Ibope: Dilma dispara no voto masculino

 


 

Tenho uma novidade bem instigante para contar, mas antes um preâmbulo.

O Ibope divulgou hoje a íntegra do relatório de sua última pesquisa. Vamos lá fazer nossa tradicional análise comparativa entre a última pesquisa, do dia 08 de setembro e esta mais recente, do dia 15.

Com algumas referências para a pesquisa anterior, do dia 02 de setembro.

Alguns leitores, céticos em relação ao Ibope, sobretudo depois que descobriram que a Globo é patrocinadora de quase todas as pesquisas do instituto, reclamam que eu não deveria nem analisar esses dados, para não “legitimá-los”.

Caros amigos e belas amigas, não posso agir assim.

Concordo que devemos manter o desconfiômetro ligado em intensidade máxima, porque de fato é um absurdo que ao problema da concentração midiática se some o problema da concentração de pesquisas.

Os mesmos donos da mídia bancam as pesquisas, ou, o que é muito pior, o mesmo dono da mídia – a Globo – banca “a” pesquisa.

Ibope/Datafolha, bancados pelo mesmo patrocinador, tornam-se um só. E isso é o fim da picada.

Eu posso até conceder, e por isso lhes dou atenção, que as principais pesquisas no Brasil são sérias e feitas com profissionalismo.

Mas as perguntas são escolhidas pelo patrocinador.

A data em que é divulgada é escolhida pelo patrocinador.

Com isso, a mídia controla a agenda política, e isso constitui, na doutrina democrática, uma agressão à soberania popular, pois a agenda política deveria ser livre e plural.

Numa reforma política, podia-se aprovar o aporte de recursos públicos para que órgãos mais imparciais, como as universidades, assumissem a linha de frente na produção de pesquisas no Brasil. Cada pesquisa contaria com auditoria externa e independente, inclusive internacional.

Que houvesse regras para não transferirmos o monopólio da mídia para o monopólio do mercado de pesquisas.

Que houvesse um calendário pré-definido de divulgação e perguntas sugeridas pelos diferentes campos políticos.

Enfim, regras que pudessem nos acalmar, para nos concentrarmos no debate político propriamente dito.

Enquanto isso não acontece, permitam-me continuar fazendo minhas análises. Independente de desvios em seus resultados finais, as pesquisas tem lógicas internas que nos oferecem vislumbres das entranhas da formação do voto.

Há várias eleições que analiso pesquisas de intenção de voto. É um hábito que herdei do jornalismo econômico, no qual trabalhei por muitos anos.

Há uma poesia tranquila nos números, e há sempre segredos ávidos por serem desvelados.

Por exemplo, eu descobri uma fórmula que me permite, através da pesquisa de agora, antever o resultado da próxima.

É o voto masculino.

O voto masculino antecede o voto feminino. Não sei bem porque. Pelo número de votos em branco e indecisos, maior entre elas, suponho que a mulher é um pouco mais prudente e criteriosa na escolha de seu candidato. Ela costuma demorar um pouco mais a tomar sua decisão eleitoral.

Mas a tendência é o voto geral assumir a feição do voto masculino. Não porque a mulher imite o homem. Hoje em dia, acreditaria antes no contrário, como inclusive ironiza a propaganda do Tiririca, na qual a mulher manda o marido votar no deputado.

A razão é mais prosaica. A formação do voto não segue parâmetro de gênero sexual, e sim de renda, instrução, idade e região. E em qualquer faixa de renda, instrução, idade ou região, há sempre o mesmo número de homens e mulheres. O que ditará o voto será a tendência psicossocial de um desses setores do eleitorado. E o voto masculino aponta essa tendência.

Não é de hoje que eu defendo essa teoria. Desde 2010 que venho fazendo exercícios de análise neste sentido, e comprovando-a empiricamente.

Por exemplo, no Ibope do dia 02 de setembro, Marina tinha 33% das intenções de voto, sendo 31% entre homens e 35% entre mulheres. Na pesquisa seguinte, do dia 08 do mesmo mês, a sua média de votos cai para 31%, ou seja, para o mesmo nível do voto masculino da pesquisa anterior.

Outro exemplo: Dilma tinha 37% na pesquisa Ibope feita no início de setembro, sendo 39% entre homens e 35% entre mulheres. Na pesquisa seguinte, ela marca… 39% na média geral.

E como está Marina hoje, na pesquisa feita no dia 15 de setembro? A candidata do PSB tem 30%, sendo 28% entre homens e 31% entre mulheres.

Se eu estiver certo, na próxima pesquisa Ibope, Marina terá em torno de 28%.

E Dilma? Ela tem 36% na média, sendo 39% entre homens e 34% entre mulheres.

Se eu estiver certo, na próxima pesquisa ela voltará aos 39% na média.

Considerando apenas o público masculino, que tem índices menores de indecisos, Dilma ampliou sua vantagem sobre Marina, na última pesquisa Ibope, de 8 para 11 pontos. A petista tem 39%, contra 28% de Marina, entre os votos masculinos.

Se a minha teoria estiver correta, portanto, Dilma ampliará a vantagem sobre Marina na próxima pesquisa.

Cálculo parecido se faz para o segundo turno: entre os homens, Dilma e Marina estão empatadas com 42%. A vantagem de Marina entre homens, no segundo turno, que era de 6 pontos no início do mês, caiu para 1 ponto no dia 08 e agora é zero.


Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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