
Outro refrão cantado pelos locutores e que fez sucesso entre o público:
“Esquerda unida, jamais será vencida!”
Todos os espectros da esquerda, incluindo seus mais radicais, vieram prestigiar o evento.
Havia também cartazes com críticas à mídia, tipo assim: “Mídia, você não nos engana mais”.
O sucesso da manifestação foi surpreendente porque as lideranças da campanha e do próprio PT não acreditavam nela, sobretudo após o cancelamento da ida de Dilma e Lula.
Grupos mais à esquerda do PT e, principalmente, a base social, é que insistiram na importância do ato.
Acertaram na mosca.
Os cariocas não estavam obcecados pela presença de Dilma. Queriam apenas comparecer a um ato e mostrar de que lado estavam. Queriam se manifestar, sentir o calor humano de seus iguais em política.
O acirramento da disputa fez com que a esquerda saísse do armário.
O constrangimento de votar no PT e na Dilma, imposto pela mídia, evaporou-se numa onda de orgulho e coragem.
Diante do temor de um retrocesso político, cultural e moral, todos viraram petistas.
Ao menos até o dia 26 de outubro.
A gente conversava que se o PT e outros partidos da esquerda souberem aproveitar a onda. Se Dilma empoderar personalidades da sociedade civil, com prestígio na esquerda. Se souberem emitir sinais positivos para a juventude.
Se não cederem, enfim, ao burocratismo frio e burro que impera hoje nos partidos, a onda pode continuar durante a próxima gestão.
É a única chance, a gente concordava, de manter a esquerda no poder por mais alguns mandatos.
Em caso contrário, babou. Senão sinalizar para o povo que a apoia, Dilma não vai nem conseguir governar.
E comunicação, evidentemente, será fundamental. Tem que responder a todo ataque da mídia.