Para Aecinho jovem, doméstica não era gente?


 

Lendo os posts do Fernando Brito, no Tijolaço, e de Paulo Moreira Leite, em seu blog, pensei o seguinte.

Aécio com 17 anos não é o Aécio de hoje, após décadas de jatinhos e aeroportos em Claudio.

Do Aécio de hoje, não tenho compaixão nenhuma. Considero um neoliberal sem caráter, um adversário ideológico, um político que pode fazer muito mal ao país.

Mas não queria ser injusto com o Aecinho de 17 anos que deu entrevista ao Franklin-News.

Por isso, gostaria que Dilma, no debate da Globo, perguntasse para ele o que ele quis dizer, quando falou, há trinta anos, que “as mulheres brasileiras não tem necessidade financeira de trabalhar, e podem passar a maior parte de seu tempo na praia ou fazendo compras”.

É uma frase tão idiota que não se pode atribuir à pouca idade. Com 17 anos, Aécio trabalharia no Ministério da Justiça, ainda durante a ditadura. Então não podia ser desprovido totalmente de neurônios.

Seu pai era um agente da ditadura. Pertencia à Arena, o partido que apoiava o regime militar. Era um homem de direita, mas não devia ser burro. Deve ter dado uma educação razoável ao filho, portanto.

Na mesma entrevista, Aecinho diz que “todo mundo tem uma empregada ou duas; uma para cozinhar, outra para limpar”.

E acrescenta: “Eu nunca fiz minha própria cama.”

Ora, a minha pergunta é: Aécio não olhava as empregadas domésticas como mulheres?

A imprensa americana, mesmo a de uma cidade pequena, não é a imprensa amordaçada de Minas Gerais, que sempre blindou Aécio, mas pode ter distorcido a matéria.

Então eu gostaria que a Dilma, no debate, esclarecesse a minha dúvida.

Mesmo sendo um adversário político de Aécio, recuso-me a acreditar que ele fosse escravocrata.

Bem, o mais provável é que nem ele soubesse direito o que era.

Impressionou-me também que Aécio, mesmo tão jovem, não tivesse noção da infinita miséria social em que viviam milhões de trabalhadores brasileiros, e que não tivesse uma palavrinha contra a ditadura.

Nada. Para ele, a vida estava maravilhosa.

Aspone da ditadura aos 17 anos, intercâmbio nos States, vida boa no Rio, pegando onda. Pai rico, poderoso e agente da ditadura.

Assim era Aécio.

Assim é Aécio.

E que a imprensa não venha com a ladainha de que estamos “desconstruindo” Aécio.

Ao contrário, estamos, em pouco tempo, construindo a sua verdadeira imagem.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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