Os titios de Aécio, a irmã escrava e o tráfico de drogas


 

 

Hoje recebi a seguinte mensagem, de uma amiga, cujo nome declino. Ao final, respondo.

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Miguel,

Algumas considerações sobre a matéria que saiu hoje no Globo, 16/10, na página 7 do jornal impresso com o título “Irmã de Aécio prestou serviço voluntário ao governo de Minas”:

Quer dizer que a Andrea Neves (irmã de Aécio e toda poderosa) trabalhou no governo mineiro e não ganhou nadica de nada?! A matéria diz que ela trabalhou no Servas e prestou um serviço voluntário.

Além disso, no final do primeiro parágrafo, há a seguinte informação:”A maioria dos parentes citados por Dilma não poderia ser sido enquadrada na Súmula 13 do STF, que proíbe a nomeação de parentes até o terceiro grau em cargo da administração direta e indireta”. Veja bem, a matéria fala “maioria”. Então quer dizer que a contratação de alguns parentes se enquadra na súmula, ou seja, Aécio então praticou nepotismo em seu governo. Não seria isso? Essa informação deveria estar bem no começo da matéria e a matéria deveria apurar melhor….Será que o título não poderia ser “Aécio praticou nepotismo no governo de Minas”?

No sexto parágrafo, outro pérola do “não jornalismo”: “Duas primas de terceiro grau de Aécio também trabalharam no Servas…..Não há informação se elas eram remuneradas ou não”. Então eu te pergunto: quer dizer que o repórter não conseguiu a informação? A apuração foi incompleta? Mas o repórter conseguiu apurar que a Andrea praticou “serviço voluntário” e não conseguiu saber se as duas primas receberam? Ou o repórter apurou e a informação ficou de fora por conveniência.

Esse é o jornalismo de conveniências….o nosso “não-jornalismo” de cada dia.

Enfim, espero que isso possa te ajudar.

Uma amiga

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Pois é, amiga, se eu tivesse um blog de humor sensacionalista, poderia fazer um post com o seguinte título:

BOMBA! AÉCIO ESCRAVIZOU A IRMÃ POR 8 ANOS!

A matéria é uma piada pronta.

A repórter não ficou minimamente curiosa para saber como Andrea ganhou a vida durante todos os anos em que trabalhou como “voluntária” para o governo do irmão?

Quer dizer que ela trabalhou oito anos, na função mais estratégica do governo tucano de Minas, controlando as verbas para a comunicação, sem ganhar nada?

Conta outra!

A situação fica ainda mais ridícula se você pensar um pouco.

Nem Aécio nem a Globo parecem ter entendido a questão do nepotismo.

Não interessa se a irmã trabalhava de graça no governo.

A crítica principal que Dilma e nós fazemos a Aécio é a seguinte: essa é a sua visão de “meritocracia”? Entregar a gestão de áreas estratégias de um governo a irmãos, primos e tios?

Sobre a matéria em si, você tem razão. É um acinte à inteligência.

Vou repetir a frase que você destacou:

“A maioria dos parentes citados por Dilma não poderia ser sido enquadrada na Súmula 13 do STF, que proíbe a nomeação de parentes até o terceiro grau em cargo da administração direta e indireta”.

Como é que é?

“A maioria não se enquadra”? Então quer dizer que há uma “minoria” que se enquadra e está tudo bem?

Quer dizer que a própria Globo descobriu nepotismo no governo de Minas, um dos problemas mais graves no país, por ser o símbolo máximo do patrimonialismo, e vem falar que “a maioria” não se enquadra?

Então fale dos que se “enquadram”!

Quantos parentes, exatamente, Aécio empregou no governo?

Cadê o infográfico com o rosto de cada um deles?

A Globo fez imensos infográficos com as declarações sem prova do ladrão da Petrobrás, expondo um montão de gente, e não faz um gráfico para mostrar a parentalha do Aécio no governo dele?

Não é informação de bandido malandro e desesperado, é informação documentada!

A matéria, uma obra de arte do cinismo global, revela que vários parentes do Aécio estavam ou estão em situação ilegal.

Em alguns casos, eram empregados antes da lei do nepotismo, ou seja, era legal, mas imoral!

Quer dizer que os tucanos inventam que o PT aparelha, mas encher o governo de parente, botar a mulher do vice no TCU, aí está tudo bem?

O jornal cita um certo Tancredo Augusto Tolentino Neves, titio de Aécio, que ele nomeou diretor no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Ou seja, Aécio adora entregar chaves para os tios. Entregou a chave do aeroporto de Claudio para um, e a chave do cofre do banco público de Minas para outro.

Em seguida, o titio Tancredo foi nomeado para presidência da Companhia Mineira de Promoções (Prominas), que, segundo o Globo, é um “órgão estratégico do governo estadual que visa o desenvolvimento do turismo de negócios”.

Isso é que é meritocracia!

Para finalizar o post, lembro de um outro parente de Aécio, com o mesmo nome, Tancredo Tolentino.

Refiro-me à história do desembargador, Helcio Valentim, que Aécio nomeou e que, em conluio com Tancredo Tolentino, primo do candidato, vendia habeas corpus para traficantes de drogas.

O primo de Aécio é réu confesso. Assista ao vídeo abaixo. Um dos traficantes que o primo de Aécio ajudou foi preso após a apreensão de 160 quilos de pasta base de cocaína em Marilândia, cidadezinha situada ao lado de Cláudio, onde Aécio fez um aeroporto em terras de seu tio.

Aécio e Tancredo Tolentino, o Quedo, réu confesso.


Aliás, Claudio também tinha uma unidade de refino de pó, estourada há pouco tempo pela polícia.

Voltaremos a essa história.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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